Publicado em 23 de Maio de 2014 em The Indian Republic
Elefante africano (Foto: The Indian Republic) |
Humanos, aprendam com os elefantes a ter empatia
Aristóteles tinha grande consideração pelos elefantes. Ele dizia que eles “ultrapassavam todos os outros em capacidade mental e intelecto”.
Quando pensamos em animais inteligentes, pensamos em primatas. Isso provavelmente porque sempre estivemos acostumados a considerar os humanos como os mais inteligentes - então, pensamos que os primatas, nossos ancestrais, vêm em segundo. Mas não levamos em conta algo chamado “evolução convergente”. Para simplificar um pouco o que diz a ciência, isso indica que diferentes ramos evolutivos podem encontrar destinos similares. O fato de primatas serem inteligentes o suficiente para usarem ferramentas não significa que outro ramo evolutivo - paquidermes - não possa ser tão inteligente quanto. Também são inteligentes os golfinhos, claro, mas os elefantes, ao contrário dos golfinhos, que matam toninhas como diversão, são, além de tudo, gentis.
Eles realmente se lembram.
O que se diz sobre a memória dos elefantes é verdade. Eles têm excelente memória de longo prazo. Não têm a visão muito boa, mas ainda assim parecem não se esquecer de um rosto. Veja, por exemplo, o que ocorreu no Santuário de Elefantes do Tennessee, na chegada de uma nova elefanta chamada Shirley. Uma elefanta em particular, Jenny, ficou muito excitada e foi quase impossível mantê-la a alguma distância. Mas não se tratava de agressão - quando, finalmente, chegaram perto uma da outra, a cena pareceu muito mais com um encontro de velhas amigas depois de muito tempo, uma procurando cicatrizes na outra com sua tromba e muitas vocalizações. Os observadores, confusos, examinaram o passado de Shirley e descobriram que 23 anos antes elas haviam estado juntas no mesmo circo. Não apenas se lembravam uma da outra, como tinham uma ligação que não havia se rompido com o tempo.
Eles formam laços muito fortes uns com os outros
Os laços entre Shirley e Jenny não eram fora do comum. Elefantes geralmente formam unidades familiares matriarcais, que são costuradas de modo muito forte. Cada bebê que nasce é cuidado pela manada toda. Cynthia Moss, etologista especializada em elefantes, escreveu em seu livro sobre um incidente. Caçadores ilegais atiraram em duas elefantas da manada. Uma delas morreu, e a outra, atingida, ainda ficou em pé. Duas das elefantas da família (a mãe da elefanta ferida e um outra) foram até a elefanta ferida e tentaram segurá-la em pé. Quando ela acabou se ajoelhando, elas tentaram levantá-la. A elefanta ferida morreu, mas as outras ainda tentaram ajudá-la - com a tromba, a mãe tentou levantar seu corpo inerte.
Quando tornou-se óbvio que ela havia morrido, elas a enterraram em uma cova rasa, cobrindo-a com folhas. Ficaram com ela a noite toda e, pela manhã, foram embora. A mãe foi a última a sair. Ah, e os caçadores que haviam atirado nas elefantas haviam sido afugentados pelo resto da família. Até mesmo esses três mosqueteiros puderam aprender sobre esse tipo de intimidade familiar.
Elefantes sentem grande empatia
Já falamos sobre como os elefantes formam fortes laços uns com os outros, que não se rompem com o tempo. Eles amam uns aos outros e sentem grande luto e desespero quando morre um membro da família, como tem sido observado por seu comportamento e linguagem corporal - eles até mesmo choram bastante seus mortos. E eles também têm ritos para o funeral, exatamente como nós.
Mas a compaixão dos elefantes não é limitada à sua própria espécie. Eles mostram grande empatia e se desviam de seu caminho para não machucar nenhum animal ou pessoa. Há registros de casos em que os elefantes se recusaram a obedecer ordens que poderiam resultar em ferimentos a alguém ou a algum animal – como se recusar a derrubar um tronco de árvore se houvesse um animal sob ele. Também houve casos em que elefantes ficaram ao lado e cuidaram de pessoas feridas que estavam sozinhas, até que estas fossem encontradas por outras pessoas.
É extremamente raro para um elefante atacar alguém, exceto durante o período de cio dos machos, quando eles se tornam extremamente comandados pela testosterona - e violentos. A maioria dos outros incidentes de violência ocorreu porque os elefantes foram repetidamente maltratados por pessoas, muito além de qualquer nível de tolerância humana. Esses incidentes são, geralmente, uma prova condenatória da maldade humana, não do comportamento dos elefantes.
Elefantes e arte
Quando se considera o expressionismo abstrato, os elefantes podem estar fazendo um trabalho melhor do que as pessoas. Há artistas célebres entre os elefantes cativos, dos quais um dos mais famosos é Ruby. Ruby segura seu pincel com sua tromba e dizem que ela mostra uma conhecimento aguçado sobre diferentes cores e sobre a sequência em que ela gostaria de aplicá-las na tela. Guiados pelos treinadores, os elefantes podem frequentemente também pintar objetos identificáveis. Dizem que os elefantes também podem reconhecer diferentes melodias e músicas. Shanthi, outro elefante, tocou gaita.
A vida e o crescimento de um elefante espelha-se na vida e no crescimento dos humanos. Filhotes de elefantes precisam da mesma quantidade de cuidados, ainda que possam caminhar muito antes que os bebês humanos possam fazê-lo. Eles crescem aproximadamente no mesmo ritmo, tornando-se totalmente adultos por volta dos 20 anos. Sua longevidade é de cerca de 70 anos, como os humanos. Seguindo as atuais evidências, diríamos que eles são capazes de sentir mais empatia do que os humanos - eles nunca tentaram roubar dentes bonitos de bocas humanas, para depois abandonar esses humanos à morte, enquanto que os humanos parecem determinados a caçar elefantes até sua extinção, por causa de suas presas. Quem são os reais montros aqui?
Leia também: Elefantes são Quase Humanos, publicado em 1966 por Brian O'Brien.
Tradução, revisão e edição: João Paiva, Teca Franco, Junia Machado.