quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Iringa, Toka e Thika, os elefantes do Zoo de Toronto, devem ir para o Santuário PAWS, na Califórnia, decide - novamente - a Câmara Municipal de Toronto

O Zoo de Toronto ainda discorda da decisão, mas afirma que cumprirá a determinação, que tem grande apoio popular. A Câmara decretou ainda que a mudança seja feita o quanto antes. O rigoroso inverno canadense se aproxima e Iringa, Toka e Thika têm a chance de passá-lo, finalmente, num local de clima ameno, numa área grande e arborizada, de relevo variado, onde poderão caminhar por longas distâncias e tomar banhos em lagoas naturais. E, ainda por cima, poderão se comunicar com outros elefantes!

Há um ano, a Câmara Municipal de Toronto votou pelo envio dos três idosos elefantes africanos que vivem no Zoo de Toronto para o Santuário PAWS, na Califórnia, para que passassem os últimos anos de suas vidas na companhia de outros elefantes, em um espaço muito amplo (com lagos naturais, árvores, colinas, pastos), com múltiplas áreas externas e instalações de última geração para cuidado e tratamento veterinário. 

A decisão teve apoio de cientistas, especialistas em elefantes do mundo todo, do público e de Colleen Kinzley, Curadora Geral do Zoo de Oakland, também na Califórnia, que escreveu uma carta ao Zoo de Toronto em apoio à decisão da Câmara. Segundo ela, as instalações do Santuário PAWS e sua administração são excepcionais e excedem amplamente a maioria, se não todos, os zoológicos filiados à AZA (Associação de Zoos e Aquários).

O Zoo de Toronto, no entanto, postergou o envio de Iringa, Toka e Thika durante esse tempo todo, alegando, cada vez, um motivo diferente, com o intuito de convencer os conselheiros a reverterem sua decisão e decidirem pelo envio dos elefantes para algum zoológico credenciado pela AZA. 

Nesse período, diversos documentos a favor do envio dos elefantes para o santuário foram enviados por cientistas e especialistas aos conselheiros da Câmara (que também recebeu uma petição pública com mais de 30.000 assinaturas) e à direção do Zoo de Toronto. Por sua vez, o Zoo informou à Câmara e ao Comitê Executivo de Toronto que havia casos de tuberculose entre os elefantes residentes (e ex-residentes) do santuário e preparou documentos a respeito para convencer os conselheiros a reverter sua decisão, em uma nova votação. 

Ontem, a Câmara Municipal de Toronto se reuniu em uma sessão para analisar novamente o assunto, com base nos documentos apresentados. Por 32-8, decidiu-se que Iringa, Toka e Thika devem ser enviadas, o quanto antes, ao Santuário PAWS.

Mais um rigoroso inverno canadense bate à porta do zoo, onde morreram diversos elefantes nos últimos anos. Esperamos que o bom senso prevaleça e que o Zoo não encontre mais desculpas para adiar a tão esperada viagem de Iringa, Toka e Thika rumo à California. 

No Santuário PAWS, com outros de sua espécie, finalmente Iringa, Toka e Thika poderão ser elefantes.

Leia, abaixo, a tradução do artigo de Paul Moloney, publicado no "The Star", com opiniões de ambos os lados desse debate.


Câmara Municipal de Toronto vota pelo envio dos elefantes do zoo para a California - novamente

Paul Moloney, "The Star"

Um dos elefantes do Zoo de Toronto vagueia próximo a uma caixa de transporte colocada
em seu recinto para que os animais se acostumem com ela. Um ano após a tomada de decisão
pelo envio dos últimos três elefantes do Zoo para a Califórnia, apenas para enfrentar forte oposição 
da equipe do Zoo, a decisão original foi reafirmada (© Rene Johnston / Arquivo de Fotos do The Star)

Após um ano de disputas políticas e oposição por parte da equipe do Zoo de Toronto, a Câmara Municipal reafirmou sua decisão de enviar os três elefantes idosos do Zoo para o Santuário PAWS, na California.

A diretoria do Zoo, que se opunha à transferência, indicou que irá cumprir o decreto da Câmara, após a votação de 32-8.
“Acho frustrante, mas temos que aceitar a decisão da Câmara e seguir em frente”, afirmou John Tracogna, presidente do Zoo.

“A Câmara teve o benefício de receber muitas informações durante o último ano. Ainda acha que o santuário é o melhor lugar, e a diretoria do zoo está agora preparado para aceitar isso”, afirmou ele.

“Também ocorreu um debate público sobre esse assunto, então temos uma orientação e vamos seguir em frente”.

A equipe do zoo desaprovou veementemente a decisão da Câmara em Outubro de 2011, em parte devido ao fato do Santuário PAWS não ter uma certificação da AZA (Associação de Zoológicos e Aquários), e também devido a preocupações sobre doenças no Santuário de San Andreas, na Califórnia. Ao invés, a equipe esperava enviar os elefantes para um novo santuário certificado pela AZA, que está sendo construído na Flórida.

“Havia preocupação sobre tuberculose no local”, afirmou Tracogna. “Porém a Câmara escutou tudo isso e tomou sua decisão, por isso, temos que respeitá-la”.

“Tivemos um debate público. A informação foi amplamente divulgada. A Câmara tomou sua decisão”.

Ele apontou para o fato de que há questões logísticas a serem enfrentadas, e salientou que o Santuário PAWS deve apresentar um plano aceitável para transportar os elefantes de avião para o oeste.

“Uma boa parte disso é ter um bom plano de transporte que os mova de maneira segura”, disse ainda Tracogna, acrescentando que acredita que Bob Baker, apresentador de TV aposentado e defensor dos animais que se ofereceu para custear o vôo, ainda fará isso. 

“Basicamente, precisamos de um plano seguro de transporte por parte do Santuário PAWS e que esteja de acordo com todos os requerimentos para levar três elefantes por essa distância toda. Além disso, precisamos das devidas permissões e do treinamento adequado para que os elefantes entrem nas caixas de transporte.

Tracogna não conseguiu dar um cronograma para a mudança, mas a Câmara insistiu para que isso ocorra o quanto antes. 

“Queremos apenas fazer o que é melhor para nossos elefantes, e foi isso que fizemos aqui hoje”, afirmou Michelle Berardinetti, Conselheira da Câmara, que lutou muito pela mudança. 

“Tínhamos decidido isso há um ano atrás, mas vimos que eles estavam atrasando muito o processo. Por qualquer motivo, prorrogavam tudo. Vimos, novamente, uma decisão que faz sentido por parte da Câmara. O Santuário PAWS é o melhor local para enviá-los”. 

A Conselheira Gloria Lindsay Luby, que lutou contra a mudança, discorda. 

“Os estão enviando para um local que tem tuberculose ativa. Por que se faria isso?”, afirmou ela. 

“Não entendo o que se passa pela cabeça de alguma pessoas. Eles são nossos elefantes, e um deles nasceu aqui. Como podemos fazer isso?”. Mas as regras da Câmara são supremas, mesmo que eu não possa concordar com elas”. 


Conheça mais detalhes sobre o caso de Iringa, Toka e Thika, as três Elefantas Africanas que vivem no Zoo de Toronto, e acesse vídeos e documentos a respeito, aqui.

Recomendamos a leitura de "Mente e Movimento: Indo de encontro aos interesses dos elefantes", de Joyce Poole e Petter Granli, da ElephantVoices. Entenda por que os zoológicos são lamentavelmente inadequados para atender às necessidades comportamentais e biológicas dos elefantes.

Leia também: "Santuários para Elefantes: Princípios Gerais", a opnião da ElephantVoices sobre como deve ser um santuário de elefantes. 

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Mente e Movimento

Indo ao encontro dos interesses dos elefantes

A questão do espaço está no centro da maior parte das discussões sobre elefantes em que estamos envolvidos - tanto em situações na natureza como em cativeiro. Sem espaço adequado para a mente e o movimento, os elefantes não podem prosperar. É simples e difícil assim. 

Recomendamos que você leia "Mente e Movimento: Indo ao encontro dos interesses dos elefantes", escrito por Joyce Poole e Petter Granli, da ElephantVoices, que publicaremos aqui, subdividido em quatro capítulos, a partir de hoje. 

"Mente e Movimento: Indo ao encontro dos interesses dos elefantes" é o capítulo de abertura do livro "Um Elefante na Sala: a Ciência e o Bem-Estar dos Elefantes em Cativeiro". Sobre o livro: "(...) O livro apresenta as dimensões biológicas, ecológicas e sociais do comportamento dos elefantes na natureza, como a base para qualquer conhecimento sólido sobre o que os elefantes querem e do que precisam. Discute os efeitos do trauma e do estresse sobre os elefantes, com um olhar atento sobre os atuais sistemas e crenças sobre o manejo de elefantes em cativeiro. Também oferece uma opinião científica sobre o bem-estar dos elefantes em cativeiro e métodos práticos para melhorar aspectos fundamentais de suas vidas. (...) O número de zoológicos abrindo mão de seus elefantes tem crescido nos últimos tempos. Muitos estão questionando se os zoológicos podem atender às demandas extraordinárias desses seres também extraordinários. (...) Qualquer pessoa interessada no bem-estar dos animais, e, especialmente, no bem-estar dos elefantes em cativeiro, achará esse livro essencial e edificante."

Elefantes se cobrem de areia no Parque Nacional do Amboseli, 
no Quênia (©Petter Granli/ElephantVoices)

Esperamos que você goste e compartilhe com seus amigos que também amam elefantes e se preocupam com eles.


Mente e Movimento: Indo ao encontro dos interesses dos elefantes


Os Elephantidae, que, em certa época, difundiram-se através da América, da Europa, da Ásia e da África, agora são encontrados, de modo fragmentado, em regiões da Ásia e da África subsaariana. Três espécies – Elefante Africano da Savana (Loxodonta africana), Elefante Africano da Floresta (Loxodonta cyclotis) e Elefante Asiático (Elephas maximus) – representam os pobres restos do que foi outrora uma rica árvore genealógica. Os elefantes evoluíram por mais de 50 milhões de anos, de pequenas criaturas (Shoshani & Tassy, 1996) a animais de porte cada vez maior, de vida longa, que dependem de deslocamentos através de grandes distâncias em busca de comida, água, minerais e parceiros sociais e reprodutivos (banco de dados da ATE, Lindeque & Lindeque, 1991; Verlinden & Gavor, 1998; White, 2001). Fisicamente impressionantes e vigorosos, um Elefante Africano macho, por exemplo, pode medir quatro metros de altura e pesar 7.000kg. Nenhum outro animal terrestre, hoje, chega a pesar a metade disso (Haynes, 1991). Com uma expectativa de vida de mais de 65 anos na natureza (Moss, 2001), os elefantes existentes são mamíferos de longevidade fora do comum (Eisenberg, 1981). Excluindo-se mortalidade causada por humanos, a expectativa de vida de um elefante fêmea solto na natureza é de 54 anos (database da ATE), idade que não difere muito da nossa própria espécie na ausência de cuidados médicos.


Elefantes em zoológicos e circos são atormentados por uma série de doenças físicas e psicológicas (Clubb & Mason, 2002; Schmidt, 2002; Kane, Forthman & Hancocks, Anexo I) que não são observadas em seus semelhantes que vivem na natureza. A despeito de cuidados de saúde que recebem, da falta de ataques por humanos e de ocorrências como secas e doenças, os elefantes em cativeiro sofrem de obesidade, artrite, problemas na patas e disfunções psicológicas e de reprodução e morrem mais jovens (Clubb & Mason, 2002; Lee & Moss, Capítulo 2). Ao contrário dos elefantes que vivem livres na natureza, os mantidos em zoológicos apresentam fertilidade relativamente baixa e um índice elevado de natimortos. Também encontram dificuldades para dar à luz e criar seus filhotes (Clubb & Mason, 2002). Além disso, eles podem desenvolver uma série de comportamentos anormais, como balanço estereotipado,  assassinato de elefantes muito jovens e agressividade exagerada contra outros elefantes. Quais são as causas elementares dessas anormalidades físicas e distúrbios psicológicos?  Um olhar sobre alguns dos elementos essenciais da vida dos elefantes livres na natureza fornece algumas respostas convincentes.


Na natureza, raramente os elefantes ficam imóveis: algumas partes dos seus corpos, sejam pernas, orelhas, olhos, tromba ou rabo, estão em movimento. A despeito de seu grande tamanho, elefantes são animais vigorosos, perpetuamente ativos em mente e movimento. Fora as duas ou três horas das 24 horas do dia em que os elefantes podem ficar parados ou se deitar para dormir, eles estão sempre procurando por comida, água, companhia e parceiros em vastas áreas, ou ativamente engajados em uma atividade, como a preparação de um item alimentar para ser ingerido, interação com outro elefante ou com animais de outras espécies, ou ocupados com alguma frivolidade. Seus movimentos podem ser enganosamente vagarosos, desproporcionais para um animal tão imenso, mas mesmo quando seus corpos estão em descanso, suas mentes estão ativas.

Elefantes são animais de cérebro grande, inteligentes e curiosos (Rensch, 1956,1957; Shoshani & Eisenberg, 1992; Poole, 1998; Roth, 1999; Cozzi, Spagnoli & Bruno, 2001; Hart, Hart, McCoy & Sarath, 2001; Hakeem, Hof, Sherwood, Switzer et al., 2005; Douglas-Hamilton, Bhalla, Wittemyer &Vollrath, 2006; Shoshani, Kupsky & Marchant, 2006; Poole e Moss, 2008). Basta observar a ponta da tromba de um elefante, a postura de suas orelhas e o ângulo de sua cabeça para abrirmos uma janela para sua mente ativamente engajada. Na natureza, tudo o que os elefantes fazem é um desafio intelectual: localizar e manipular uma grande quantidade de itens alimentares; lembrar-se da localização das fontes de água durante uma seca; procurar por parceiros potenciais; decidir onde ir, com quem ir, a quem se juntar e a quem evitar. Discernir entre aromas, vozes e aparências individuais entre centenas de indivíduos familiares ou não familiares, entre amigos e adversários, parentes e não parentes, concorrentes hierarquicamente superiores e inferiores e espécies amigáveis e não amigáveis é uma atividade de envolvimento contínuo. O que acontece com o bem-estar físico e psicológico de criaturas tão inteligentes quando tiramos delas a necessidade de procurar ou de manipular itens alimentares tão variados e dispersos por vastas áreas? Ou quando eliminamos as demandas de diversos aspectos, de fazer parte de uma grande rede social, em uma sociedade complexa e fluida? 

O objetivo declarado dos zoológicos é atender às necessidades comportamentais e biológicas das espécies que mantêm em cativeiro. Quando se trata de elefantes, no entanto, os jardins zoológicos são lamentavelmente inadequados. Tanto os representantes dos zoológicos como os ativistas do bem-estar animal têm se concentrado nas causas imediatas do sofrimento dos elefantes em cativeiro (problemas nas patas, artrite, problemas de saúde relacionados à reprodução, obesidade, hiperagressividade, comportamentos estereotipados). Mas, se não resolvermos a fonte elementar de sofrimento de um elefante em cativeiro – a completa falta de estímulos mentais relevantes e de atividades físicas –, nós nunca atenderemos às suas necessidades biológicas e comportamentais. Devemos nos perguntar se atender às suas necessidades é um objetivo que pode ser atingido, e, se for, quais são os limites. A perspectiva que assumimos neste capítulo é a de que é possível uma abordagem centrada no elefante, embora seja cara e desafiadora. No entanto, preferimos acreditar que os futuros exigentes visitantes dos zoológicos vão querer ver elefantes em condições de prosperidade, caso ainda aceitem que estejam em cativeiro. 

Próximos capítulos: "Em Movimento", " Desafios mentais e físicos na vida diária de um elefante selvagem", "Conclusão".

Tradução, revisão, edição: Ana Zinger, João Paiva, Teca Franco, Junia Machado.

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sexta-feira, 23 de novembro de 2012

Autoridades de Hong Kong interceptam carregamento com marfim de 200 elefantes

Oficiais em Hong Kong fizeram mais uma grande apreensão de marfim, a segunda em menos de um mês, segundo a Associate Press.


©mongabay.com

Oficiais alfandegários do porto de Hong Kong descobriram no dia 15 de Novembro 1,3 toneladas de presas de marfim escondidas em um contêiner, entre 400 sacos de sementes de girassol. O valor de mercado do contrabando é estimado em U$ 1,4 milhão, mas não houve prisões. O carregamento saiu da Tanzânia.

A apreensão ocorreu apenas duas semanas depois de fiscais de Hong Kong terem descoberto quase 4 toneladas de presas de marfim, equivalentes a 600 elefantes mortos, em dois contêiners. O marfim estava escondido entre feijões e aparas de plástico, ainda de acordo com a Associate Press.

A caça ilegal por marfim na África tem crescido nos últimos anos devido ao aumento da demanda no Vietnam e na China. O marfim é frequentemente usado para a manufatura de objetos religiosos (leia artigo abaixo).

Link para a notícia original.


"Culto ao Marfim", da National Geographic

Recomendamos que você leia "Culto ao Marfim" ("Ivory Worship"), uma reportagem na National Geographic publicada em Outubro de 2012, que revela a brutal verdade por trás das frequentes manchetes sobre a caça de elefantes e as apreensões de marfim. Bryan Christy relata informações chocantes, implicando líderes religiosos no massacre dos elefantes - informação que pode ser surpreendente, mesmo para aqueles responsáveis por monitorar o comércio de marfim.

Decisões tomadas pela CITES, os comerciantes, os compradores de marfim e os assassinos dos elefantes, juntos, estão causando a miséria nas savanas e florestas africanas - não apenas para os elefantes, mas também para as pessoas. Se os elefantes se forem, assim também se irá o próspero turismo que dá emprego a milhares de pessoas. As florestas, também, perderão seus "jardineiros" (veja aqui uma divertida animação, que mostra por que os elefantes são os principais responsáveis pela disseminação de sementes e consequente aumento da biodiversidade). 

Acesse aqui a página da National Geographic e divulgue a importante mensagem contida no revelador artigo "Culto ao Marfim"

Para mais notícias sobre o mercado de marfim e o que está sendo feito pelos elefantes, acesse a newsletter de setembro de 2012 da ElephantVoices.

terça-feira, 20 de novembro de 2012

O impasse no Zoo de Toronto persiste e continua incerto o destino de Iringa, Toka e Thika

Carta enviada por Colleen Kinzley, Curadora Geral do Zoo de Oakland/California, ao Zoo de Toronto, mostra à comunidade dos zoológicos que o destino dos três Elefantes Africanos não se resume a uma questão de "Zoos X Direitos dos Animais", mas de lógica, compaixão e razão.

 
Histórico do Caso

Em Maio de 2011, os diretores do Zoo de Toronto decidiram fechar sua exibição de elefantes, devido a diversos fatores, entre os quais os altos custos e a saúde debilitada dos animais. Há anos, conservacionistas, cientistas e organizações ligadas à defesa animal se posicionavam contra a manutenção de Iringa (42), Toka (41) e Thika (31) no Zoo, pois este não lhes oferecia espaço suficiente, nem clima adequado. Apenas entre 2006 e 2009, quatro elefantes com idades entre 38 e 40 anos morreram no local.


  Efefantes Africanos no Zoo de Toronto (© The Canadian Press/Steve White)

O Santuário PAWS, na Califórnia, se ofereceu para receber as três elefantas, sem custo algum, mas tanto o Zoo como a AZA (Associação de Zoos e Aquários) não aceitaram, preferindo transferi-las para algum outro zoo associado. Questionaram a capacidade do Santuário de cuidar das elefantas adequadamente, alegando que o local não era certificado pela AZA e que, portanto, não era uma alternativa apropriada. Seis meses depois, no meio da campanha da AZA pelo envio das elefantas a um local certificado, a Câmara Municipal de Toronto, em uma votação histórica, decidiu por 31 votos a 4 aprovar a transferência de Iringa, Toka e Thika para o Santuário PAWS. A AZA, em resposta, exigiu que o zoo, que pertence à Cidade de Toronto, convencesse a Câmara a reverter a decisão, "sob pena de serem tomadas ações inesperadas". 

E assim foi feito: em abril de 2012, a AZA, associação internacional, retirou a Certificação do Zoo de Toronto, obtida em 1977, basicamente devido ao plano de envio de seus elefantes ao Santuário. Depois disso, o Zoo de Toronto colocou diversos empecilhos à transferência. Exigiu documentação sobre a saúde dos animais que vivem ou que já viveram no Santuário (alegaram haver casos de tuberculose entre os Elefantes Asiáticos - no Santuário, há duas áreas separadas, uma para Africanos e outra para Asiáticos), afirmou haver problemas no treinamento dos elefantes para a viagem, falta de documentação e outros, atrasando cada vez mais o processo e adiando por diversas vezes a viagem. Segundo a Zoocheck, organização que está trabalhando junto ao Santuário PAWS no processo de transferência, tudo foi entregue e não há mais nada pendente por parte deles. Até mesmo o transporte foi resolvido - o apresentador de TV Bob Barker se ofereceu para pagar o transporte por avião até o Santuário, com custo estimado entre U$ 750.000,00 e U$ 1 Milhão.


Toka, de 41 anos, no Zoo de Toronto, em 2011 (© The Canadian Press/The Star)

Segundo David Hancocks, ex-diretor do Zoo de Seattle e ex-membro da AZA, a decisão (de retirar a certificação do Zoo) é parte de uma estratégia da AZA para manter o controle sobre os animais mais relevantes, como os elefantes, em torno dos quais o conceito de zoológico é construído. "O que eles estão realmente fazendo é enviando uma mensagem a todas as outras Câmaras Municipais na América do Norte de que se tentarem enviar seus elefantes para santuários, terão suas certificações retiradas", afirma Hancocks. Zoos são grandes negócios. Mais pessoas visitam zoos a cada ano na América do Norte do que participam de eventos de esporte profissional. A Associação de Zoos e Aquários na América do Norte estima que 175 milhões de pessoas por ano visitam zoos, criando bilhões de dólares de receita. Enquanto as pessoas têm se perguntado durante anos como um zoo pode existir sem a presença de elefantes, Hancocks sugere que será diferente no futuro. "Suspeito que em apenas 10 anos, provavelmente escutaremos as pessoas dizendo 'Como você pode se autodenominar um zoológico, se você tem um elefante nele?' ".

No entanto, em 6 de Novembro de 2012, o Comitê Executivo de Toronto, que faz recomendações à Câmara Municipal, votou por deixar que o Zoo de Toronto escolha o local para onde serão enviados os elefantes, e determinou que o diretor do Zoo deve apresentar à Câmara os resultados das investigações feitas pelo zoo sobre as condições do Santuário PAWS, além de comparecer às reuniões da Câmara, para responder questões a respeito. 

O rigoroso inverno canadense se aproxima, e o destino de Iringa, Toka e Thika ainda é incerto. Talvez elas tenham que enfrentar mais um inverno trancadas em galpões de pisos duros de concreto.

A Carta de Colleen Kinzley, Curadora do Zoo de Oakland, ao Zoo de Toronto.


Especialistas como Joyce Poole/ElephantVoices, David Hancocks, Cynthia Moss, Keith Lindsay, Peter Stroud e Winnie Kiiru, entre milhares de outras pessoas, já se manifestaram a favor da imediata transferência dos elefantes de Toronto para o Santuário PAWS. 

Em meio ao longo e acirrado debate, uma carta enviada ao Zoo de Toronto pela Curadora Geral do Zoo de Oakland/California (certificado pela AZA) e especialista em comportamento de elefantes e manejo de elefantes em cativeiro, Colleen Kinzley, e também publicada por ela em uma discussão em um fórum de zoológicos, mostra que a decisão sobre o destino de Iringa, Toka e Thika não é uma questão de "Zoos X Direitos dos Animais", mas de lógica, compaixão e razão.

Leia, a seguir, a tradução da carta. E acesse aqui o arquivo original, que inclui documentos de especialistas como a Dra. Joyce Poole, da ElephantVoices. 

12 de Maio de 2011
 

Prezado Conselho de Adminstração do Zoo de Toronto,

Estou escrevendo para expressar meu suporte ao Santuário de Elefantes PAWS e a seu programa e manejo de elefantes. Como Curadora Geral do Zoo de Oakland, tenho trabalhado junto aos diretores e a equipe do Santuário PAWS em inúmeros projetos, por mais de 20 anos. Trabalhamos juntos numa série de questões relacionadas aos animais. Tenho passado bastante tempo em suas instalações nos últimos anos, tanto em eventos (chegada de novos elefantes) como para simplesmente visitar e observar operações de rotina.

Minha área específica de experiência é em comportamento de elefantes e manejo de elefantes em cativeiro. Durante os últimos vinte e cinco anos tenho sido responsável pelo cuidado diário e manejo de doze Elefantes Africanos e quatro Asiáticos. Tenho também prestado consultoria e assistência no treinamento, transporte, nascimento, criação dos filhotes e cuidados de muitos outros elefantes, em diversos locais. Também estudo o comportamento de elefantes tanto em cativeiro como na natureza e recebi meu Masters em comportamento de elefantes na natureza. 

O recinto de elefantes do PAWS ARK 2000 é definitivamente um dos melhores do país, excedendo amplamente a maioria, se não todos, dos recintos de zoológicos filiados à AZA. Seu recinto de elefantes é excepcional tanto por ser amplo e complexo (morros, árvores, pastos, lagoas naturais) para os animais como pelas instalações de última geração (áreas de contenção para tratamento veterinário, instalações fechadas espaçosas e com diversos compartimentos, múltiplas áreas externas).

Em termos de seu programa de manejo de elefantes, eles têm um excelente programa de Contato Protegido. Somente entre os diretores e a equipe sênior, são mais de 70 anos de experiência em manejo de elefantes. Nos últimos anos, as tratadoras da Active Environments Margareth Whittaker a Gail Laule têm sido contratadas pelo PAWS e se envolvem diretamente no treinamento e manejo dos elefantes. Juntos, eles têm obtido um enorme sucesso no treinamento de elefantes para que aceitem procedimentos desafiadores e algumas vezes desconfortáveis, como coletas de sangue voluntárias e testes de tuberculose.

Tanto em termos de instalações como administração, o ARK 2000 excede os padrões de ambos AZA e USDA, provendo tratamento de excelência para elefantes com uma ampla variedade de históricos, experiências sociais, experiências de treinamento e condições de saúde.

Qualquer elefante em cativeiro teria muita sorte de ter a oportunidade de se aposentar no ARK 2000. Se vocês tiverem alguma dúvida, por favor entrem em contato comigo.


Sinceramente, 

Colleen Kinzley
Curadora Geral
Oakland Zoo 

Para mais informações sobre elefantes em zoos, acesse o website da ElephantVoices. 

Links relacionados:

Petição da Zoocheck Canadá pelo envio de Iringa, Toka e Thika ao Santuário PAWS.
 
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quinta-feira, 15 de novembro de 2012

Holanda anuncia a proibição do uso de animais silvestres em circos

No Brasil, Projeto de Lei 7291, de 2006, aguarda votação no Plenário da Câmara dos Deputados


O governo holandês anunciou ontem a proibição do uso de animais silvestres em espetáculos circenses em todo o seu território, seguindo os passos de outros países como Áustria, Bolívia, Bósnia-Herzegovina, Costa Rica, Croácia, Grécia, Israel, Paraguai, Peru e Singapura. 

Diversos outros países estão trabalhando atualmente para implementar essa proibição, outros ainda  aprovaram leis que impedem o uso de certas espécies, ou de animais nascidos na natureza, e muitos estados e municípios, no mundo todo, já têm leis locais proibindo o uso de animais em circos.


Um inteligente filhote de elefante asiático observa, curioso, 
os pesquisadores da ElephantVoices (©ElephantVoices)

"Esta decisão é uma grande recompensa para a Wilde Dieren de Tent Uit e estamos muito felizes por, finalmente, essa proibição ter sido incluída no acordo de coalizão. Estamos prontos para ajudar na mudança dos animais para abrigos onde seja garantido seu bem-estar ", declarou Leonie Vestering, diretora da organização holandesa de proteção aos animais Wilde Dieren de Tent Uit ("Não aos Animais Silvestres em Circos"), que trabalhou durante muitos anos em uma campanha de conscientização no país. Segundo levantamento feito pela organização, em 2010 havia cerca de 255 animais silvestres em circos no país, entre elefantes asiáticos (20) e africanos (1), tigres (30), leões (27), camelos (87), zebras (22), primatas (10), jacarés (2), pássaros exóticos (8) e outras espécies.

Animais em Circos no Brasil

O Projeto de Lei 7291/06pela proibição do uso de animais silvestres da fauna silvestre brasileira e exótica na atividade circense, em todo o território nacional, está no Plenário da Câmara dos Deputados, aguardando votação, depois de ter sido aprovado pela terceira comissão da Câmara, a CCJC (Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania), com base no parecer do Deputado Ricardo Tripoli (PSDB/SP). O Projeto já havia sido aprovado por mais duas comissões - CEC (Comissão de Educação e Cultura) e CMADS (Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável). 

O Deputado é o relator do Projeto e autor de lei similar, que vigora no Estado de São Paulo desde 2005. Depois de votado, o Projeto deve voltar ao Senado, para votação final, e passará pela apreciação do Presidente da República.

No final de 2011, o Deputado Ricardo Tripoli foi recebido pela Ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, para solicitar uma revisão da atuação do então recém-criado GTI, Grupo de Trabalho Interministerial, que tem como objetivo promover estudos e sugerir critérios para a regulamentação da participação de animais em espetáculos circenses. Como o PL 7291/06, que trata dessa questão, está pronto para ser votado e foi amplamente discutido no Congresso, o Deputado Tripoli não vê sentido na criação do Grupo. A Ministra declarou-se favorável à proibição e pessoalmente contrária ao uso de animais pelos circos. Afirmou ainda que trabalhará junto ao Ministério da Cultura pela proibição no país. 

Em 2010, a ElephantVoices e o Deputado Ricardo Tripoli começaram a trabalhar em colaboração pela aprovação do Projeto de Lei que impedirá o uso de animais em circos no território nacional. Assista ao vídeo da conferência realizada em 25 de Agosto de 2010, produzido pelo escritório do Deputado, na qual discutiu-se o andamento do PL 7291/06 e a situação dos elefantes aqui e no mundo.

Nove estados brasileiros - Alagoas, Distrito Federal, Mato Grosso do Sul, Paraíba, Paraná, Pernambuco, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e São Paulo - já proíbem o uso de animais em circos. Outros estados, como Bahia, Ceará, Espírito Santo, Minas Gerais e Santa Catarina têm Projetos de Lei em andamento. E muitos municípios em todo o país já têm leis similares.


Elefantes em Circos

Quantas crianças optariam por ir ao circo se soubessem o que acontece por trás das cenas? A música, as luzes e o brilho criam uma ilusão de que os animais estão se divertindo. Mas o que se vê é apenas uma artimanha. Os elefantes não estão felizes, nem estão gostando do que estão fazendo. A manutenção e o treinamento dos elefantes de circo envolvem abuso físico e psicológico. 

Em circos, 
  • elefantes são confinados e acorrentados por horas intermináveis, literalmente;
  • através da punição física e da ameaça de usá-la, são treinados a ficar em posições difíceis e antinaturais;
  • têm que viajar, de lugares extremamente quentes para outros congelantes, de cidade a cidade, acorrentados em carretas e vagões;
  • os filhotes são separados de sua mães quando ainda são bem pequenos, para efeito de treinamento;
  • elefantes são separados de seus companheiros quando são vendidos e frequentemente deslocados;
  • os elefantes de circo não têm nenhum nível de autonomia em suas vidas, chegando a serem treinados a defecar em um balde, sob comando.



Elefantes em circos são reduzidos à qualidade de objetos para entretenimento das pessoas.  O lugar de um elefante é a natureza, com seus familiares e companheiros. A existência totalmente antinatural dos elefantes de circo é uma caricatura e permitir que essa prática continue é injustificado e antiético.

Joyce Poole/ElephantVoices e outros membros da Amboseli Trust for Elephants escreveram declarações e artigos sobre elefantes em circos, se você quiser saber mais a respeito. Você também encontrará links para outras fontes de informação, incluindo vídeos, que darão uma boa noção sobre algumas das inúmeras razões pelas quais acreditamos que o lugar de um elefante não é o circo. Além disso, você pode ler nossa seção de Perguntas e Respostas mais Frequentes sobre Elefantes em Cativeiro.


Enid, Erin e Echo em uma discussão, no 
Parque Nacional do Amboseli, Quênia. 
(©ElephantVoices)

O ponto de vista da ElephantVoices é que o uso de elefantes em circos é abusivo e deve ser proibido. 

Duas importantes petições em vigor pelo fim do uso de animais em circos no Brasil:
-  ADI
-  WSPA

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segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Elefante “fala” como um humano - e usa sua tromba para formar o som.

Elefante de zoológico sabe dizer “bom”, “não”, “olá” e “sente-se”, diz estudo científico. 


Shannon Fischer, para a National Geographic News
Publicado em 2 de Novembro de 2012
 


Koshik, o Elefante Asiático que sabe "falar" cinco palavras em Coreano, colocando sua tromba dentro da boca. Fotografado por Ahn Young-joon, AP

Há seis anos, um vídeo, enviado por funcionários perplexos do Everland Zoo, chegou à caixa de entrada da pesquisadora de comunicação de elefantes Joyce Poole, da ElephantVoices. A filmagem foi o primeiro olhar de cientistas sobre Koshik, o elefante que fala coreano.

“Isso é surpreendente”, escreveu Joyce na época, então subsidiada pelo Programa Conservation Trust, da National Geographic Society (a National Geographic News é parte da Sociedade). “Não consigo ver nenhuma chance disso ser uma farsa, com certeza é uma imitação de voz humana”. Ela enviou o vídeo a colegas. Alguém teria que checar o caso - poderia ser genuíno?


Seis anos depois, a confirmação finalmente chegou, através de um novo estudo liderado por um dos antigos colegas de Poole, Angela Stoeger, da Universidade de Viena. Koshik, afirma Stoeger, é definitivamente real. 


(Veja também “Baleia falante pode imitar voz humana”)


Um elefante com ouvido para idiomas


Para chegar a essa conclusão, Stoeger e seu time primeiro tiveram que verificar se os sons emitidos por Koshik eram palavras de verdade. De acordo com os tratadores do elefante, ele tinha um vocabulário de seis palavras, incluindo annyong ("olá"), aniya ("não"), anja ("sente-se"), and choah ("bom").


Então, a equipe mostrou 47 gravações das imitações a falantes nativos de Coreano que nunca tinham ouvido o elefante antes, e os instruíram a simplesmente anotar o que ouvissem. “Eles sabiam que estavam ouvindo um elefante, mas não sabiam o que supostamente deveriam ouvir”, explicou Stoeger, cujo estudo apareceu recentemente no jornal Current Biology.


Mas mesmo para os ouvidos humanos, as palavras eram prontamente compreedidas e transcritas. As vogais eram as mais fáceis de serem compreendidas, e quando um relatório contradizia o outro, as diferenças eram relacionadas a consoantes, com as quais Koshik ainda luta um pouco. 


“Não é 100%” certo, afirma Stoeger. “Mas ainda assim, se você não sabe absolutamente nada do que irá ouvir, é difícil até mesmo para entender o melhor papagaio que imita voz humana”.  


Para assegurar que não se trata de variações naturais dos chamados dos elefantes, os pesquisadores também compararam as palavras de Koshik com os sons típicos de elefantes asiáticos, e constataram que eram completamente diferentes. De qualquer modo, eram cópias exatas das entonações e frequências de seus treinadores, que os pesquisadores actreditam ser os objetos da imitações de Koshik.


O fato de que Koshik fala não é nada, comparado a como ele fala. Quando humanos fazem o som de o, eles espremem suas bochechas e pronunciam so lábios para frente, em formato circular. Os elefantes não possuem essa estrutura de bochechas e lábios - há muito tempo a trocaram por trombas. Desse modo, é anatomicamente impossível emitir esses sons.


Koshik resolve esse problema fixando a ponta de sua tromba em sua boca e movendo a parte de baixo de sua mandíbula, essencialmente, “fabricando”  uma ferramenta em seu trato vocal a partir de quase nada, como o personagem MacGyver. “Ele realmente desenvolveu um novo modo de produzir som”, afirmou Stoeger. “Naturalmente, elefantes asiáticos não fazem isso”. 


De fato, o único exemplo de comportamento animal que se aproxima da imitação que  Koshik faz com ajuda de uma ferramenta é o dos orangotangos, que adaptam a frequência de suas vocalizações com suas mãos ou com folhas.


“É realmente fascinante. Estou maravilhada. E entusiasmada”, afirmou Caitin O’Connell-Rodwell, uma especialista em comunicação dos elefantes da Universidade de Stanford que não estava envolvida no estudo.


A primeira evidência de que os elefantes podiam até mesmo fazer imitações vocais surgiu em 2005, e mostrou elefantes africanos imitando caminhões e barulhos de outras espécies de elefantes, ela disse. “Isso foi um começo”, O’Connel-Rodwell afirmou. “Mas agora trata-se de imitação entre espécies e a criação de uma vocalização muito mais difícil de ser emitida”. 


(Veja “Orca imita leão marinho, revelam gravações”)


O Elefante na Sala de Estar


Imitações vocais no reino animal são raridade, e imitações de falas humanas é algo ainda mais raro. Papagaios podem fazer isso, assim como pode uma foca chamada Hoover e uma beluga no Zoo de San Diego.


Pesquisadores acreditam que essa façanha exija não apenas os instrumentos vocais apropriados - ou uma engenhosa improvisação com a tromba -, mas também uma sociabilização com pessoas. Hoover, por exemplo, foi educada por um pescador, e a beluga teve seus treinadores.


Koshik começou suas imitações - ou pelo menos seus treinadores começaram a perceber suas imitações - quando tinha 14 anos de idade, depois de passar a maior parte de sua adolescência isolado de outros elefantes.


“Elefantes são animais altamente complexos, sociais e inteligentes, com personalidades individuais”, afirmou Joyce Poole, da ElephantVoices.  


“Eles são capazes de produzir uma incrível variedade de sons, em uma ampla gama de contextos”, afirma ainda Poole, que não esteve envolvida na recente pesquisa.


“Podemos nos questionar: Dada a extraordinária complexidade social e flexibilidade demonstrada, suas capacidades cognitivas significativas e suas capacidades físicas, por que deveríamos nos surpreender com o fato de imitarem sons de seu ambiente?


Leia aqui o artigo original, publicado na National Geographic.

Leia também: "A Comunicação Tátil dos Elefantes"

Saiba mais sobre a comunicação dos elefantes. 

terça-feira, 6 de novembro de 2012

O Projeto Gorongosa, da ElephantVoices

O Parque Nacional de Gorongosa, em Moçambique, é o local do mais recente projeto de monitoramento e conservação da ElephantVoices. Em 2011, a ElephantVoices foi convidada a ir a Gorongosa para avaliar os elefantes e iniciar um processo de familiarização, de modo que encontros entre elefantes e visitantes possam ser pacíficos. Acostumar elefantes com veículos de turistas é importante porque, sem a renda do turismo, esse lindo e biodiverso habitat não pode ser protegido. Com a atual pressão sobre os recursos naturais, e com a caça de elefantes por marfim em um novo pico, é imperativo garantir a sobrevivência da Gorongosa.


Grupo de Elefantes de Gorongosa (©Andreas Ziegler)

Entendendo e respeitando os sinais dos elefantes

Em 1972, Gorongosa era a casa de mais de 2.000 elefantes. Porém, entre 1977 e 1992 uma guerra civil tirou a vida da maioria desses indivíduos. A carne dos elefantes era usada para alimentar os soldados e seu marfim era vendido para a compra de armas e munição. Quando a paz foi restaurada, menos de 200 elefantes tinham sobrevivido. Hoje, graças à intervenção do Governo de Moçambique e ao Projeto de Restauração da Gorongosa, há cerca de 300-400 elefantes no parque, e seu número vem gradativamente aumentando. Mas, mesmo assim, os sobreviventes não se esqueceram de suas terríveis experiências e ainda estão, compreensivamente, cautelosos com relação às pessoas e continuam evitando grandes áreas do parque nacional.

Fazemos com que os elefantes se habituem aos veículos nos aproximando deles vagarosamente e desligando o motor ao primeiro sinal de medo ou agressividade. Fazendo isso, mostramos a eles que entendemos e respeitamos seus sinais, que não causamos danos e que não estamos com medo de sua postura de desafio.





Elefantes são dramáticos: adoram transformar algo pequeno em uma grande ocasião. E demonstram alguns dos mais dramáticos e aterrorizantes comportamentos defensivos, o que fica bem na televisão. Por isso, alguns de nossos encontros iniciais com elefantes na Gorongosa foram filmados para o documentário da National Geographic, War Elephants. É justo afirmar que a edição do filme aumentou a dramaticidade de nossas interações para a audiência da TV. Na realidade, encontramos elefantes normais, se comportando de modo bem próximo do que esperávamos. E os muitos elefantes que encontramos, em mais de uma ocasião, rapidamente aprenderam que não representávamos uma ameaça para eles. 


Quem é Quem e Onde Estão os Elefantes da Gorongosa


Em Outubro de 2012 começamos um trabalho mais intenso com os elefantes da Gorongosa. Começaremos por aprender o quanto pudermos com outras pessoas. Este é um novo lugar e são novos elefantes para a ElephantVoices, portanto temos muito o que aprender com aqueles que vivem e trabalham na Gorongosa. E, o mais importante, aprenderemos através de nossas experiências com os elefantes.

Traremos conosco versões customizadas das mesmas ferramentas online desenvolvidas pela ElephantVoices para nosso projeto de conservação de elefantes do Mara, no Quênia, o Elephant Partners. Com essas ferramentas, poderemos registrar cada elefante e coletar observações de modo sistemático e eficiente. Em colaboração com o Projeto de Restauração da Gorongosa e com a equipe do Parque Nacional, iremos, em tempo, construir o banco de dados "Quem é Quem e Onde Estão os Elefantes da Gorongosa", disponível para o público, para que explore, aprenda e contribua com ele.



Cada elefante em uma população é um indivíduo importante e começaremos o processo de identificação e registro de elefantes, um a um, povoando o banco de dados “Quem é Quem na Gorongosa” com fotografias, características fisionômicas e informações sobre sua história de vida. No caminho, teremos que aprender quem é assustado, quem é agressivo e dedicar mais tempo a esses indivíduos, para construir sua confiança.


Saiba mais: Elefantes da Gorongosa 

Conforme formos aprendendo sobre os indivíduos e suas famílias, trabalharemos no sentido de estimar o tamanho e a estrutura da população. Por exemplo, qual proporção da população é composta por machos e fêmeas, jovens e idosos? Quantos elefantes sem presas há? Quais são suas idades e o que esse padrão demográfico reflete sobre seu passado e qual o significado para sua sobrevivência no futuro?


Grupo de elefantes no Parque Nacional de Gorongosa (©ElephantVoices)


Mais conhecimento é a base para uma melhor proteção

Observações de indivíduos e famílias serão cadastradas no banco de dados da Gorongosa e, desse modo, começaremos a entender os padrões que definem a população, permitindo que a equipe do parque os proteja melhor. Por exemplo, precisamos saber quem passa seu tempo com quem, onde vão, quando e por quê.


Conforme conheçamos os elefantes, também treinaremos guarda-parques e guias sobre como coletar dados sobre eles e como deles se aproximarem, com benefício para ambos - pessoas e, com prioridade, elefantes. Com base no que aprendemos, nos engajaremos com outros cientistas que fazem pesquisas na Gorongosa e com a equipe do parque, para determinarmos possíveis futuros estudos sobre os elefantes e estratégias para sua conservação.


Guerreira, gf0050 - Essa linda matriarca foi assim nomeada devido a
dois furos grandes e perfeitamente redondos que tem nas orelhas, 
que muito provavelmente revelam que defendeu sua família, 
com as orelhas abertas, de uma saraivada de tiros (©ElephantVoices)

Link para o texto original 


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