domingo, 10 de março de 2013

Little Fellow, o pequeno companheiro que nada sabia sobre a CITES

A conexão entre o que aconteceu com Little Fellow no Maasai Mara e decisões tomadas na CoP 16 da CITES, ocorrendo agora em Bangcoc, DEVERIA estar clara. Essa conexão é o tema do texto publicado por Joyce Poole e Petter Granli no blog da National Geographic, "Uma Voz para os Elefantes", que reproduzimos abaixo. A economia do Quênia (através do turismo) e sua estabilidade estão intimamente ligadas ao comércio de marfim e ao futuro dos elefantes. Todos queremos e precisamos da paz: os elefantes e suas famílias também, desesperadamente. 


Little Fellow (Pequeno Companheiro) era um lindo e jovem macho. (Foto: Joyce Poole/ElephantVoices)
 
Em 22 de fevereiro, passamos algumas horas com um elefante adolescente chamado Little Fellow (Pequeno Companheiro), em uma reserva fora da Reserva Nacional de Maasai Mara, no Quênia.


Little Fellow era um macho jovem muito bonito, com presas oblíquas e lóbulos de orelha que se curvavam para fora. Estimamos que ele tivesse seus 16 anos de vida, tendo acabado de atingir a puberdade.


Mas Little Fellow não viveria muito para poder passar seus genes para a próxima geração. 


Por um período de seis semanas, foi tratado diversas vezes por um veterinário do Kenya Wildlife Service por causa de uma ferida ocasionada por uma lança. Os “bips” do detector de metais indicaram que parte da ponta de metal da lança ainda estava acomodada em sua perna da frente. 


Sua perna machucada tinha o dobro do tamanho que deveria ter. Apenas de olhar para ela, sabíamos que ele não conseguiria se recuperar, a despeito dos esforços do heroico veterinário e da vigília daqueles que vieram confortá-lo, tanto humanos quanto elefantes.
O pus transbordava pela ferida aberta. A septicemia havia se estabelecido, e a infecção se espalhava por seu corpo.


Exausto, Little Fellow descansava sua cabeça na forquilha de uma árvore para poder aliviar um pouco do peso de seu corpo, especialmente sobre sua perna frontal direita. Sua perna infeccionada estava inchando em proporções gigantescas.



Exausto, Little Fellow descansava sua cabeça na forquilha de uma árvore para poder aliviar um pouco do peso de seu corpo, especialmente sobre sua perna frontal direita. (Foto: Petter Granli/ElephantVoices).
Sua perna infeccionada estava inchando em proporções gigantescas. (Foto: Petter Granli/ElephantVoices)
Little Fellow já não podia andar. Com um esforço tremendo, podia juntar forças para dar um tipo de pulo, arrastando sua enorme perna com ele. Descansava com frequência, com sua tromba enrolada numa árvore, buscando alívio momentâneo para seu sofrimento.

Ele sabia que não poderia se deitar novamente — ele havia entendido isso quando, durante seu tratamento, precisou da ajuda de um veículo com cordas para se levantar. 


A despeito da exaustão e da agonia, Little Fellow estava lutando por sua vida com dignidade e propósito, mantendo-se próximo da água e de um bom pasto, numa área sombreada, a apenas alguns metros de distância da residência do gerente da Reserva. 


Ele não era o primeiro macho que vinha até ali para morrer, já sabíamos disso. Lekuta, um elefante maduro atingido duas vezes por flechas e tratado diversas vezes por causa de suas feridas, também tinha vindo morrer ali, pertinho da casa do gerente. Seus ossos estavam espalhados ali perto, e os excrementos de elefantes à sua volta indicavam que não havia sido esquecido. 


Na segunda-feira, 25 de Fevereiro, Little Fellow faleceu. Como Lekuta, não será esquecido pelas pessoas e pelos elefantes que cuidaram dele.



Assista: Little Fellow, jovem elefante de Maasai Mara morto por flechadas de caçadores em Fevereiro de 2013. 

A Urgência é Real

Nascido no final da década de 1990, Little Fellow entrou em um mundo que era bastante seguro para os elefantes. Mas, hoje, certamente não é. A matança corrente está ameaçando a sobrevivência da espécie e do turismo, as economias e a estabilidade em diversos países africanos.


Little Fellow nada sabia sobre a CoP 16 da CITES, o encontro que está ocorrendo agora em Bangcoc, na Tailândia. Nada sabia também sobre os muitos documentos, argumentos e palavras que os participantes e especialistas da CITES haviam dedicado aos elefantes.


CITES é a organização cuja função é assegurar que as espécies não sejam ameaçadas pelo comércio internacional. É o único instrumento que o mundo tem para estabelecer limites à exploração de espécies e decidir, com base em ações globais, quando uma delas está sob cerco cerrado.


As delegações da CITES nada sabem sobre Little Fellow. Mas sabem sobre os chocantes números de, no mínimo, 25 mil elefantes mortos anualmente, no decorrer dos últimos anos, por causa de suas presas.


Com base no que sabemos e no que escutamos, os números atuais podem ser tão elevados como 50 mil. Isso é cerca de dez por cento de todos os elefantes remanescentes na África — uma terrível e aterrorizante redução em apenas um único ano.
Acreditamos que as vendas isoladas de marfim aprovadas pela CITES para a China e o Japão contribuíram para a atual matança de elefantes, estimulando um brutal aumento da demanda por marfim. 


Podemos apenas esperar que Little Fellow não tenha morrido em vão e que, desta vez, a CITES e os países que dela fazem parte coloquem os elefantes acima do comércio e do lucro, para que seja possível reduzir essa matança.


Não estamos em Bangcoc. Mas do Quênia, estamos acompanhando de perto os confrontos da CITES nessa crise em curso. A Primeira-Ministra da Tailândia, Yingluck Shinawatra, deu o tom certo na abertura da CoP16 no domingo, 3 de Março, ao prometer proibir o comércio interno de marfim no país. Esperamos que tenha inspirado líderes de outros países também. Se uma ação similar for tomada pela China, a vida de milhares de elefantes pode ser salva.


Desejamos a todas as delegações uma conferência de sucesso, e pedimos que seja permitido que a prevaleça a ciência, e não a política, ou o comércio.

NOTÍCIAS direto da CoP16 da CITES, Bangcoc

No dia 7 de Março/2013, soubemos, através do jornalista Bryan Christy, autor da reportagem “Culto ao Marfim”, publicada na National Geographic de Out/2012, que um documento importante está circulando na convenção. 


Nele, o Presidente anterior do Comitê Permanente da CITES declara abertamente que a “experiência” de vendas isoladas de estoques de marfim apreendido “obviamente falhou” e que o comércio de marfim, incluindo todos os mercados domésticos, tem que ser proibido com urgência. Isto é exatamente o que temos argumentado junto à CITES por muitos anos. Agradecemos a Robert Hepworth pela coragem de apresentar essa honesta carta. Será que finalmente a CITES irá agir de modo conjunto e fazer seu trabalho?

Documento em circulação na CITES declara abertamente que a “experiência” de vendas isoladas de estoques de marfim apreendido “obviamente falhou” e que o comércio de marfim, incluindo todos os mercados domésticos, tem que ser proibido com urgência. (Foto: Bryan Christy)

Saiba mais: leia, no Blog do Planeta, da Revista Época, "O novo ouro branco e a extinção dos elefantes africanos", um artigo da ElephantVoices Brasil.


"O novo ouro branco e a extinção dos elefantes africanos", um artigo da ElephantVoices Brasil.
Leia o texto original da ElephantVoices no Blog da National Geographic, "Uma Voz para os Elefantes".

Junte-se à nossa campanha pelo fim do comércio de marfim, Cada Presa Custa uma Vida,  neste link.



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