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terça-feira, 18 de dezembro de 2012

Elefantes são capazes de aprender comunicação vocal

Inesperadamente, dois animais inventam sons como uma forma surpreendente de comunicação social

Existem algumas espécies de mamíferos que conseguem modificar suas vocalizações em resposta a suas experiências auditivas. Por exemplo, assim como os pássaros às vezes fazem, alguns mamíferos marinhos utilizam imitação vocal como uma forma de anúncio de que estão disponíveis para reprodução. Aqui descrevemos dois exemplos de imitação vocal feita pelo Elefante Africano de Savanna, Loxodonta africana, um mamífero terrestre que vive em uma sociedade complexa de cisão e fusão. Nossos achados favorecem um papel para a comunicação vocal que já foi previamente proposto para primatas, aves, morcegos e mamíferos marinhos: comunicação vocal é uma forma útil de comunicação acústica que ajuda a manter laços entre inidivíduos em grupos sociais em mutação. 




©ElephantVoices

No primeiro caso, gravamos imitações de som de caminhão feitas por Mlaika, uma elefanta  Africana adolescente de 10 anos que vive em um grupo de elefantes órfãos em semi-liberdade em Tsavo, no Quênia. Às vezes era possível escutar caminhões do estábulo onde Mlaika passava a noite, que ficava a 3km da auto-estrada Nairobi-Mombassa. Mlaika emitia sons parecidos com os de caminhões por várias horas depois do pôr do sol, que é o melhor horário para a transmissão de sons de baixa frequência nas savanas Africanas.

Comparações da duração e da frequência fundamental mínima e máxima mostram que as imitações de som de caminhão feitas por Mlaika são diferentes dos sons normalmente feitos por elefantes africanos adultos, adolescentes e filhotes. Os sons feitos por Mlaika não diferem significativamente dos sons feitos por caminhões de verdade. Dez amostras do conjunto de dados apropriados foram escolhidas ao acaso para comparar os sons feitos por Mlaika com os sons de caminhões. A média individual dos três parâmetros acústicos dessas chamadas também mostram que os sons feitos por Mlaika diferem de chamados normais feitos por elefantes africanos e também que são similares às gravações de sons feitos por caminhões. As chamadas parecidas com sons de caminhões feitas por Mlaika não são mais parecidas com os sons gravados em um horário do que em outros, sugerindo que Mlaika usou características gerais dos sons feitos por caminhões como modelo.

Um segundo caso de imitação feita por um elefante africano envolve o chilrear que é tipicamente produzido por elefantes asiáticos, Elephas maximus, mas não por elefantes africanos. Calimero é um elefante africano macho de 23 anos que viveu durante 18 anos com duas elefantas asiáticas no zoológico de Basel, na Suíça. O espectrograma na figura 1c mostra a típica série de chilros feita por uma das elefantas asiáticas e a figura 1d mostra o chilro similar feito por Calimero, que raramente produz outros sons. Usando a mesma análise estatística que foi aplicada no caso de Mlaika, descobrimos que os chilros de Calimero não são significativamente diferentes em duração dos chilros feitos pelas elefantas asiáticas e diferem em todos os parâmetros dos sons feitos por elefantes africanos adultos, adolescentes e filhotes. Uma escala multidimensional confirma que os sons feitos por Calimero são diferentes dos sons normais feitos por elefantes africanos e são parecidos com os chilros feitos por elefantes asiáticos. 



Fig 1. Espectogramas mostrando exemplos de modelos e imitações de sons por dois elefantes Africanos, 
Mlaika e Calimero. a, som de um caminhão à distância, gravado do estábulo de Mlaika; b, o som emitido por
Mlaika imitando o caminhão; c, chilros emitidos por elefantas Asiáticas vivendo em cativeiro com Calimero, 
e d) os chamados tipo "chilros" emitidos por Calimero. 

Fig 2. Imitações feitas por Mlaika e Calimero. As imitações de Mlaika (triângulos verdes) são
parecidas com o som de caminhões (triângulos azuis claros) e diferentes de suas vocalizações normais (triângulos amarelos), que são parecidas com os sons emitidos por outros elefantes africanos (símbolos azuis marinhos: estrelas, fêmeas adultas; diamantes, machos adultos; quadrados, filhotes fêmeas; hexágonos, filhotes machos). Calimero faz sons como chilros (círculos rosas) parecidos com os chilros das elefantas africanas que viviam com ele (círculos vermelhos). a, gráfico de frequência versus duração de dez chamados de cada tipo. b, escala multidimensional de meios para cada fonte em a, sem contar os sons tipo chilros. c, escala multidimensional de chilros próprios de nove elefantas asiáticas e os chamados tipo chilros de Calimero. Os valores representam diferentes combinações de características acústicas.


A evolução de imitação vocal em seres humanos, algumas espécies de aves, morcegos e golfinhos talvez possa ser resultado da necessidade de usar sinais acústicos para manter laços específicos com indivíduos quando os animais se separam e se reúnem. Se for assim, então o aprendizado vocal deveria ocorrer em outras espécies em que laços sociais de longa duração se baseiam em relações individuais específicas, envolvem grupos onde há constante mudança de membros e onde a comunicação vocal é usada para manter contato e para o reconhecimento do grupo e de indivíduos. Nossa descoberta de que um elefante africano da savana imita os sons feitos por elefantes asiáticos com quem ele viveu segue um padrão comum visto em espécies que são capazes de aprendizado vocal, em que sons convergem conforme os animais formam laços sociais. 

O aprendizado vocal permite um sistema de comunicação aberto e flexível, em que animais talvez possam aprender a imitar sinais que não são típicos de suas espécies, como foi demonstrado pelo elefante africano que imita caminhões. Para nosso conhecimento, essa descoberta em elefantes é o primeiro exemplo de imitação vocal em uma espécie de mamífero terrestre que não é um primata. Isso fortalece a idéia de que existe uma pressão de seleção primária para aprendizado vocal que envolve as demandas de comunicação na manutenção de relações sociais em sociedades fluídas.

Joyce H. Poole (ElephantVoices), Peter L. Tyack, Angela S. Stoeger-Horwath, Stephanie Watwood


Saiba mais sobre o aprendizado vocal dos elefantes. Leia a incrível história de Koshik, o elefante que vive em um zoo coreano e que fala como humanos.

Leia também "A Comunicação Acústica dos Elefantes". 

Link para o artigo original, "Elephants are capable of vocal learning", e outros artigos científicos da ElephantVoices.

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segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Elefante “fala” como um humano - e usa sua tromba para formar o som.

Elefante de zoológico sabe dizer “bom”, “não”, “olá” e “sente-se”, diz estudo científico. 


Shannon Fischer, para a National Geographic News
Publicado em 2 de Novembro de 2012
 


Koshik, o Elefante Asiático que sabe "falar" cinco palavras em Coreano, colocando sua tromba dentro da boca. Fotografado por Ahn Young-joon, AP

Há seis anos, um vídeo, enviado por funcionários perplexos do Everland Zoo, chegou à caixa de entrada da pesquisadora de comunicação de elefantes Joyce Poole, da ElephantVoices. A filmagem foi o primeiro olhar de cientistas sobre Koshik, o elefante que fala coreano.

“Isso é surpreendente”, escreveu Joyce na época, então subsidiada pelo Programa Conservation Trust, da National Geographic Society (a National Geographic News é parte da Sociedade). “Não consigo ver nenhuma chance disso ser uma farsa, com certeza é uma imitação de voz humana”. Ela enviou o vídeo a colegas. Alguém teria que checar o caso - poderia ser genuíno?


Seis anos depois, a confirmação finalmente chegou, através de um novo estudo liderado por um dos antigos colegas de Poole, Angela Stoeger, da Universidade de Viena. Koshik, afirma Stoeger, é definitivamente real. 


(Veja também “Baleia falante pode imitar voz humana”)


Um elefante com ouvido para idiomas


Para chegar a essa conclusão, Stoeger e seu time primeiro tiveram que verificar se os sons emitidos por Koshik eram palavras de verdade. De acordo com os tratadores do elefante, ele tinha um vocabulário de seis palavras, incluindo annyong ("olá"), aniya ("não"), anja ("sente-se"), and choah ("bom").


Então, a equipe mostrou 47 gravações das imitações a falantes nativos de Coreano que nunca tinham ouvido o elefante antes, e os instruíram a simplesmente anotar o que ouvissem. “Eles sabiam que estavam ouvindo um elefante, mas não sabiam o que supostamente deveriam ouvir”, explicou Stoeger, cujo estudo apareceu recentemente no jornal Current Biology.


Mas mesmo para os ouvidos humanos, as palavras eram prontamente compreedidas e transcritas. As vogais eram as mais fáceis de serem compreendidas, e quando um relatório contradizia o outro, as diferenças eram relacionadas a consoantes, com as quais Koshik ainda luta um pouco. 


“Não é 100%” certo, afirma Stoeger. “Mas ainda assim, se você não sabe absolutamente nada do que irá ouvir, é difícil até mesmo para entender o melhor papagaio que imita voz humana”.  


Para assegurar que não se trata de variações naturais dos chamados dos elefantes, os pesquisadores também compararam as palavras de Koshik com os sons típicos de elefantes asiáticos, e constataram que eram completamente diferentes. De qualquer modo, eram cópias exatas das entonações e frequências de seus treinadores, que os pesquisadores actreditam ser os objetos da imitações de Koshik.


O fato de que Koshik fala não é nada, comparado a como ele fala. Quando humanos fazem o som de o, eles espremem suas bochechas e pronunciam so lábios para frente, em formato circular. Os elefantes não possuem essa estrutura de bochechas e lábios - há muito tempo a trocaram por trombas. Desse modo, é anatomicamente impossível emitir esses sons.


Koshik resolve esse problema fixando a ponta de sua tromba em sua boca e movendo a parte de baixo de sua mandíbula, essencialmente, “fabricando”  uma ferramenta em seu trato vocal a partir de quase nada, como o personagem MacGyver. “Ele realmente desenvolveu um novo modo de produzir som”, afirmou Stoeger. “Naturalmente, elefantes asiáticos não fazem isso”. 


De fato, o único exemplo de comportamento animal que se aproxima da imitação que  Koshik faz com ajuda de uma ferramenta é o dos orangotangos, que adaptam a frequência de suas vocalizações com suas mãos ou com folhas.


“É realmente fascinante. Estou maravilhada. E entusiasmada”, afirmou Caitin O’Connell-Rodwell, uma especialista em comunicação dos elefantes da Universidade de Stanford que não estava envolvida no estudo.


A primeira evidência de que os elefantes podiam até mesmo fazer imitações vocais surgiu em 2005, e mostrou elefantes africanos imitando caminhões e barulhos de outras espécies de elefantes, ela disse. “Isso foi um começo”, O’Connel-Rodwell afirmou. “Mas agora trata-se de imitação entre espécies e a criação de uma vocalização muito mais difícil de ser emitida”. 


(Veja “Orca imita leão marinho, revelam gravações”)


O Elefante na Sala de Estar


Imitações vocais no reino animal são raridade, e imitações de falas humanas é algo ainda mais raro. Papagaios podem fazer isso, assim como pode uma foca chamada Hoover e uma beluga no Zoo de San Diego.


Pesquisadores acreditam que essa façanha exija não apenas os instrumentos vocais apropriados - ou uma engenhosa improvisação com a tromba -, mas também uma sociabilização com pessoas. Hoover, por exemplo, foi educada por um pescador, e a beluga teve seus treinadores.


Koshik começou suas imitações - ou pelo menos seus treinadores começaram a perceber suas imitações - quando tinha 14 anos de idade, depois de passar a maior parte de sua adolescência isolado de outros elefantes.


“Elefantes são animais altamente complexos, sociais e inteligentes, com personalidades individuais”, afirmou Joyce Poole, da ElephantVoices.  


“Eles são capazes de produzir uma incrível variedade de sons, em uma ampla gama de contextos”, afirma ainda Poole, que não esteve envolvida na recente pesquisa.


“Podemos nos questionar: Dada a extraordinária complexidade social e flexibilidade demonstrada, suas capacidades cognitivas significativas e suas capacidades físicas, por que deveríamos nos surpreender com o fato de imitarem sons de seu ambiente?


Leia aqui o artigo original, publicado na National Geographic.

Leia também: "A Comunicação Tátil dos Elefantes"

Saiba mais sobre a comunicação dos elefantes.