quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Iringa, Toka e Thika, os elefantes do Zoo de Toronto, devem ir para o Santuário PAWS, na Califórnia, decide - novamente - a Câmara Municipal de Toronto

O Zoo de Toronto ainda discorda da decisão, mas afirma que cumprirá a determinação, que tem grande apoio popular. A Câmara decretou ainda que a mudança seja feita o quanto antes. O rigoroso inverno canadense se aproxima e Iringa, Toka e Thika têm a chance de passá-lo, finalmente, num local de clima ameno, numa área grande e arborizada, de relevo variado, onde poderão caminhar por longas distâncias e tomar banhos em lagoas naturais. E, ainda por cima, poderão se comunicar com outros elefantes!

Há um ano, a Câmara Municipal de Toronto votou pelo envio dos três idosos elefantes africanos que vivem no Zoo de Toronto para o Santuário PAWS, na Califórnia, para que passassem os últimos anos de suas vidas na companhia de outros elefantes, em um espaço muito amplo (com lagos naturais, árvores, colinas, pastos), com múltiplas áreas externas e instalações de última geração para cuidado e tratamento veterinário. 

A decisão teve apoio de cientistas, especialistas em elefantes do mundo todo, do público e de Colleen Kinzley, Curadora Geral do Zoo de Oakland, também na Califórnia, que escreveu uma carta ao Zoo de Toronto em apoio à decisão da Câmara. Segundo ela, as instalações do Santuário PAWS e sua administração são excepcionais e excedem amplamente a maioria, se não todos, os zoológicos filiados à AZA (Associação de Zoos e Aquários).

O Zoo de Toronto, no entanto, postergou o envio de Iringa, Toka e Thika durante esse tempo todo, alegando, cada vez, um motivo diferente, com o intuito de convencer os conselheiros a reverterem sua decisão e decidirem pelo envio dos elefantes para algum zoológico credenciado pela AZA. 

Nesse período, diversos documentos a favor do envio dos elefantes para o santuário foram enviados por cientistas e especialistas aos conselheiros da Câmara (que também recebeu uma petição pública com mais de 30.000 assinaturas) e à direção do Zoo de Toronto. Por sua vez, o Zoo informou à Câmara e ao Comitê Executivo de Toronto que havia casos de tuberculose entre os elefantes residentes (e ex-residentes) do santuário e preparou documentos a respeito para convencer os conselheiros a reverter sua decisão, em uma nova votação. 

Ontem, a Câmara Municipal de Toronto se reuniu em uma sessão para analisar novamente o assunto, com base nos documentos apresentados. Por 32-8, decidiu-se que Iringa, Toka e Thika devem ser enviadas, o quanto antes, ao Santuário PAWS.

Mais um rigoroso inverno canadense bate à porta do zoo, onde morreram diversos elefantes nos últimos anos. Esperamos que o bom senso prevaleça e que o Zoo não encontre mais desculpas para adiar a tão esperada viagem de Iringa, Toka e Thika rumo à California. 

No Santuário PAWS, com outros de sua espécie, finalmente Iringa, Toka e Thika poderão ser elefantes.

Leia, abaixo, a tradução do artigo de Paul Moloney, publicado no "The Star", com opiniões de ambos os lados desse debate.


Câmara Municipal de Toronto vota pelo envio dos elefantes do zoo para a California - novamente

Paul Moloney, "The Star"

Um dos elefantes do Zoo de Toronto vagueia próximo a uma caixa de transporte colocada
em seu recinto para que os animais se acostumem com ela. Um ano após a tomada de decisão
pelo envio dos últimos três elefantes do Zoo para a Califórnia, apenas para enfrentar forte oposição 
da equipe do Zoo, a decisão original foi reafirmada (© Rene Johnston / Arquivo de Fotos do The Star)

Após um ano de disputas políticas e oposição por parte da equipe do Zoo de Toronto, a Câmara Municipal reafirmou sua decisão de enviar os três elefantes idosos do Zoo para o Santuário PAWS, na California.

A diretoria do Zoo, que se opunha à transferência, indicou que irá cumprir o decreto da Câmara, após a votação de 32-8.
“Acho frustrante, mas temos que aceitar a decisão da Câmara e seguir em frente”, afirmou John Tracogna, presidente do Zoo.

“A Câmara teve o benefício de receber muitas informações durante o último ano. Ainda acha que o santuário é o melhor lugar, e a diretoria do zoo está agora preparado para aceitar isso”, afirmou ele.

“Também ocorreu um debate público sobre esse assunto, então temos uma orientação e vamos seguir em frente”.

A equipe do zoo desaprovou veementemente a decisão da Câmara em Outubro de 2011, em parte devido ao fato do Santuário PAWS não ter uma certificação da AZA (Associação de Zoológicos e Aquários), e também devido a preocupações sobre doenças no Santuário de San Andreas, na Califórnia. Ao invés, a equipe esperava enviar os elefantes para um novo santuário certificado pela AZA, que está sendo construído na Flórida.

“Havia preocupação sobre tuberculose no local”, afirmou Tracogna. “Porém a Câmara escutou tudo isso e tomou sua decisão, por isso, temos que respeitá-la”.

“Tivemos um debate público. A informação foi amplamente divulgada. A Câmara tomou sua decisão”.

Ele apontou para o fato de que há questões logísticas a serem enfrentadas, e salientou que o Santuário PAWS deve apresentar um plano aceitável para transportar os elefantes de avião para o oeste.

“Uma boa parte disso é ter um bom plano de transporte que os mova de maneira segura”, disse ainda Tracogna, acrescentando que acredita que Bob Baker, apresentador de TV aposentado e defensor dos animais que se ofereceu para custear o vôo, ainda fará isso. 

“Basicamente, precisamos de um plano seguro de transporte por parte do Santuário PAWS e que esteja de acordo com todos os requerimentos para levar três elefantes por essa distância toda. Além disso, precisamos das devidas permissões e do treinamento adequado para que os elefantes entrem nas caixas de transporte.

Tracogna não conseguiu dar um cronograma para a mudança, mas a Câmara insistiu para que isso ocorra o quanto antes. 

“Queremos apenas fazer o que é melhor para nossos elefantes, e foi isso que fizemos aqui hoje”, afirmou Michelle Berardinetti, Conselheira da Câmara, que lutou muito pela mudança. 

“Tínhamos decidido isso há um ano atrás, mas vimos que eles estavam atrasando muito o processo. Por qualquer motivo, prorrogavam tudo. Vimos, novamente, uma decisão que faz sentido por parte da Câmara. O Santuário PAWS é o melhor local para enviá-los”. 

A Conselheira Gloria Lindsay Luby, que lutou contra a mudança, discorda. 

“Os estão enviando para um local que tem tuberculose ativa. Por que se faria isso?”, afirmou ela. 

“Não entendo o que se passa pela cabeça de alguma pessoas. Eles são nossos elefantes, e um deles nasceu aqui. Como podemos fazer isso?”. Mas as regras da Câmara são supremas, mesmo que eu não possa concordar com elas”. 


Conheça mais detalhes sobre o caso de Iringa, Toka e Thika, as três Elefantas Africanas que vivem no Zoo de Toronto, e acesse vídeos e documentos a respeito, aqui.

Recomendamos a leitura de "Mente e Movimento: Indo de encontro aos interesses dos elefantes", de Joyce Poole e Petter Granli, da ElephantVoices. Entenda por que os zoológicos são lamentavelmente inadequados para atender às necessidades comportamentais e biológicas dos elefantes.

Leia também: "Santuários para Elefantes: Princípios Gerais", a opnião da ElephantVoices sobre como deve ser um santuário de elefantes. 

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Mente e Movimento

Indo ao encontro dos interesses dos elefantes

A questão do espaço está no centro da maior parte das discussões sobre elefantes em que estamos envolvidos - tanto em situações na natureza como em cativeiro. Sem espaço adequado para a mente e o movimento, os elefantes não podem prosperar. É simples e difícil assim. 

Recomendamos que você leia "Mente e Movimento: Indo ao encontro dos interesses dos elefantes", escrito por Joyce Poole e Petter Granli, da ElephantVoices, que publicaremos aqui, subdividido em quatro capítulos, a partir de hoje. 

"Mente e Movimento: Indo ao encontro dos interesses dos elefantes" é o capítulo de abertura do livro "Um Elefante na Sala: a Ciência e o Bem-Estar dos Elefantes em Cativeiro". Sobre o livro: "(...) O livro apresenta as dimensões biológicas, ecológicas e sociais do comportamento dos elefantes na natureza, como a base para qualquer conhecimento sólido sobre o que os elefantes querem e do que precisam. Discute os efeitos do trauma e do estresse sobre os elefantes, com um olhar atento sobre os atuais sistemas e crenças sobre o manejo de elefantes em cativeiro. Também oferece uma opinião científica sobre o bem-estar dos elefantes em cativeiro e métodos práticos para melhorar aspectos fundamentais de suas vidas. (...) O número de zoológicos abrindo mão de seus elefantes tem crescido nos últimos tempos. Muitos estão questionando se os zoológicos podem atender às demandas extraordinárias desses seres também extraordinários. (...) Qualquer pessoa interessada no bem-estar dos animais, e, especialmente, no bem-estar dos elefantes em cativeiro, achará esse livro essencial e edificante."

Elefantes se cobrem de areia no Parque Nacional do Amboseli, 
no Quênia (©Petter Granli/ElephantVoices)

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Mente e Movimento: Indo ao encontro dos interesses dos elefantes


Os Elephantidae, que, em certa época, difundiram-se através da América, da Europa, da Ásia e da África, agora são encontrados, de modo fragmentado, em regiões da Ásia e da África subsaariana. Três espécies – Elefante Africano da Savana (Loxodonta africana), Elefante Africano da Floresta (Loxodonta cyclotis) e Elefante Asiático (Elephas maximus) – representam os pobres restos do que foi outrora uma rica árvore genealógica. Os elefantes evoluíram por mais de 50 milhões de anos, de pequenas criaturas (Shoshani & Tassy, 1996) a animais de porte cada vez maior, de vida longa, que dependem de deslocamentos através de grandes distâncias em busca de comida, água, minerais e parceiros sociais e reprodutivos (banco de dados da ATE, Lindeque & Lindeque, 1991; Verlinden & Gavor, 1998; White, 2001). Fisicamente impressionantes e vigorosos, um Elefante Africano macho, por exemplo, pode medir quatro metros de altura e pesar 7.000kg. Nenhum outro animal terrestre, hoje, chega a pesar a metade disso (Haynes, 1991). Com uma expectativa de vida de mais de 65 anos na natureza (Moss, 2001), os elefantes existentes são mamíferos de longevidade fora do comum (Eisenberg, 1981). Excluindo-se mortalidade causada por humanos, a expectativa de vida de um elefante fêmea solto na natureza é de 54 anos (database da ATE), idade que não difere muito da nossa própria espécie na ausência de cuidados médicos.


Elefantes em zoológicos e circos são atormentados por uma série de doenças físicas e psicológicas (Clubb & Mason, 2002; Schmidt, 2002; Kane, Forthman & Hancocks, Anexo I) que não são observadas em seus semelhantes que vivem na natureza. A despeito de cuidados de saúde que recebem, da falta de ataques por humanos e de ocorrências como secas e doenças, os elefantes em cativeiro sofrem de obesidade, artrite, problemas na patas e disfunções psicológicas e de reprodução e morrem mais jovens (Clubb & Mason, 2002; Lee & Moss, Capítulo 2). Ao contrário dos elefantes que vivem livres na natureza, os mantidos em zoológicos apresentam fertilidade relativamente baixa e um índice elevado de natimortos. Também encontram dificuldades para dar à luz e criar seus filhotes (Clubb & Mason, 2002). Além disso, eles podem desenvolver uma série de comportamentos anormais, como balanço estereotipado,  assassinato de elefantes muito jovens e agressividade exagerada contra outros elefantes. Quais são as causas elementares dessas anormalidades físicas e distúrbios psicológicos?  Um olhar sobre alguns dos elementos essenciais da vida dos elefantes livres na natureza fornece algumas respostas convincentes.


Na natureza, raramente os elefantes ficam imóveis: algumas partes dos seus corpos, sejam pernas, orelhas, olhos, tromba ou rabo, estão em movimento. A despeito de seu grande tamanho, elefantes são animais vigorosos, perpetuamente ativos em mente e movimento. Fora as duas ou três horas das 24 horas do dia em que os elefantes podem ficar parados ou se deitar para dormir, eles estão sempre procurando por comida, água, companhia e parceiros em vastas áreas, ou ativamente engajados em uma atividade, como a preparação de um item alimentar para ser ingerido, interação com outro elefante ou com animais de outras espécies, ou ocupados com alguma frivolidade. Seus movimentos podem ser enganosamente vagarosos, desproporcionais para um animal tão imenso, mas mesmo quando seus corpos estão em descanso, suas mentes estão ativas.

Elefantes são animais de cérebro grande, inteligentes e curiosos (Rensch, 1956,1957; Shoshani & Eisenberg, 1992; Poole, 1998; Roth, 1999; Cozzi, Spagnoli & Bruno, 2001; Hart, Hart, McCoy & Sarath, 2001; Hakeem, Hof, Sherwood, Switzer et al., 2005; Douglas-Hamilton, Bhalla, Wittemyer &Vollrath, 2006; Shoshani, Kupsky & Marchant, 2006; Poole e Moss, 2008). Basta observar a ponta da tromba de um elefante, a postura de suas orelhas e o ângulo de sua cabeça para abrirmos uma janela para sua mente ativamente engajada. Na natureza, tudo o que os elefantes fazem é um desafio intelectual: localizar e manipular uma grande quantidade de itens alimentares; lembrar-se da localização das fontes de água durante uma seca; procurar por parceiros potenciais; decidir onde ir, com quem ir, a quem se juntar e a quem evitar. Discernir entre aromas, vozes e aparências individuais entre centenas de indivíduos familiares ou não familiares, entre amigos e adversários, parentes e não parentes, concorrentes hierarquicamente superiores e inferiores e espécies amigáveis e não amigáveis é uma atividade de envolvimento contínuo. O que acontece com o bem-estar físico e psicológico de criaturas tão inteligentes quando tiramos delas a necessidade de procurar ou de manipular itens alimentares tão variados e dispersos por vastas áreas? Ou quando eliminamos as demandas de diversos aspectos, de fazer parte de uma grande rede social, em uma sociedade complexa e fluida? 

O objetivo declarado dos zoológicos é atender às necessidades comportamentais e biológicas das espécies que mantêm em cativeiro. Quando se trata de elefantes, no entanto, os jardins zoológicos são lamentavelmente inadequados. Tanto os representantes dos zoológicos como os ativistas do bem-estar animal têm se concentrado nas causas imediatas do sofrimento dos elefantes em cativeiro (problemas nas patas, artrite, problemas de saúde relacionados à reprodução, obesidade, hiperagressividade, comportamentos estereotipados). Mas, se não resolvermos a fonte elementar de sofrimento de um elefante em cativeiro – a completa falta de estímulos mentais relevantes e de atividades físicas –, nós nunca atenderemos às suas necessidades biológicas e comportamentais. Devemos nos perguntar se atender às suas necessidades é um objetivo que pode ser atingido, e, se for, quais são os limites. A perspectiva que assumimos neste capítulo é a de que é possível uma abordagem centrada no elefante, embora seja cara e desafiadora. No entanto, preferimos acreditar que os futuros exigentes visitantes dos zoológicos vão querer ver elefantes em condições de prosperidade, caso ainda aceitem que estejam em cativeiro. 

Próximos capítulos: "Em Movimento", " Desafios mentais e físicos na vida diária de um elefante selvagem", "Conclusão".

Tradução, revisão, edição: Ana Zinger, João Paiva, Teca Franco, Junia Machado.

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