sábado, 19 de maio de 2012

Santuário para Elefantes - Princípios Gerais

Dentro do espírito do “The Elephant Charter”  - a carta magna dos elefantes - e partindo do reconhecimento global sobre a necessidade da criação de santuários para elefantes, a ElephantVoices desenvolveu um curto documento, Santuário para Elefantes - Princípios Geraisno qual descreve sua perspectiva sobre um “santuário” para elefantes e os princípios gerais em que esse santuário deve se basear.

Introdução

Elefantes têm sido mantidos em cativeiro para vários propósitos por milhares de anos. Eles são vistos por muitos como recursos naturais a serem explorados pelos seres humanos para satisfazer suas necessidades. Elefantes são colocados para trabalhar em atividades florestais, instituições religiosas, turismo, circos e zoológicos e são objeto de programas de reprodução em cativeiro.

Apesar do fato de elefantes serem altamente adaptáveis a uma enorme gama de condições na natureza, eles não se adaptam ao cativeiro. Existem hoje evidências suficientes de que, em cativeiro, elefantes sofrem de enfermidades físicas e mentais, que frequentemente levam à morte prematura. Pesquisas sobre aspectos biológicos dos elefantes na natureza revelaram a verdadeira gama de capacidades dos elefantes e as condições normais, físicas e sociais em que os elefantes se desenvolvem. Essas condições são raramente, ou nunca, atendidas nas tradicionais formas de cativeiro. Enquanto que o bem-estar animal está claramente configurado nos termos das “5 Liberdades” (1), para elefantes em cativeiro duas delas –   liberdade para expressar comportamento normal e liberdade do medo e do sofrimento – são particularmente problemáticas.

Um macho de Maasai Mara, Quênia, brinca na água -
 m0167 no banco de dados Mara Elephants Who's Who
(©Marcus Westberg)

A incapacidade de atender aos interesses físicos, sociais e cognitivos dos elefantes em cativeiro é evidente. Essa situação gera desafios: Como resolver da melhor forma as necessidades dos elefantes que já sofreram danos ou que correm um risco significativo de sofrerem – devido às condições tradicionais de cativeiro –, mas que precisam, necessariamente, ficar nesse ambiente, permanentemente ou por um determinado período de tempo? Como definir e gerenciar da melhor maneira um “santuário” – locais verdadeiramente seguros de refúgio e conforto – para elefantes vindos de uma outra forma de cativeiro, ou da natureza, como órfãos?

O Objetivo deste Documento

A ElephantVoices busca promover a proteção e o tratamento adequado dos elefantes, onde quer que eles estejam. Um dos principais objetivos do trabalho de bem-estar da ElephantVoices é prover uma orientação para qualquer pessoa que precise atender aos interesses dos elefantes.

A ElephantVoices está constantemente engajada com pessoas e organizações que desejam resgatar e criar santuários para elefantes, já que isso está relacionado à nossa missão e aos princípios da carta magna dos elefantes, o “The Elephant Charter”, do qual somos autores e signatários.

Duas instituições nos Estados Unidos foram pioneiras na concepção de santuários para elefantes cativos. Elas têm procurado criar condições para que cada indivíduo possa recuperar uma vida mais natural em cativeiro, até o limite da capacidade de cada um, o que depende de seu histórico. Além disso, há algumas instituições, em países em que há elefantes nativos, que oferecem refúgio para os que sofrem os efeitos de um longo cativeiro. Outras criam elefantes órfãos, com o objetivo de reintroduzi-los na natureza. De modo genérico, entretanto, o conceito de santuário para elefantes cativos está apenas começando a ser explorado em contextos realmente livres de imposições tradicionais e culturais.

A palavra “santuário” é usada em uma variedade de contextos para uma série de objetivos: pode referir-se a pequenos abrigos de animais, zoológicos, centros ou parques de animais e a habitats ou refúgios naturais relativamente protegidos de distúrbios. O objetivo deste documento é fornecer uma visão da ElephantVoices sobre o que deveria significar um santuário de elefantes. Para fazer isso, consideramos os comentários de muitos que estão engajados ou que têm como objetivo um santuário de elefantes. Pretendemos atingir todos aqueles interessados em ideias sobre como criar um santuário para elefantes cativos, mas, particularmente, aqueles que estão prestes a iniciar ou ajudar no desenvolvimento de um santuário para esses animais. Desse modo, focamos nos princípios globais que acreditamos serem apropriados para qualquer unidade ou organização que pretenda abrigar elefantes sob o nome de “santuário”.

Este documento NÃO apoia o cativeiro de elefantes NEM tampouco tem a intenção de ser um guia universal para o gerenciamento de elefantes em cativeiro. Deliberadamente, evitamos descrever em detalhes como as instalações de um santuário devem ser projetadas e gerenciadas. Em vez  disso, equacionamos o que acreditamos serem os princípios apropriados para qualquer um comprometido com esse trabalho.

Em alinhamento com a estrutura científica da carta magna dos elefantes, o "The Elephant Charter", apresentamos aqui uma definição de santuário de elefantes que:
  • reconhece e reflete o trabalho pioneiro dos santuários de elefantes existentes;
  • estabelece princípios para guiar o desenvolvimento de novos santuários de elefantes, onde quer que eles estejam. 

Definindo um Santuário

A ElephantVoices sustenta que o conceito de prover um santuário para elefantes envolve, antes de tudo, um entendimento profundo e uma aceitação das capacidades e das necessidades físicas, comportamentais e psicológicas dos elefantes. O segredo para se prover um santuário é sempre buscar identificar e atender às necessidades dos elefantes enquanto indivíduos. Isso se refere tanto a uma abordagem de princípios para um engajamento com elefantes individuais como ao projeto e à localização das instalações.

A visão da ElephantVoices de um santuário para elefantes é a de uma instalação segura e confortável, onde um elefante cativo possa expressar seu natural comportamento físico, social e cognitivo, do modo mais completo possível.

Acreditamos que a missão de qualquer santuário de elefantes deveria ser promover e ajudar na reabilitação de elefantes em cativeiro, propiciando ambientes que reproduzam a natureza, vida social e programas de cuidados dirigidos a cada elefante. O foco principal é o bem-estar físico e psicológico dos elefantes como indivíduos, tanto a curto como a longo prazo.

Elefantes asiáticos no Minneriya National Park, Sri Lanka
(©ElephantVoices)

A ElephantVoices identificou os objetivos aos quais, acreditamos, qualquer santuário deve atender, em termos de resultados quanto ao bem-estar de cada elefante cuidado, levando em conta que as necessidades dos elefantes variam com o decorrer do tempo e de acordo com seu histórico individual. Esses objetivos nos capacitam a criar os Princípios para o Programa para a operação de santuários de elefantes e, sequencialmente, nos permitem definir conclusões sobre os Aspectos Físicos – ambiente e instalações – que os santuários devem prover.

Objetivos dos Santuários para Elefantes

A ElephantVoices sustenta que o principal objetivo de qualquer santuário de elefantes é fornecer:
  • uma filosofia de gestão, procedimentos operacionais e layout das instalações baseada nos interesses físicos, sociais e cognitivos dos elefantes, como documentado por pareceres científicos e apresentado na carta magna dos elefantes, o “The Elephant Charter”;
  • um lugar de refúgio que busque restaurar e/ou manter a saúde e o bem-estar de cada um dos elefantes cativos;
  • cuidado positivo e flexível que vise reconhecer, entender e explicar plenamente a história de cada um dos elefantes e suas necessidades individuais;
  • ambientes e recursos nos quais os elefantes sejam ajudados a alcançar seu potencial total para levar uma vida natural, seguindo um ritmo também natural;
  • foco principal no desenvolvimento e manutenção de interações sociais positivas entre os elefantes ao longo do tempo;
  • práticas de trabalho seguras, satisfatórias e protegidas para os tratadores, seguindo, contudo, o ritmo das necessidades dos elefantes, considerando-se um ciclo de 24 horas;
  • recursos que permitam a introdução de novos elefantes aos demais, manutenção contínua (24 horas) de laços sociais e a separação cuidadosa e o isolamento de indivíduos quando necessário para seu bem-estar.

Os elefantes Erin, Enid e Echo mantêm uma discussão
através de roncos, no Parque Nacional do Amboseli, Quênia
(©ElephantVoices)

Os Princípios para um Santuário de Elefantes

A ElephantVoices sustenta que os santuários para elefantes devem:

  • ter uma declaração específica da missão que incorpore objetivos de bem-estar;
  • receber elefantes cativos ou órfãos selvagens resgatados, que possam precisar de cuidados de cativeiro para o resto de suas vidas ou que possam retornar à vida selvagem em lugar e tempo apropriados;
  • avaliar as necessidades individuais de cada elefante e antecipar como as mesmas mudam ao longo do tempo;
  • desenvolver um programa flexível de gerenciamento para cada elefante que leve em consideração sua história particular, desde o período anterior à sua transferência para o santuário até sua liberação na natureza ou sua morte;
  • procurar estabelecer uma vida social natural para cada elefante, que construa, reforce e mantenha a competência social, a confiança e a resiliência;
  • assegurar que todas as interações entre homens e elefantes sejam designadas para reforçar positivamente cada elefante nos passos que o levem em direção a uma vida natural;
  • oferecer um programa de cuidados ininterrupto (24 horas) para todos os elefantes;
  • prestar cuidados de saúde apropriados, com uma visão holística da saúde e do bem-estar do elefante, abordando os problemas subjacentes e não os sintomas;
  • contratar tratadores sensíveis às necessidades dos animais e garantir que programas de treinamento sobre cuidados e comportamento de elefantes estejam de acordo com o melhor interesse dos mesmos;
  • apoiar a saúde e o bem-estar dos funcionários e suas famílias e reconhecer a sua dedicação e serviço;
  • implementar boas práticas, incluindo as práticas de resposta de emergência e práticas que garantam a segurança dos elefantes e dos humanos;
  • desenvolver um plano de negócios para apoiar a sustentabilidade financeira e ecológica de todas as operações do santuário;
  • usar sistemas legais e profissionalmente reconhecidos, de gerenciamento de recursos ambientais, financeiros e humanos;
  • utilizar sistemas de controle legalmente estabelecidos.

Aspectos Físicos de um Santuário para Elefantes

 A ElephantVoices sustenta que um Santuário para Elefantes:

  • é uma instalação projetada para atender às necessidades individuais dos elefantes em cativeiro ao longo do tempo;
  • é uma instalação protegida por uma forte barreira, adequadamente construída, que evita a entrada de pessoas e animais indesejados e a saída dos elefantes, garantindo a segurança e o conforto tanto dos elefantes quanto das pessoas;
  • está localizada em um clima em que elefantes podem ficar confortáveis em áreas externas no decorrer do ano, exceto em um evento climático extremo;
  • abrange áreas de paisagem variada que simula o habitat natural do elefante em termos de topografia e vegetação;
  • abrange áreas apropriadamente variadas que garantam a saúde dos elefantes, com estimulação física e mental durante um ciclo de 24 horas, de acordo com o ritmo natural indicado pela biologia do elefante selvagem;
  • abrange uma área suficiente, que permita que um elefante saudável obtenha níveis apropriados de exercício físico na busca por alimento, água e atividades sociais, através de um ciclo de 24 horas, sem mediação humana direta;
  • abrange um habitat suficiente, que permita ao elefante obter a maioria de sua ingestão nutricional através da busca natural por alimentos;
  • fornece uma escolha de abrigo aos elefantes, desde o caso de eventos climáticos extremos até variações normais do tempo;
  • garante instalações para indivíduos e grupos de elefantes que permitam a segura introdução de indivíduos a outros e também ao grupo; a segura introdução de um grupo a outro, o fornecimento de tratamento médico e o isolamento de indivíduos e grupos para fins de quarentena;
  • inclui segurança, proteção, espaços confortáveis, instalações e equipamentos para os tratadores alimentarem, darem água e proverem tratamento médico e treinamento específico focado no elefante que possam ser necessários para ajudar em sua reabilitação;
  • inclui instalações seguras para o armazenamento de suplemento alimentar para elefantes e equipamento de manutenção;
  • inclui instalações seguras para gerenciamento de registro dos animais e outras funções administrativas associadas à operação do santuário;
  • inclui provisão de acesso para veículos pesados em pontos específicos, para objetivos específicos;
  • faz as provisões adequadas para receber convidados secundários que precisem atender a alguma necessidade dos elefantes, evitando todos os potenciais conflitos entre o bem-estar do elefante e a segurança do visitante. 

Elefantes mais jovens cumprimentam a matriarca Grace, 
respondendo a seu chamado,
no Parque Nacional do Amboseli, Quênia
(©ElephantVoices)


Obs (1): Estas cinco liberdades foram inicialmente formuladas pelo Conselho de Bem-Estar dos Animais de Fazendas, uma organização estabelecida pelo governo do Reino Unido, em resposta ao Ato de Agricultura (disposições variadas) de 1968:
  • Liberdade da fome e da sede – com acesso imediato a água fresca e a uma dieta adequada para manter sua saúde e seu vigor.
  • Liberdade do desconforto – através do oferecimento de um ambiente adequado, incluindo um abrigo e uma área confortável de descanso.
  • Liberdade da dor, de ferimentos e de enfermidades – através da prevenção e rápido diagnóstico e tratamento.
  • Liberdade do medo e do sofrimento – assegurando-se condições e tratamentos que evitem sofrimento mental.
  • Liberdade para expressar comportamento normal – oferecendo-se espaço suficiente, instalações adequadas e companhia de outros animais da mesma espécie.










terça-feira, 15 de maio de 2012

A natureza numa caixa: o retrato dos animais de zoológico na literatura canadense

Brilhante artigo escrito por nosso colega indiano Shubhobroto Ghosh, no qual ele aborda a vida nos zoos, a literatura canadense sobre o assunto e a verdadeira essência da necessidade da transferência das elefantas Iringa, Toka e Thika do Zoo de Toronto para o Santuário PAWS, na Califórnia. A transferência das elefantas foi aprovada pela Câmara Municipal de Toronto e estava prevista para abril deste ano, mas questões levantadas pelo zoo, que ainda estão em discussão, fizeram com que uma nova data fosse planejada para o final de junho. Esperamos que Iringa, Toka e Thika possam, finalmente, desfrutar de uma vida na natureza, como merecem.
 
 

Por: Shubhobroto Ghosh

Recentemente, tenho sido bombardeado por mensagens a respeito da transferência dos elefantes do zoo de Toronto para o Santuário PAWS (Performing Animal Welfare Society), na Califórnia – Estados Unidos – e tenho me lembrado constantemente de uma declaração da poeta canadense Margaret Atwood: “A natureza representa, para os zoológicos, o que Deus representa para as Igrejas”. Uma comparação intrigante, mas, dado o estado da maioria dos zoológicos no mundo todo, e certamente no Canadá, seria mais apropriado dizer: “A estética nos zoológicos é similar à pornografia na arte”. Há tantos livros escritos sobre zoos, especialmente no Ocidente, que as pessoas têm inúmeras opções de escolha quando consideram esse tema. Se as visitas de crianças aos zoos têm o objetivo de ajudar as pessoas a medir a verdadeira beleza e o valor da natureza, então essas instituições estão muito aquém de seus objetivos.

Tradicionalmente, no Canadá ou em qualquer outro país, uma visita ao zoológico tem como objetivo ser um exercício de reconexão com a natureza para cidadãos que perderam totalmente o contato com animais e plantas. E, como qualquer outra instituição, os zoos estão retratados na literatura em todos os países, incluindo o Canadá. Meu colega Rob Laidlaw, diretor da Zoocheck Canada, escreveu um livro para crianças que questiona a ética e os objetivos dos zoos convencionais. Como uma organização sediada em Toronto, que monitora zoos nos Estados Unidos e no Canadá, está em uma posição privilegiada para comentar o assunto. O livro de Rob, como um volume de não ficção, desvenda os mitos que envolvem os zoológicos, pelo menos os tradicionais, que armazenam a maior quantidade possível de animais.

Um escritor canadense chamado Yann Martel ganhou o Booker Prize em 2002 escrevendo um romance sobre uma estadia em um zoo, chamado “A Vida de Pi”. O livro narra as aventuras de um menino chamado Pi Patel, que faz uma viagem com animais de um zoológico e vira náufrago com um tigre. O enredo é de romance, os personagens, tanto o humano quanto o animal, são encantadores, e percebi que a experiência de Yann Martel foi baseada no Zoo Trivandrum, na Índia. Lendo os trabalhos literários desses três canadenses e também os trabalhos científicos mais conhecidos de David Suzuki, penso que a perspectiva canadense sobre zoológicos é, na verdade, uma exibição do pleno retrato dos animais em cativeiro.

O zoo moderno é, por princípio, um produto do colonialismo, e o primeiro exemplar dessa instituição (zoo) foi inaugurado em Londres, em 1826 (o zoo de Viena teve início antes, mas, como a Grã-Bretanha era um império mundial naquela época, decidiu-se que o zoo do Regent’s Park fosse o primeiro zoo moderno da História). A ideia de ver animais exóticos em um cenário de cativeiro era atrativa para o público ocidental e, até hoje, ainda temos resquícios daquela curiosidade de antigamente. Um exemplo trágico e totalmente equivocado de curiosidade humana foi a exposição de Ota Benga, um pigmeu congolês que foi colocado no Zoo do Bronx, em Nova York, em 1901. Ota Benga ficou em exposição junto com os grandes símios, mas a exibição foi interrompida depois que alguns líderes religiosos fizeram objeção a ela, afirmando ser antiética. Muitos artigos foram escritos sobre essa vergonhosa exposição do preconceito humano, e um livro foi totalmente dedicado a esse triste episódio, intitulado “Ota Benga: O Pigmeu no Zoo”, escrito por Phillips Verner Bradford e Harvey Blume e publicado pela St. Martin’s Press, em 1992. Ele não era o único, pois registros europeus daquela época falam sobre a exibição de tribos indígenas não europeias, vindas do mundo todo, na Europa e na América do Norte, como objeto de curiosidade.

Animais de zoológicos retratados na literatura, como nos poemas de Margareth Atwood, representam uma dicotomia do relacionamento do homem com a natureza. Com base em observações feitas no Zoo de Toronto, os animais de Margareth Atwood representam uma ampla variedade de tipos de animais. Como críticos literários, Kathryn Van Spanckeren e Jan Garden Castro declararam que suas observações sobre os animais do zoo representam um retrato da vida em diferentes níveis de existência e destacam a vulnerabilidade de todas as coisas mortais. Sua descrição dos animais do zoo também chama a atenção para a interdependência entre o ser humano e os outros animais.

Enquanto Atwood e Martel, no Canadá, optaram por analisar os animais de zoos na ficção, Laidlaw e Suzuki o fizeram na não ficção. A verdade é ainda mais incrível que a ficção, costuma-se dizer, e assim como qualquer outra literatura tradicional no mundo, a tradição na literatura canadense sobre animais em zoos se aplica a ambos os sexos. O livro de Laidlaw, “Animais Selvagens em Cativeiro”, concentra-se na educação de crianças e jovens, frequentadores de zoológicos e potenciais frequentadores. Qualquer canadense amante da vida selvagem ficaria impressionado com a natureza do atual debate do Zoo de Toronto sobre seus elefantes. A falta de disposição do mesmo para deixar seus paquidermes irem embora é, infelizmente, totalmente característica da irracionalidade que a comunidade de zoológicos exibe em todos os lugares.


 Toka, uma dos três elefantas remanescentes do zoo de Toronto
(Foto: Sandy Nicholson, publicada no artigo
"What the Elephants Know", de Nicholas Hune-Brown)


É importante notar que a análise canadense dos zoológicos na literatura, tanto de ficção como de não ficção, tem tido impacto internacional. Tanto Atwood como Martel são muito conhecidos no mundo de língua inglesa. O livro de Laidlaw foi muito bem recebido na Índia, e os trabalhos de David Suzuki servem como referências úteis para qualquer amante da natureza no mundo todo.

Em um contexto mais amplo, esses trabalhos canadenses também encontraram eco nos trabalhos de Farley Mowat, um dos autores de história natural mais lidos do Canadá. Todos esses escritores têm redigido suas reflexões sobre os animais e a natureza  conforme sua imaginação e suas observações são requeridas ou sejam adequadas a eles. Fazendo isso, eles têm levado muita gente a pensar sobre a tênue relação da humanidade com o mundo natural. Os caçadores canadenses aparecem nas manchetes internacionais todos os anos durante a caça anual às focas. Seriam os canadenses e a comunidade internacional mais ou menos afetados ao lerem esses autores enquanto testemunham essa matança? Não há uma resposta clara, pois não se pode afirmar com segurança se há exclusividade nos escritos de Atwood ou Martel sob uma perspectiva canadense. Mas, pelo menos em uma ocasião, a tradição na literatura de não ficção canadense cruzou fronteiras. A literatura de história natural canadense me ajudou a refinar minhas impressões sobre a Índia no que tange à conservação e me ajudou diretamente no meu projeto sobre zoos. Isso deixaria felizes Atwood, Martel, Laidlaw, Suzuki, Mowat e seus admiradores canadenses.


Link para o artigo original.

Shubhobroto Ghosh conduziu uma investigação sobre os Zoos Indianos, com o apoio direto da Zoocheck Canada. Ele trabalha numa ONG de conservação na India e é um ávido leitor de história natural.