Machos mais velhos são vitais para a sobrevivência e a saúde funcional
das populações de elefantes, e tanto a caça por troféus como a caça por
marfim podem causar sérios danos por décadas.
Por: Joyce Poole, ElephantVoices (11 de fevereiro de 2008)
Mr. Nick, ou M86 (Male 86, ou Macho 86), foi assim chamado pela enorme quantidade de falhas e pequenos cortes em suas orelhas. Ele tem o que chamamos de orelhas ”serrilhadas”. De fato, suas orelhas são tão serrilhadas quanto seria possível.
Mr. Nick no Parque Nacional do Amboseli, no Quênia (© Petter Granli/ElephantVoices)
Nomeei Mr. Nick em 1976, quando ambos tínhamos 20 anos de idade - éramos jovens, nós dois. Eu já era crescida, estava ainda na universidade, e havia apenas começado a estudar machos que estavam em período de alto apetite sexual (“musth”). Ele havia deixado sua família alguns anos antes e, embora fosse maior e mais alto do que todas as fêmeas adultas, ele era insignificante, comparado aos outros machos.
Envelhecemos juntos, apesar de que Mr. Nick, aos 52, ainda estava no ápice de sua fase reprodutiva, enquanto que eu, não mais. O Parque Nacional do Amboseli é um dos poucos locais onde você ainda pode ver machos mais velhos e Mr. Nick tem tido sorte por viver tantos anos.
Elefantes machos chegam a seu ápice reprodutivo entre 45 e 50 anos de idade, mas, se são poucos os que vivem o suficiente para procriar, menos ainda são os que conseguem atingir esse ápice. A expectativa de vida de elefantes machos no Parque Amboseli é de apenas 24 anos. Se desconsiderarmos a morte causada por pessoas, sua expectativa de vida sobe para 39 anos. Você deve estar surpreso de saber que num local seguro como o Amboseli as pessoas têm tanta influência na sobrevivência dos elefantes.
Nos outros locais, o impacto na mortalidade dos elefantes é ainda maior, especialmente em áreas onde o conflito humanos-elefantes é intenso, onde há caça ilegal por marfim, ou onde a caça por troféus é permitida.
As presas de um macho de 50 anos são sete vezes mais pesadas que as de uma fêmea da mesma idade, e, assim, tanto os caçadores ilegais em busca de marfim como os caçadores por esporte os têm como alvo. Os caçadores por marfim costumavam argumentar que os elefantes mais idosos estavam “muito velhos para se reproduzir” e que, portanto, eram dispensáveis, mas meu trabalho anterior com elefantes em seu ápice reprodutivo e em acasalamentos bem sucedidos derrubaram esse argumento. E, num estudo genético recente de paternidade, mostramos que 80% dos filhotes são filhos de machos mais velhos em seu ápice de apetite sexual (“musth”).
Estudos científicos de longo prazo, como aquele levado a cabo no Amboseli, são importantes porque proveem argumentos essenciais para a conservação e a gestão de elefantes. Machos mais velhos são vitais para a sobrevivência e a saúde funcional das populações de elefantes, e tanto a caça por troféus como a caça por marfim podem causar sérios danos por décadas.
Mr. Nick no Parque Nacional do Amboseli, no Quênia (© Petter Granli/ElephantVoices)
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