Conheci a Junia através do Facebook. Ao passear pelos seus álbuns fotográficos, percebi que ela havia visitado o país que mudou minha vida, o Quênia.
Compartilhávamos a mesma paixão pela África. Estávamos em Paris na mesma época e nos conhecemos tête-à-tête no Café de Flore, em Saint-Germain-des-Prés. Descobrimos que éramos irmãs, com uma mesma paixão pelos animais e pela África. Ela me contou de seu envolvimento com uma organização internacional chamada ElephantVoices, que a estava ajudando a organizar corretamente dados para documentar o sofrimento de uma elefante chamada Terezita, mantida em cativeiro no zoológico de São Paulo. No final da conversa, resolvemos ir à África juntas.
Junia e Ana: duas brasileiras unidas pelos elefantes.
Decidimos formar uma equipe brasileira vinculada à organização ElephantVoices, que tem como fundadores a Dra. Joyce Poole e seu marido Petter Granli, dois cientistas renomados no estudo dos elefantes. Nosso objetivo é educar e conscientizar as pessoas a respeito desses seres, além de ajudar elefantes que sofrem em cativeiro, tentando criar santuários para abrigá-los.
Conheci a Dra. Joyce em especiais da National Geographic e, depois, através de seu envolvimento em vários livros que li sobre o Quênia. Dentre eles, Wildlife Wars, que discorre sobre a formação do serviço de proteção à vida selvagem do Quênia, o Kenya Wildlife Service, criado pelo Dr. Richard Leakey. Dados levantados por Joyce em 1989 mostraram que a matança dos elefantes por causa do marfim estava destruindo a complexa teia social da espécie. Esses dados foram usados por Leakey e Poole em uma campanha bem-sucedida que baniu o comércio internacional de marfim.
Finalmente, em outubro de 2011, realizamos nosso desejo e conseguimos viajar para o Quênia juntas. Com o intuito de aprimorar nossas habilidades fotográficas em um safári de imagens na Reserva Nacional Maasai Mara e, o mais importante, encontrar o casal Joyce e Petter, em uma área de conservação chamada Mara Naboisho, fomos para a Reserva e, depois, rumamos em direção à fronteira nordeste do Mara.
Joyce Poole, Ana Zinger, Junia Machado e Petter Granli em Mara Naboisho Conservancy, no Quênia.
A Reserva Maasai Mara tem 1.510 km² e fica no sudoeste do Quênia. É nesse parque que acontece um dos mais belos espetáculos naturais do mundo, a grande migração, em que mais de um milhão de gnus, acompanhados de zebras e gazelas, se dirigem às planícies do Serengeti, na Tanzânia, à procura de água e pasto fresco.
Em Mara Naboisho, encontramos a dra. Joyce e Petter lançando um projeto chamado Elephant Partners, Parceiros dos Elefantes. Seu objetivo é desenvolver um modelo de monitoramento e proteção dos elefantes. O conceito é conectar pessoas – guias, escoteiros, pesquisadores, fotógrafos, turistas, comunidades ao redor do Maasai Mara –, enfim, todos os que se importam com cada elefante. Através do uso da internet e das mídias sociais e educacionais, a intenção é compartilhar o conhecimento comunitário sobre os elefantes do Mara e, assim, protegê-los. Também encontramos pessoas locais que conhecem e trabalham com a Joyce e o Petter e foi maravilhoso ver o entusiasmo delas nas discussões sobre como monitorar e proteger os elefantes e outros animais selvagens! Joyce e Petter nos contaram que visitantes do mundo inteiro também estão fazendo uploads de observações e mandando fotos para a ElephantVoices.
Joyce Poole faz upload de informações para o banco de dados da ElephantVoices
(© Ana Zinger and ElephantVoices)
Para isso, foi criado um aplicativo para celulares com sistema Android, que coleta e faz upload de informações sobre os elefantes, individualmente. O Mara EleApp é um aplicativo customizado criado pela ElephantVoices para coletar e fazer upload das observações sobre os elefantes do Mara. A versão atual foi feita para celulares Android - Samsung, Google, HTC, Sony Ericsson, Motorola & LG, que são algumas marcas que utilizam a plataforma Android.
Essas informações são enviadas para um banco de dados na página "Quem é quem" do site da ElephantVoices. Essa página contém informações de dezenas de elefantes e foi criada com a análise de fotografias de elefantes e com a codificação de características de cada indivíduo. Para quem não tem um Androide, uma simples fotografia dá conta do recado. Se a câmera tiver GPS, melhor ainda.
M0140, um lindo macho adulto de 43 anos, em Mara Naboisho Conservancy, Quênia (© Ana Zinger and ElephantVoices)
Ficha de identificação do m0140 no banco de dados "Quem é quem"
Este foi nosso aprendizado, meu e de Junia. Tiramos centenas de fotografias dos elefantes que encontramos no Mara e em Naboisho. Como a Joyce nos explicou, identificar elefantes não é difícil, mas é necessário usar nossa capacidade de observação e ter um pouco de prática. Os elefantes podem ser reconhecidos por diversas características: sexo; tamanho do corpo; feitio, comprimento e configuração das presas; tamanho e formato das orelhas; padrões dos sistemas de veias; cortes, rasgos e furos nas orelhas. O site da Elephant Voices descreve isso detalhadamente.
Fascinante! Assistimos à palestra dada por Joyce e Petter sobre o projeto para voluntários do African Impact.
Joyce e Petter ministram palestra para voluntários da African Impact (© Ana Zinger and ElephantVoices)
Saímos também à procura de
elefantes com nossos dois novos amigos.
Petter procurando elefantes (© Ana Zinger and ElephantVoices)
Joyce e Petter localizam um grupo de elefantes (© Ana Zinger and ElephantVoices)
Alegria maior é, ao achá-los, colocar em prática o que
aprendemos sobre reconhecimento de indivíduos e ouvir a história de
alguns desses elefantes contada pela cientista.
Encontramos Goodness, uma das elefantes conhecidas pela Joyce
(© Ana Zinger and ElephantVoices)
A dádiva maior nos foi concedida na nossa penúltima manhã em Naboisho.
Junia e eu, acompanhadas unicamente pela Dra. Joyce, saímos à procura de
uma família de elefantes avistada no fim do dia anterior por alguns
"askaris", os guerreiros Maasais. Petter ficou no acampamento para dar
uns últimos retoques no aplicativo EleApp. Encontramos a família
procurada, mas, de repente, nos vimos cercadas por oitenta e cinco
elefantes! Estávamos no centro de um reencontro de diversas famílias!
Grupos de elefantes foram chegando ao local vindos de todas as direções!
Cumprimentavam-se com as trombas, trombeteavam e emitiam sons graves.
O encontro: dois elefantes se cumprimentam
(© Junia Machado and ElephantVoices)
Obrigada à Dra. Joyce, ao Petter e aos elefantes da África por nos proporcionar esta aventura inesquecível.
Tomei conhecimento, nessa viagem, de que a população de elefantes africanos está correndo um sério risco de extinção. Cerca de quatro elefantes são mortos por semana no Quênia por causa de seu marfim. Se a matança continuar neste ritmo, o espetáculo que presenciamos em breve poderá não existir. Mas todos nós podemos ajudar, divulgando informações para que pessoas de todos os cantos do mundo colaborem com a preservação dos elefantes e lutem contra o comércio ilegal de marfim.
Tomei conhecimento, nessa viagem, de que a população de elefantes africanos está correndo um sério risco de extinção. Cerca de quatro elefantes são mortos por semana no Quênia por causa de seu marfim. Se a matança continuar neste ritmo, o espetáculo que presenciamos em breve poderá não existir. Mas todos nós podemos ajudar, divulgando informações para que pessoas de todos os cantos do mundo colaborem com a preservação dos elefantes e lutem contra o comércio ilegal de marfim.
Encontro de 85 elefantes em Mara Naboisho (© Ana Zinger and ElephantVoices)
Colaboração: Haroldo Castro, Teca Franco, Cristina Mullins, Junia Machado e Petter Granli.
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