Perda de habitat, caça ilegal e o conflito entre humanos e elefantes causaram
a perda de 95% da abrangência de distribuição histórica do elefante asiático (Elephas maximus).
Crédito: Ahimsa Campos-Arceiz
O desaparecimento progressivo de animais dispersores de sementes, como os elefantes e os rinocerontes, coloca a integridade estrutural e a biodiversidade da floresta tropical do sudeste da Ásia em risco. Com a ajuda de pesquisadores espanhóis, um time internacional de especialistas confirmou que nem herbívoros como a anta podem substituí-los.Crédito: Ahimsa Campos-Arceiz
“Mega-herbívoros agem como jardineiros das úmidas florestas tropicais: eles são vitais para a regeneração da floresta e mantêm sua estrutura e biodiversidade”, como explica Ahimsa Campos-Arceiz, autor-chefe do estudo que foi publicado no jornal “Biotropica” e pesquisador na Escola de Geografia da Universidade de Nottingham, na Malásia.
Nessas florestas no leste da África, a grande diversidade de espécies de plantas significa que não há espaço suficiente para todas as árvores germinarem e crescerem. Assim como a escassez de luz, a dispersão de sementes se torna mais complicada pela falta de vento, resultado do tamanho das árvores, que atingem até 90 metros de altura. A vida das plantas é então limitada a sementes dispersas por animais que comem polpa. Eles espalham as sementes quando deixam cair seu alimento, regurgitando-o, ou ainda mais tarde, através de suas fezes.
No caso das grandes sementes, “plantas necessitam de um grande animal capaz de comer, transportar e defecar as sementes em boas condições”, como descrito por Luis Santamaría, coautor e pesquisador do Instituto Mediterrâneo de Estudos Avançados (IMEDEA) da Agência de Pesquisas Científicas CSIC, da Espanha. É aqui que os elefantes e os rinocerontes entram em campo, porque eles podem dispersar uma grande quantidade de sementes, graças ao fato de que vagarosamente digerem poucas quantidades de seu alimento.
Entretanto, a perda de habitat, a caça ilegal e o conflito entre humanos e elefantes causaram a perda de 95% da abrangência de distribuição histórica do elefante asiático (Elephas maximus) e deixaram os rinocerontes a apenas um passo da extinção: há menos de 50 rinocerontes de Java (Rhinocerus sondaicus) e 200 rinocerontes de Sumatra (Rhinocerus sumatrensis).
De acordo com a lista vermelha da IUCN (União Internacional para a Conservação da Natureza), elefantes estão em “perigo de extinção”, e as duas espécies de rinocerontes estão “criticamente ameaçadas”.
As antas asiáticas não são boas dispersoras para plantas
com grandes frutos e sementes. Crédito: Ahimsa Campos-Arceiz
com grandes frutos e sementes. Crédito: Ahimsa Campos-Arceiz
As antas asiáticas não são elefantes
Em face dessa situação, o time de pesquisadores avaliou a capacidade de dispersão de sementes de outro herbívoro pesando 300 quilos que, por razões culturais, não é caçado e tem um sistema digestivo similar ao dos elefantes e rinocerontes: a anta asiática (Tapirus indicus).
O estudo permitiu aos pesquisadores analisar o efeito da dispersão, pelas antas, de sementes – e sua sobrevivência – de nove plantas distintas. Isso incluiu algumas espécies de plantas grandes, como a mangueira e a jaqueira, bem como de outras espécies menores, como a maruleira (Dillenia indica).
Entre outros resultados, concluiu-se que as antas defecaram 8% das sementes de tamarindo ingeridas (das quais nenhuma germinou), em comparação com os elefantes, que defecaram 75% das 2.390 sementes ingeridas (das quais 65% germinaram).
“As antas asiáticas cospem, mastigam ou digerem a maioria das grandes sementes”. Isso tanto as destrói como as deixa no mesmo local onde estavam. Como resultado, as antas não são boas dispersoras para plantas com grandes frutos e sementes”, confirma Campos-Arceiz. Nesse sentido, “considerando a função que desempenham, pertencem a um grupo diferente do dos elefantes e rinocerontes”.
Impedir a caça ilegal é prioridade
“Se esses mega-herbívoros desaparecerem do ecossistema, sua contribuição para os processos ecológicos também será perdida, e o caminho do ecossistema mudará irreversivelmente”, explica o autor principal, que declara ainda que “as mais prováveis consequências são a mudança da estrutura da vegetação rasteira e da floresta e a perda de certas espécies”.
Sem grandes herbívoros, as sementes das grandes plantas sempre cairão próximas à planta-mãe e, consequentemente, serão “incapazes de colonizar o espaço disponível em outras áreas da floresta”, alerta o pesquisador da IMEDEA.
Em virtude disso, aquelas espécies que dependem de grandes mamíferos serão cada vez mais raras, e as que dependem do vento e de pequenos e abundantes animais irão aumentar em termos de densidade e dominância. Campos-Arceiz afirma que, “no final das contas, a composição e a estrutura da floresta mudam e acabam se tornando menos complexas tanto a nível estrutural como funcional: isso se traduz em perda de biodiversidade”.
Para evitar tal cenário, pesquisadores sugerem que a megafauna seja protegida e, em alguns casos, a reintrodução de mega-herbívoros em áreas de onde eles previamente desapareceram. “No sudeste da Ásia, a prioridade é impedir a caça ilegal e diminuir o impacto da perda de habitat”, indica o especialista, criticando a “absurda” motivação para matar, em troca da venda de chifres e presas para a medicina tradicional (”sem benefícios terapêuticos”) ou para fabricação de produtos ornamentais. Isso também reafirma a necessidade de se combater o mercado ilegal “de uma maneira muito mais determinante”.
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Fonte: Fundação Espanhola para a Ciência e Tecnologia
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