600 soldados e um helicóptero das forças de elite Bataillon d´intervention rapide
(BIR – Batalhão de Intervenção Rápida) foram mobilizados para impedir que os caçadores entrem em seu território para matar elefantes e retirar seu marfim.
© WWF-CARPO
© WWF-CARPO
Parque Nacional de Bouba N’Djida, norte de Camarões – A cinquenta quilômetros da fronteira com o Chade, na região norte do Parque Nacional de Bouba N’Djida, em Camarões, o general Martin Tumenta não mede as palavras ao se dirigir à mídia:
“Nós não estamos lidando com caçadores ilegais comuns”, disse ele para um grupo de repórteres nacionais e internacionais.
“Eles estão fortemente armados, com metralhadoras e rifles automáticos... Eles usam uniformes, são organizados e estão atrás dos nossos elefantes.”
“Nós estamos lidando com um exército – batalhões, pelotões – que não hesita em cruzar nossas fronteiras para roubar nosso patrimônio natural.”
“Meu dever é preservar a integridade territorial e a biodiversidade do nosso país”, disse o general, que lidera as operações militares no norte do país, ao anunciar, no fim de semana, a decisão de Camarões de mobilizar 600 soldados e um helicóptero do seu Batalhão de Elite de Rápida Intervenção para impedir que caçadores ilegais entrem em seu território para matar elefantes, em busca do marfim.
A ação foi uma resposta ao incidente ocorrido no começo do ano passado, quando caçadores ilegais sudaneses viajaram mais de 1.000 quilômetros a cavalo, do norte do Sudão e através da República Centro-Africana e do Chade, para matar mais de 300 elefantes no Parque Nacional de Bouba N’Djida.
Fontes do WWF disseram que vários grupos de caçadores ilegais resolveram começar suas ações mais cedo este ano, aproveitando a época das chuvas, quando uma maior cobertura do terreno está disponível, e para usar o elemento surpresa contra os guardas florestais, ao chegarem mais cedo do que o esperado.
A resposta militar de Camarões foi imediatamente aplaudida por Jim Leape, diretor-geral do WWF International, que chamou a ação de “audaciosa e corajosa, criando, com ela, um novo padrão para outros países na linha de frente contra a caça e o tráfico da vida selvagem”.
“O WWF gostaria de parabenizar o presidente de Camarões pela decisão de dispor das Forças Especiais para proteger áreas vulneráveis, pessoas e elefantes contra gangues estrangeiras altamente armadas de caça ilegal.”
“Esse incidente (em Bouba N’Djida, no começo do ano passado) sublinha o fato de que a caça ilegal e o tráfico de vida selvagem se tornou uma questão de segurança nacional, com sérias consequências econômicas e sociais para o país”, declarou ele.
A matança de elefantes africanos por causa do marfim tem uma longa história. Entre 1970 e 1989, metade dos elefantes africanos – talvez 700.000 indivíduos – foi morta em decorrência do mercado ilegal de marfim.
Mais recentemente, a caça ilegal de elefantes e o mercado ilegal relacionado a ela foram responsáveis pelo extermínio de metade dos elefantes remanescentes da África Central, entre 1995 e 2007. E, desde então, o grau de matança de elefantes subiu vertiginosamente.
A raiz do problema é uma demanda estratosférica por marfim, consequência do aumento de renda na Ásia, além de atitudes culturais relacionadas a esse bem. O marfim, que costumava ser vendido por US$ 10 o quilo há cinco anos, em vilarejos de países da bacia do Congo, é agora vendido por US$ 300. Com uma média de 6,8kg por presa, um elefante pode representar um incremento na renda média para muitas pessoas, na África Central.
O aumento em grande escala de apreensões de marfim africano na África e, mais ainda, na Ásia, é evidência do crescente envolvimento do crime organizado no mercado ilegal da vida selvagem. Essa atividade tem se tornado um crime transnacional organizado, de significativa violência, e está desestabilizando sociedades e pondo em risco as reputações de países africanos como lugares de investimentos e negócios.
Se nada for feito a respeito do crime contra a vida selvagem, os esforços para combater outros mercados ilícitos, como o tráfico de armas e drogas, serão minados e isso facilitará o crescimento do crime organizado e dará combustível a conflitos regionais.
A operação chamada “Paz em Bouba N’Djida” cobrirá uma área de 12.000 quilômetros quadrados, incluindo o parque e seus arredores, de aproximadamente 200.000 hectares, e que é patrulhado por brigadas antiterrorismo do Batalhão de Elite de Rápida Intervenção. Todas as atividades têm o objetivo de apoiar os 60 ecoguardas que atuam na região e não têm capacidade para enfrentar essa ameaça, segundo Tumenta.
Desde que a operação começou, há um mês, “não houve sinais de caçadores ilegais”, disse ele, informando ainda que o Batalhão de Elite de Rápida Intervenção ficará na área até os caçadores desistirem.
“Essas forças serão permanentes – digo e repito, permanentes – nesse território.”
“Eu sugiro aos caçadores que, devido à quantidade de recursos à nossa disposição, não ponham os pés neste país”, conclui Tumenta.
“Vamos esperar que a atitude de Camarões em relação a essa última ameaça seja suficiente para dissuadir as gangues de caçadores ilegais a invadir o seu território”, disse Leape.
O WWF está em campanha para uma maior proteção a espécies ameaçadas, como rinocerontes, tigres e elefantes. Para salvar animais ameaçados, os países onde vivem esses animais precisam envidar esforços para o cumprimento da lei e aperfeiçoar os controles aduaneiros e sistemas judiciais. O WWF também está pedindo aos governos dos países consumidores para tomarem medidas a fim de diminuir a demanda, de modo a reduzir o uso de produtos provenientes de animais ameaçados.
Membros das forças de elite de Camarões patrulha suas fronteiras
para assegurar que caçadores não entrem em seu território para matar elefantes.
© WWF-CARPO
© WWF-CARPO
Leia aqui o texto original.
Curta e compartilhe a página da ElephantVoices Brasil no Facebook.