Publicado em 30 de Novembro de 2012 - guardian.co.uk
O poeta Benjamin Zephaniah escreveu um brilhante artigo para o jornal The Guardian sobre a escravidão de seus ancestrais e a dos animais de circo (ainda uma realidade em muitos países), que publicamos abaixo, em Português. Esperamos que o Brasil caminhe firme para a aprovação do Projeto de Lei 7291/06, que aguarda votação no Plenário da Câmara dos Deputados. Muitos animais, entre os quais, vários elefantes, ainda estão em circos, viajando pelo Brasil.
Benjamin Zephaniah é poeta. |
Os regulamentos existentes falharam com animais como Anne, a elefanta chutada e espancada em um circo no Reino Unido. Precisamos de uma proibição já.
AVISO: o vídeo da Animal Defenders International contém conteúdo explícito |
Minha herança jamaicana e minhas raízes africanas fazem com que seja impossível para mim ignorar as similaridades históricas entre a crueldade imposta a meus ancestrais e a crueldade infligida aos animais de circos, hoje. A mentalidade que permitiu que atrocidades fossem infligidas a humanos é a mesma mentalidade que permite que ocorra o abuso de animais. Assim como meus ancestrais foram surrados e explorados, o mesmo acontece com zebras, leões, tigres, camelos e outros animais usados em circos. Exatamente como meus ancestrais tinham famílias, sentimentos e emoções, também os têm os animais. De fato, quando me despojo das coisas materiais que estão ao meu redor, vejo que também sou um animal. Somos todos parte de uma mesma família.
Tratados como se fossem máquinas, os animais que são forçados a viajar e atuar em circos são rotineiramente privados de cuidados adequados e ficam doentes, indiferentes e deprimidos. Muitos desenvolvem comportamentos neuróticos por causa do estresse e dos abusos e morrem mais cedo do que se poderia esperar, de acordo com a expectativa de vida de cada espécie. Passam a maior parte de suas vidas apertados em jaulas de transporte ou vagões e são puxados por toda parte, de um canto para outro. As leis do Reino Unido requerem que animais recebam uma boa qualidade de vida. Entretanto, o rigor do transporte, as cruéis técnicas de treinamento e outros estresses da vida no circo tornam isso impossível.
Tratados como se fossem máquinas, os animais que são forçados a viajar e atuar em circos são rotineiramente privados de cuidados adequados e ficam doentes, indiferentes e deprimidos. Muitos desenvolvem comportamentos neuróticos por causa do estresse e dos abusos e morrem mais cedo do que se poderia esperar, de acordo com a expectativa de vida de cada espécie. Passam a maior parte de suas vidas apertados em jaulas de transporte ou vagões e são puxados por toda parte, de um canto para outro. As leis do Reino Unido requerem que animais recebam uma boa qualidade de vida. Entretanto, o rigor do transporte, as cruéis técnicas de treinamento e outros estresses da vida no circo tornam isso impossível.
Muitos de meus ancestrais foram aprisionados sem motivo e passaram suas vidas desprovidos de tudo o que era importante e significativo para eles: liberdade de escolha, independência e autonomia. Isso se aplica exatamente à vida dos animais usados em circos. Eles não têm escolha em relação às sua condições de vida ou às criaturas com as quais vivem e interagem e são punidos quando não se sujeitam às regras. Eles não têm o menor controle sobre nenhum aspecto de seu próprio destino.
Animais não “se acostumam” à servidão. Eles sabem que não estão onde deveriam estar. Animais que fazem acrobacias que nunca fariam em seus legítimos lares o fazem movidos pelo medo, não porque querem.
No último ano, pessoas no mundo todo se sentiram justificadamente ultrajadas quando uma filmagem de Anne, o último elefante usado em um circo do Reino Unido, circulou na internet mostrando um treinador que a chutava, espancava e espetava com um ancinho, mesmo estando ela acorrentada. Anne finalmente teve permissão para se aposentar, na sequência de um clamor público. No entanto, a não ser que se imponha uma proibição ao uso de animais em circos, não há nada que impeça um circo britânico de adquirir um outro elefante para submetê-lo a uma vida de tormentos. Elefantes se adaptaram a movimentações praticamente constantes na natureza e percorrem longas distâncias todos os dias, a fim de manter sua saúde e bem-estar. Em circos, o único “exercício” que um elefante faz é quando pratica truques tolos. Eles precisam da companhia e do companheirismo de outros elefantes para que prosperem. Eles são membros de uma espécie inteligente e multifacetada que, como nós, experimenta uma vasta gama de emoções.
Noventa e quatro por cento das pessoas que responderam à última consulta do governo do Reino Unido sobre os circos apoiam a proibição do uso de animais em circos, sabendo que não é aceitável submeter animais a tratamento cruel para nosso entretenimento. A Grécia, recentemente, anunciou a proibição do uso de todos os animais em circos, e, na Áustria, um recurso para reverter a proibição do uso de animais selvagens em circos falhou. Bolívia, Finlândia, Índia, Cingapura e Suécia implementaram, todos eles, a proibição de números com animais. Através do mundo, as pessoas estão se manifestando contra a vergonhosa crueldade de confinar animais em jaulas apertadas, transportá-los por toda parte em vagões e forçá-los a praticar atos antinaturais, degradantes e, algumas vezes, doloridos. Todavia, no Reino Unido, que certa vez já esteve à frente na questão da proteção aos animais, o governo ainda está ignorando a vontade tanto do público como dos membros do parlamento, perdendo tempo ao falar sobre um sistema de “licenciamento” ou de “regulamentação” de números com animais selvagens. Isso não é suficiente.
Pela primeira vez, desde que era uma criancinha, fui a um circo, no começo deste ano. A razão pela qual fiz isso foi a de que eles diziam claramente que não usavam animais. Passei um tempo maravilhoso, admirando o que os seres humanos podem fazer quando param de explorar outros seres e usam seu livre arbítrio e criatividade. Depois do espetáculo, conversei com muitos artistas, e eles me disseram que não trabalhariam com animais. Isso foi inspirador, e eu respondi que eles eram ótimos exemplos do que era possível se fazer.
Os regulamentos existentes no Reino Unido já falharam miseravelmente com os animais de circo. Anne, por exemplo, passou quase seis décadas com o Bobby Roberts Super Circus. Os problemas de bem-estar e abuso que os animais de circo experimentam são inerentes a ele, e é claro que não podemos permitir que os circos exerçam uma autorregulamentação. Apenas uma completa proibição assegurará que os animais de circo sejam poupados de mais sofrimento.
Faz 200 anos desde que o parlamento aboliu a escravatura. Já está na hora daquela atitude esclarecida ser estendida aos escravos animais explorados em circos.
Acesse aqui o artigo original, publicado no The Guardian, no Reino Unido.
Vários países já aprovaram - ou caminham para a aprovação - de leis contra o uso de animais em circos. Saiba quais são eles e como está a situação no Brasil.
Vários países já aprovaram - ou caminham para a aprovação - de leis contra o uso de animais em circos. Saiba quais são eles e como está a situação no Brasil.
Saiba mais sobre elefantes em cativeiro e na natureza, lendo "Mente e Movimento: Indo ao encontro dos interesses dos elefantes", escrito por Joyce Poole e Petter Granli, da ElephantVoices.
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Os elefantes precisam de nossas vozes!
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