terça-feira, 9 de junho de 2015

População de elefantes na Tanzânia declina 60% em cinco anos, revela censo


Publicado no The Guardian, em 2 de junho de 2015
Por: Karl Mathiesen 

Dados do governo mostram a escalada industrial da caça por marfim, com queda do número de elefantes na Tanzânia, de 109.051, em 2009, para 43.330, em 2014.


Manada de elefantes caminha sob as primeiras luzes do dia, em frente ao 
Monte Kilimanjaro, a mais alta montanha da África. Cerca de 85.000 elefantes foram 
mortos na Tanzânia nos últimos cinco anos. Fotografia: Ben Curtis/AP

A Tanzânia emergiu como epicentro da crise de caça ilegal a elefantes na África, depois que um censo do governo revelou que o país perdeu “catastróficos” 60% de seus elefantes em apenas cinco anos. 

Os resultados pressionarão um governo que tem sido duramente criticado por sua inabilidade em brecar o intenso fluxo de marfim de elefantes caçados ilegalmente em seus parques nacionais.

A população de elefantes na Tanzânia é uma das maiores do continente. Entretanto, os dados divulgados na segunda-feira passada pelo governo mostram que, entre 2009 e 2014, o número caiu de 109.051 para 43.330. Considerando a taxa de natalidade de 5%, o número de elefantes mortos é de 85.181.

O censo da Tanzânia revela um declínio de elefantes na África muito maior que aquele reportado em Moçambique nas últimas semanas (que apontou uma perda de metade dos elefantes do país para a caça ilegal, em cinco anos, de 20.000 para 10.300).

O ministro de Recursos Naturais e Turismo da Tanzânia, Lazaro Nyalandu, afirmou que a situação “não surpreende”. 

“É evidente que a população de elefantes na Tanzânia baixou a um nível nunca visto antes”, disse ele. Os guarda-parques da Tanzânia podem receber treinamento paramilitar como parte do plano de ação do governo para combater a caça ilegal, que ele identifica como “provável razão” para o declínio.

John Scanlon, secretário geral da Cites, autoridade das Nações Unidas que supervisiona o comércio de espécies ameaçadas, disse: “Esses números reforçam nossa grave preocupação com a escalada, na Tanzânia, da caça aos elefantes, para extração do marfim, e com as rotas de tráfico através de Dar es Salaam e portos vizinhos.”

Steven Broad, diretor executivo do Traffic, órgão que monitora o comércio de vida selvagem, disse: “ É incrível como a caça ilegal em tamanha escala industrial não tenha sido enfrentada ainda.” 

Segundo o Traffic, os números eram “catastróficos” mas coerentes com as observações do fluxo de marfim para fora do país. Desde 2009, pelo menos 45 toneladas chegaram ao mercado negro internacional através da Tanzânia, fazendo o país ser considerado a principal fonte de marfim proveniente da caça ilegal.

As perdas não foram uniformes e foram piores nos ecossistemas de Ruaha-Rungwa, Malagarasi- Muyovosi, e Selous-Mikume, que perderam mais de dois terços de seus elefantes. Nessas reservas, a “proporção de carcaças”, número usado para avaliar as taxas de mortes dentro de populações, indicaram que elefantes estavam morrendo quatro vezes mais do que o normal. 

Existiam mais de 34.000 elefantes em Ruaha - Rungwa em 2009. O número caiu para 20.000 em 2013 e, em 2014, para apenas 8.000. Nyalandu disse que o declínio em Ruaha - Rungwa era “alarmante”.

Carlos Drew, diretor do programa de espécies globais do WWF, disse que o desaparecimento de tantos elefantes em Ruaha - Rungwa só pode ser explicado pelo envolvimento de gangues internacionais que industrializaram a matança da megafauna africana.

“A chacina de milhares de elefantes em Ruaha - Rungwa mostra claramente o envolvimento do crime organizado internacional, incrementado pela corrupção e pela fraca aplicação das leis na Tanzânia, e a urgente necessidade de aumentar os esforços para enfrentar a epidemia de caça ilegal, antes que as manadas de elefantes remanescentes nessa área sejam destruídas”, disse ele.


Na reserva de Selous, que foi identificada anteriormente como uma área intensa de caça ilegal, os números caíram de 45.000 para 15.000. Ano passado, a Unesco incluiu o Selous como Patrimônio da Humanidade na Lista de Perigo. 

Pilha de 15 toneladas de marfim apreendido é preparada 
para ser queimada no Parque Nacional de Nairobi, 
no Quênia, em 3 de Março de 2015.

Crise de caça a elefantes não melhora, um ano após compromisso mundial. Leia mais. 

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Tradução: Ana Zinger e Junia Machado; Revisão: João Paiva, Teca Franco, Junia Machado. Edição: Junia Machado.

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