A conservacionista acusa a China de insuflar a caça ilegal, enquanto presas são contrabandeadas em malas diplomáticas.
Por John Vidal - The Guardian
Publicado em 16 de dezembro de 2012
Elefantes na Reserva de Maasai Mara, no Quênia.
Fotografia: Anup Shah/ Anup Shah/Corbis
O apelo foi feito após a apreensão de 24 toneladas de marfim ilegal na Malásia, na semana passada, e um relatório de conservacionistas advertir que o comércio ilegal de marfim agora ameaça governos porque grupos rebeldes usam as presas de elefantes para financiar suas guerras.
“Uma grande tragédia está acontecendo em algumas partes da África. Isso é desesperadamente sério, sem precedentes”, disse ela. “Acreditamos que a Tanzânia tenha perdido metade de seus elefantes nos últimos três anos. Aviões militares de Uganda foram vistos na República Democrática do Congo atirando, do ar, nos elefantes. Agora, milícias armadas estão atirando nos elefantes.”
Ela acusou a China de ser essencialmente responsável, porque é para lá que a maioria do marfim vai, para ser transformado em ornamentos. “Os mercados principais são a China e o oriente. Parece que o marfim está sendo contrabandeado nas malas dos diplomatas chineses ou em aviões não registrados, ou ainda através da fronteira, para a República Democrática do Congo. Gangues armadas e guardas florestais estão se unindo no contrabando ou sendo mortos. Temo estarmos perdendo a batalha em alguns países. É chocante”, disse ela.
O aumento da presença chinesa na África está relacionado ao crescimento sem precedentes da caça ilegal. A descoberta, por oficiais alfandegários da Malásia, de 1.500 presas, na semana passada, escondidas em compartimentos secretos dentro de 10 contêineres que supostamente carregavam pisos de madeira foi a maior apreensão já vista, equivalendo a todo o marfim ilegal apreendido no ano passado.
Os contêineres estavam indo do Togo para a China, via Espanha. O Togo é o destino popular do contrabando feito por gangues armadas. Essa apreensão veio após a descoberta de 1.000 presas de marfim em Hong Kong, e de 200 presas na própria Tanzânia.
Goodall, que ficou famosa por seu trabalho como primatologista, estudando chimpanzés na África, comparou a deterioração da situação dos elefantes com o declínio drástico das populações de primatas nos últimos 40 anos. “ Estamos testemunhando a devastação de populações de elefantes em vários países. É uma situação similar à dos grandes primatas. Todo mundo deveria estar preocupado. Estamos lutando por uma total proibição da venda do marfim.”
Ela vai fazer uma campanha, junto com David Attenborough, para persuadir a ONU a proibir a venda do marfim. “O mundo precisa acordar. Governos precisam apertar o cerco. Ninguém, em lugar nenhum, deve comprar marfim. Países têm que ser ajudados no esforço de controle da caça ilegal,” disse Goodall.
Um relatório entregue à ONU, na semana passada, pela WWF Internacional, adverte que o comércio ilegal de marfim ameaça governos, uma vez que grupos rebeldes usam a venda para financiar suas guerras. “A situação ultrapassa a questão da vida selvagem. Essa crise está ameaçando a estabilidade de governos. É uma ameaça à segurança nacional”, disse Jim Leape, diretor -geral da WWF Internacional.
Em alguns países a caça ilegal está fora de controle. No sul do Sudão, a população de elefantes, estimada em 130.000 em 1986, caiu para 5.000, disse Paul Elkan, diretor da Wildlife Conservation Society. “Com esses níveis de caça ilegal, daqui a cinco anos eles não existirão mais. Até as forças de segurança estão envolvidas no tráfico”, disse ele.
Conservacionistas acusam as autoridades da Tanzânia de não controlarem a caça ilegal e o tráfico. “Um enorme massacre de elefantes está ocorrendo na Tanzânia, agora. Está fora de controle”, disse Iain Douglas-Hamilton, conservacionista veterano. “Não há proteção para os elefantes, assim como não houve para os bisões na América, no século passado, quando foram exterminados. As pessoas então não devem se enganar.”
A Tanzânia, com 70.000 - 80.000 elefantes em 2009, tem perto de um quarto dos elefantes de toda a África. Mas Peter Msigwa, um parlamentar da Tanzânia, disse, na semana passada, que a caça ilegal está “fora de controle”, com uma média de 30 elefantes sendo mortos por dia, por causa do marfim.
“No fim do ano, são 10.000 elefantes mortos”, disse James Lembeli, dirigente da comissão dos recursos naturais da Tanzânia. “Em locais onde este país tem elefantes, há carcaças por todos os lados”, disse ele.
No Ano passado, a polícia da Tanzânia apreendeu mais de 1.000 presas de elefantes escondidas em sacos de peixe salgado, no porto de Zanzibar.
Em junho, a Convenção do Comércio Internacional de Espécies em Extinção (CITES) descreveu a difícil situação dos elefantes da África como “crítica” e disse que a caça ilegal atingiu o maior índice da década, com milhares de elefantes mortos por ano por causa de suas presas.
Marfim sangrento - um massacre fora de controle
Por: ElephantVoices
Os fatos que marcaram 2012 já foram vistos antes por Joyce Poole, da ElephantVoices. É o retorno de um pesadelo. No final dos anos 80, quando os elefantes estavam sendo massacrados em uma quantidade sem precedentes, ela conduziu pesquisas sobre as populações de elefantes africanos para documentar o impacto que a caça ilegal estava causando em sua reprodução e comportamento social. Joyce ajudou a escrever a proposta que culminou na proibição do comércio internacional de marfim, em 1989. Nos 17 anos que se seguiram, ela assistiu à recuperação das populações de elefantes, tanto em termos numéricos como sociais. Isso durou até 2007, quando o organismo internacional que regulamenta o comércio de espécies ameaçadas, a CITES, permitiu a exportação de marfim por cinco países do sul da África, incluindo a China como parceiro comercial.
Então, assistimos ao inevitável: o inferno começou a aflorar. Em 2010, expressamos nossa grave preocupação em um documento publicado na Revista Science e demos uma palestra na CoP15, em Doha, Qatar, nos posicionando contra qualquer nova venda. Na ocasião, as autoridades não concordaram com nossa preocupação. Mas agora foi diferente. Com a matança totalmente fora de controle, as Nações Unidas afirmaram recentemente que a matança de elefantes é uma ameaça à segurança global.
No ecossistema de Maasai Mara, onde trabalhamos, os elefantes estão parcialmente protegidos pela presença de turistas. Mas apenas nos primeiros três meses de 2012, 42 elefantes foram mortos ilegalmente ali. No segundo semestre de 2012, nossa adorada “Goodness” (“Bondade”, cujo nome foi dado por Derrick Nabaala devido à sua natureza gentil) foi morta por possuir longas e assimétricas presas, deixando para trás sua jovem filha, f0361, e outros filhos (veja o álbum de fotografias de Goodness no facebook). No final de Agosto, encontramos f0361 parada sozinha sob uma árvore, desolada. Uma família de cinco membros foi reduzida a apenas um, pelo assassinato da matriarca, por causa de suas presas. A morte dos dependentes - filhotes de até 10 anos de idade - é o custo não revelado do mercado de marfim. O marfim é dentina, dente que pertence aos elefantes, não ao aparador da lareira.
Goodness, matriarca morta por possuir grandes e assimétricas presas, fotografada com sua família
no ecossistema de Maasai Mara, no Quênia (Foto: ElephantVoices)
Graças a uma combinação de vozes protestando e ao trabalho duro de muitas pessoas no mundo todo, a informação está, finalmente, sendo transmitida. O artigo “Culto ao Marfim”, da National Geographic, alarmou a opinião pública, em outubro de 2012. Em dezembro, foi a vez de Jane Goodall levantar sua forte voz contra o mercado de marfim e a matança dos elefantes.
A declaração de Jane chega na hora certa, enquanto muitos de nós estão se preparando para uma grande batalha na CoP 16 da CITES, em Bangcoc, em Março de 2013. Esperamos que a China perceba que é de seu interesse policiar seu crescente mercado de marfim, a indústria de entalhe e seus nocivos compatriotas na África. É hora de entrar na batalha para parar a matança dos elefantes. A China tem muito a perder e pouco a ganhar, se não fizer isso. Apoiadores do mercado de marfim, atenção ao que está escrito na parede: “O mundo quer elefantes e não um estoque de marfim!”. Obrigado, Jane Goodall, por se juntar a nós no apelo por uma proibição total do mercado de marfim e por pedir que a China seja responsabilizada.
Saiba mais sobre nosso trabalho na Reserva de Maasai Mara, no Quênia.
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