terça-feira, 28 de maio de 2013

Não Há Meio Ético de Manter Elefantes em Cativeiro

Postado por Ed Stewart, da Performing Animal Welfare Society, em 3 de maio de 2013.

Dois elefantes aposentados, Wanda e Gypsy, encontram
conforto no santuário PAWS. Foto por Lisa Jeffries, PAWS.

Depois de ler, no dia 23 de abril de 2013, o artigo da NewsWatch “Manejo de elefantes em cativeiro: Entrevista com o responsável pelos elefantes do Zoológico de Knoxville”, publicado na internet pelo bloguista convidado Jordan Carlton Schaul, me senti obrigado a responder. Sou o presidente e cofundador da Performing Animal Welfare Society (PAWS). Fundada em 1984, a PAWS opera três santuários para animais de cativeiro no norte da Califórnia. Esses santuários são, no momento, o lar para mais de 100 animais resgatados ou aposentados, incluindo 8 elefantes e 32 tigres, assim como leões, ursos, primatas e outras espécies.

Tenho mais de 32 anos de experiência cuidando de elefantes asiáticos e africanos, incluindo o manejo de filhotes e de perigosos elefantes machos. Minha parceira e cofundadora da PAWS, Pat Derby, tinha mais de 38 anos de experiência trabalhando com elefantes. Pat faleceu em fevereiro deste ano, após uma longa batalha contra o câncer.

A razão pela qual o manejo de elefantes em cativeiro está sob tamanha polêmica não é, como diz o autor, porque zoológicos e santuários oferecem ambientes diferentes para elefantes, mas porque zoológicos e santuários possuem filosofias diferentes sobre cativeiros. Nós já aprendemos muito sobre a complexidade das necessidades físicas, sociais e psicológicas desses animais, não necessariamente através dos zoológicos, mas por genuínos pesquisadores de campo. Você não precisa olhar mais além dos artigos e filmes da própria National Geographic documentando as grandes famílias, as complexas redes sociais de relações e as longas distâncias viajadas em enormes territórios, para ver que a vida em cativeiro não satisfaz as necessidades mais básicas dos elefantes. 

“As inadequações para elefantes em cativeiro serão sempre uma fonte de doenças e sofrimento para eles.”

Preocupações sobre o bem-estar de elefantes em instalações de cativeiro não deveriam ser, jamais, dispensadas descuidadamente. As inadequações para elefantes em cativeiro serão sempre uma fonte de doenças e sofrimento para eles. Recintos apertados e superfícies duras causam uma variedade de problemas, incluindo a fatal doença do pé, além de artrite, infertilidade, obesidade e comportamentos repetitivos anormais, como o balanço continuado do corpo e da cabeça. A vida em cativeiro pode criar estresse e, muitas vezes, situações perigosas para elefantes que não têm outra escolha a não ser conviver com outros elefantes que podem, ou não, ser compatíveis com eles. Isso resulta em ferimentos e até mesmo mortes de elefantes em cativeiro ao redor do mundo.

Alguns zoológicos da Associação de Zoológicos e Aquários (AZA) têm reconhecido a necessidade de mudar e expandir suas exposições para acomodar grupos sociais maiores e dar aos elefantes mais espaço para se moverem – ações que contradizem as declarações feitas há tempos por defensores de zoológicos, que afirmam que espaço não é um problema importante para elefantes. 

Contato Protegido 

Zoológicos mais progressistas nos Estados Unidos também mudaram suas práticas de manejo, mudando de um tipo de sistema estilo circo, o “contato livre”, para um sistema mais humano, de “contato protegido”. Contato protegido usa somente treinamentos de reforço positivo e uma barreira de proteção entre treinador e elefante. Isso encoraja comportamentos mais naturais, porque os elefantes não estão mais sob a ameaça de punição física, que é a “marca registrada” do manejo de contato livre. 

O autor está enganado quando ele diz: “...tanto faz se uma organização permite treinamento de elefantes com contato livre ou contato protegido, o condicionamento operante por reforço positivo ainda pode servir como base do treinamento comportamental”. Isto é absolutamente falso. A base do manejo com contato livre envolve o uso de uma haste com um gancho afiado em sua ponta (bullhook ou ankus, em inglês) – reforço negativo, não importa como se olhe para isto. 

Essa ferramenta é uma haste de aço que parece um cutucador usado em lareiras, afiada. É usada para cutucar, enganchar e bater nos elefantes para obter o comportamento desejado. O bullhook é usado para dominar e controlar elefantes através do medo da dor, e não tem por que ser usado em nenhum zoológico. 

Mais da metade dos zoológicos da AZA já rejeitaram o bullhook e o manejo com contato livre. Mais zoológicos estão mudando para contato protegido, desde que a AZA estabeleceu uma política de segurança ocupacional que, a partir de setembro de 2014, vai proibir tratadores de dividirem o mesmo espaço físico com elefantes. 

“Desde 1990, 31 tratadores foram feridos ou mortos por elefantes, todos eles em zoológicos que usavam contato livre.”

O autor não compartilha com seus leitores a informação de que um elefante que estava sendo manejado por contato livre matou um tratador no Zoológico de Knoxville, em 2010. Jim Naelitz, o entrevistado, é o responsável pelos elefantes nesse zoológico. Isso faz com que a afirmação do sr. Naelitz de que trabalhar com elefantes não é uma profissão perigosa seja ainda mais assombrosa. Desde 1990, 31 tratadores foram feridos ou mortos por elefantes, todos eles em zoológicos que usavam contato livre.

O elefante envolvido no incidente no Zoológico de Knoxville já tinha sido agressivo com os  tratadores, mas, de acordo com a Administração de Saúde e Segurança Ocupacional do Tenessee (TOSHA), o zoológico não conseguiu tomar uma ação preventiva. A TOSHA aplicou uma multa de mais de US$ 8.000 ao zoológico por causa da morte do tratador. 

Desde essa terrível tragédia, o Zoológico de Knoxville mudou para um sistema de manejo de contato protegido com todos os seus elefantes. Então é confuso para mim que a foto acompanhando o artigo mostre o sr. Naelitz sentado ao lado de, e em contato direto com um elefante no zoológico.

A aprovação do sr. Naelitz, em relação a circos e companhias de entretenimento, como a Have Trunk Will Travel – flagrada em vídeo batendo em elefantes com bullhooks e usando equipamentos elétricos de choque para treiná-los a realizar truques de circo –, é algo que deveria chocar e ofender todos aqueles que apoiam zoológicos. A noção de que elefantes, ou quaisquer outros animais selvagens em circos, são “embaixadores de sua espécie” é um velho argumento usado para justificar a ideia de manter animais em cativeiro. Deixa-me perplexo que qualquer zoológico credenciado à AZA apoie o uso de elefantes em circos, quando a evidência do sofrimento deles é muito bem documentada.

“Animais selvagens pertencem à natureza.”

A PAWS concorda com a afirmação do autor de que nem zoológicos nem santuários são o ambiente perfeito para quaisquer animais selvagens. A PAWS acredita que animais selvagens pertencem à natureza.

Mara e Maggie, elefantas africanas, na época da seca no 
santuário PAWS ARK 2000, na Califórnia. Foto por Lisa Jeffries, PAWS.


PAWS ARK 2000, um santuário de 2.300 acres em San Adreas, Califórnia, é, no momento, o lar de 3 elefantes africanos e 5 elefantes asiáticos, 26 tigres, 6 ursos e 5 leões. Foto por Lisa Jeffries, PAWS.
No santuário PAWS, proporcionamos aos elefantes ambientes amplos e naturais, que atendem melhor às suas necessidades físicas, sociais e psicológicas. Nunca usamos treinamento de dominância ou bullhooks para manipular os elefantes. Somos uma instalação que usa contato protegido. Atualmente, não existe nenhuma forma revolucionária para manter elefantes em cativeiro, e, porque nenhum filhote de elefante jamais foi reintroduzido na natureza e não há nenhum plano de se fazer isto, nós não achamos ético reproduzir elefantes.

Enquanto houver elefantes em cativeiro, somos obrigados a prover as melhores condições possíveis para eles. Isso inclui colocar um fim ao uso arcaico e cruel de bullhooks e ao sistema de manejo com contato livre, não manter mais elefantes em circos e outros tipos de “entretenimento” e um maior progresso em relação a fornecer aos elefantes instalações de cativeiro que atendam muito melhor às suas necessidades.

Saiba mais - "Mente e Movimento - Indo ao encontro dos interesses dos elefantes", escrito pela ElephantVoices: um estudo sobre o comportamento dos elefantes na natureza e uma opinião científica sobre o bem-estar dos elefantes em cativeiro. 



Tradução, revisão e edição: Ruby Malzoni, João Paiva, Teca Franco, Junia Machado.


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