terça-feira, 26 de março de 2013

Elefantes: os jardineiros das florestas asiáticas e africanas

Jeremy Hance 
Mongabay.com
Publicado em 25 de Abril de 2011 


Elefante africano da floresta. Foto: Carlton Ward Junior.

Parece difícil imaginar elefantes cuidando delicadamente de um jardim, mas esses paquidermes podem muito bem ser os horticultores mais pesados do mundo. Elefantes, na África e na Ásia, comem quantidades abundantes de frutas quando estas estão disponíveis. As sementes passam por seus intestinos e, depois de expelidas – às vezes a muitos quilômetros de distância –, germinam uma nova planta, se as condições forem favoráveis. Esse processo é conhecido pelos ecologistas como “dispersão de sementes”, e os cientistas têm estudado há muito tempo a capacidade de “jardinagem” de macacos, pássaros, morcegos e roedores. Entretanto, recentemente pesquisadores começaram a documentar a capacidade de dispersão de sementes do maior animal terrestre do mundo – o elefante –, provando que essa espécie pode estar entre os mais importantes jardineiros tropicais do planeta.

“Em nosso artigo, mostramos que elefantes africanos da floresta são os melhores dispersores de sementes – eles dispersam um vasto número de sementes, de uma grande diversidade de plantas, de uma forma muito eficaz [...] Elefantes asiáticos e africanos da savana também dispersam muitas sementes [...] mas aparentam ser menos frugívoros (comedores de frutas)”, conta Ahimsa Campos-Arceiz, o coautor de um artigo recentemente publicado na Acta Oecologica sobre dispersão de sementes por elefantes africanos e asiáticos, para o mongabay.com, em uma entrevista. 

Stephen Blake, o outro coautor do estudo, diz que, nesse contexto, o comportamento de diferentes espécies de elefantes tem mais a ver com o habitat do que com as preferências da espécie. 

“Elefantes africanos da savana normalmente não dispersam muitas sementes, mas coloque-os na floresta de Kibale, em Uganda, onde há acesso a frutas, e eles se tornarão formidáveis dispersores de sementes”, Explica Blake. “Nenhum mamífero de grande porte que é generalista em sua alimentação vai recusar uma boa refeição de frutas, se esta estiver disponível.”


Essas Myrianthus arboreus são frutas típicas procuradas por grandes mamíferos e elefantes no Congo. Foto por J.P. Vandeweghe.

Blake e Campos-Arceiz ressaltam em seu estudo que algumas espécies de plantas dependem completamente de elefantes para a sua dispersão, do mesmo modo que algumas orquídeas dependem inteiramente de um único inseto polinizador para propagação. 

“O melhor caso documentado é a relação entre a Balanites wilsoniana e o elefante da savana, em Uganda. Vários estudos descobriram que elefantes consomem e dispersam muitas sementes de Balanites e que nenhum outro animal dispersa essas sementes”, explica Campos-Arceiz.

Entretanto, Blake acrescenta que “o impacto cumulativo de dispersão por elefantes” é mais importante do que a conexão deles com uma única espécie: “é claro que a diminuição da quantidade de algumas árvores por causa do desaparecimento de elefantes é prejudicial, mas se a Balanites for extinta, é improvável que isso tenha um grande impacto no ecossistema da floresta. No entanto, se os elefantes forem extintos, significa que o equilíbrio competitivo de muitas espécies, indiscutivelmente mais de 100 na África Central, favorecerá aquelas que têm sua dispersão feita por fatores abióticos (isto é, não biológicos, como o vento). Isso é um fator fundamental, de um ponto de vista ecológico.” 

Uma das razões de elefantes serem tão importantes em um ecossistema florestal é que, ao contrário de muitas outras espécies, eles são capazes de dispersar sementes longe da árvore -mãe (a que produz as sementes). De acordo com pesquisadores, elefantes asiáticos espalham sementes num raio de 1km a 6km, enquanto, no Congo, elefantes da  floresta são capazes de espalhar sementes por um raio de até 57km.

A semente de Borassus flabelifer, recuperada de fezes de elefantes.
Foto por Ahimsa Campos-Arceiz.
 

“Essas são realmente distâncias de dispersão sem precedentes para sementes grandes de floresta. a maioria dos animais dispersores de sementes em florestas tropicais solta as sementes apenas a uns 10 ou 100 metros da fonte”, explica Campos-Arceiz.

Apesar de sua importância ecológica, elefantes asiáticos e africanos estão ameaçados. Enquanto que algumas poucas populações de elefantes africanos da savana ainda estão estáveis, Blake diz que todas as populações de elefantes africanos da floresta – os maiores animais frugívoros do mundo – estão em “rápido declínio por causa da caça ilegal”.

Elefantes asiáticos enfrentam pressões por causa da caça ilegal, além de conflitos entre humanos e elefantes e a perda de habitat. 

“O número de elefantes asiáticos está diminuindo rapidamente e hoje eles existem principalmente em populações pequenas e fragmentadas. Elefantes asiáticos perderam a maior parte – provavelmente mais de 95% – da extensão territorial que eles ocupavam historicamente. [...] Hoje em dia, um, a cada três elefantes asiáticos, é um animal de cativeiro”, explicou Campos-Arceiz, que diz que a prioridade na conservação de elefantes asiáticos é lidar com o aparecimento de conflitos entre humanos e elefantes. 

Blake diz que a situação econômica, educacional e social ficou tão pobre na África Central que talvez sejam necessárias medidas drásticas para que elefantes de floresta sobrevivam. 

“Receio que uma forte mentalidade não politicamente correta deve ser imposta em parques nacionais até que haja uma nova ordem mundial de avaliação do valor dos recursos naturais... simplesmente não há um incentivo financeiro ou outros benefícios para fazer com que as comunidades locais se interessem em conservar elefantes [...] mas o desafio é como fazer isso, com os constantemente decrescentes fundos e crescentes ameaças externas, que, a cada dia,  se aproximam mais das bordas de parques nacionais”, diz Blake, acrescentando que “um plano de uso da terra que respeite as necessidades de espécies que percorrem espaços muito amplos, como os elefantes, um forte reforço nas leis e estabilidade socioeconômica, política e ambiental estão entre as possíveis soluções, mas a África Central (assim como o resto do mundo) está bem longe de alcançar essas coisas”.

Blake acredita que a difícil situação do elefante dispersor de sementes é, de alguma forma, emblemática de problemas mais amplos do planeta, como  conservação, meio ambiente, consumo, e até mesmo de problemas filosóficos.

Elefante asiático macho na água, em Bundula National Park, Sri Lanka.
Foto por: Ahimsa Campos-Arceiz.

“Precisamos gerar ideais maiores na população, que vão além do próximo carro e de uma grande casa como objetivo de vida... precisamos fazer com que pessoas pensem na conexão entre a compra de um produto barato e a razão pela qual ele é barato”, diz Blake. 
“Elefantes são simplesmente mais um recurso natural que envolve, por um lado, a ganância humana, e, por outro, a necessidade humana. De alguma forma, nós precisamos que as pessoas se refamiliarizem com a natureza, ou elas não terão a menor ideia da interrelação entre causa e efeito. Essa mudança filosófica será tarde demais para os elefantes, isso se ela realmente acontecer, e, com a estimativa de 9 bilhões de pessoas no mundo daqui a pouco, o tsunami vai simplesmente varrer as últimas nobres áreas selvagens e levar, no processo, seus recursos naturais, elefantes e todo o resto.”

E se Blake estiver certo, e os elefantes desaparecerem de vez das florestas que um dia eles dominaram?

“No geral, nós podemos esperar uma perda de biodiversidade e uma simplificação da estrutura e da função da floresta”, explicou sucintamente Campos-Arceiz. E, então, o jardineiro terá abandonado seu pedaço de terra, deixando-o exposto para uma crescente monocultura de ervas daninhas.  

Continuação: O mais incrível horticultor do mundo - uma entrevista com Stephan Blake e Ahimsa Campos-Arceiz.


quinta-feira, 21 de março de 2013

86 elefantes mortos em massacre por caçadores ilegais no Chade

Caçadores armados, em busca de marfim, mataram 86 elefantes em menos de uma semana, incluindo fêmeas grávidas e filhotes.





Cerca de 650 elefantes foram mortos no Parque Nacional de Bouba N’Djida, em Fevereiro de 2012. Fotografia: Anônimo/AP

Caçadores no sudeste do Chade mataram pelo menos 86 elefantes, incluindo 33 fêmeas grávidas, em menos de uma semana, num golpe potencialmente devastador para uma das últimas populações remanescentes de elefantes da África Central.


Grupos de elefantes seguem rotas migratórias tradicionais durante a época da seca, desde a República Centro-Africana, através do Chade, em direção a Camarões. Estima-se que 150 mil elefantes habitavam a região há trinta anos. Hoje, a quantidade pode ser tão pequena como 2 mil.


De acordo com a IFAW (International Fund for Animal Welfare), os elefantes foram mortos perto de Fianga, próximo da fronteira entre o Chade e Camarões, e suas presas, arrancadas. Fianga é perto de uma área transfronteiriça do parque – Sene Oura, no Chade, e Bouba N'Djida, em Camarões –, onde muitos elefantes passam a época das secas antes que as chuvas comecem, em abril. Acredita-se que os animais tenham sido mortos por caçadores sudaneses e chadienses, viajando a cavalo, munidos de fuzis AK47 para matá-los e serrotes para remover suas presas. 


"Os caçadores mataram fêmeas grávidas e todos os filhotes", disse Celine Sissler-Bienvenu, da IFAW. "Mesmo se as condições fossem boas, o que não são, levaria mais de 20 anos para essa população se recuperar."


A organização SOS Elephants, com base no Chade, reportou, no final do ano passado, que centenas de elefantes tinham se movido para o Chade, numa tentativa de fugir da matança no parque Nacional de Bouba N'Djida, onde 650 elefantes foram mortos em questão de dias, em Fevereiro de 2012.


A região da África Central tem sido palco de conflitos e governos ruins, e os esforços anti-caça anunciados pelo presidente do Chade, Idriss Déby Itno, incluindo a assinatura de um acordo com a IFAW para fornecer guardas em Sene Oura, mostraram poucos resultados.


Equipes anticaça são frequentemente mal equipadas e os guardas também são, eles mesmos, alvos dos caçadores. Dez foram mortos tentando proteger elefantes entre 2006 e 2009, no Parque Nacional de Zakouma, no sudeste do Chade. Conforme o conflito de Darfur se alastrou pela fronteira do Chade com o Sudão, cavaleiros cruzaram para Zakouma, matando cerca de 3.000 elefantes em três anos. A certa altura, três elefantes por dia, em média, estavam sendo mortos.


As gangues de caçadores estão em busca dos elefantes devido a seu marfim valioso, com objetivo de traficá-lo para os mercados chineses, através de portos no Sudão e na Nigéria. Jornais locais no Chade reportaram casos de chineses sendo pegos carregando marfim no aeroporto de N'Djamena, embora nenhum processo tenha sido aberto.


Saiba mais: Jogando uma luz intensa sobre o massacre dos elefantes africanos

O jornalista Bryan Christy, autor da reportagem "Culto ao Marfim", publicada na National Geographic, comenta o massacre em seu blog e publica um vídeo onde aparecem objetos de marfim e duas grandes presas expostas numa sala do palácio papal. 

Junte-se à nossa campanha de conservação e compartilhe as ilustrações nas redes sociais: Cada Presa Custa uma Vida. Não compre marfim.


Uma das imagens da campanha - Valores de Família. NÃO COMPRE MARFIM. Download de artes finais em diversas resoluções neste link, para qualquer objetivo não comercial, para reduzir o comércio de marfim e a matança de elefantes.


segunda-feira, 11 de março de 2013

Eslovênia proíbe o uso de animais selvagens em circos


Parlamento esloveno aprova emenda à Lei de Bem-Estar Animal, e o país se torna o quarto na União Europeia a colocar um fim à exploração de animais selvagens em circos


Elefantes asiáticos (Elephas maximus) aguardam a hora do espetáculo em um caminhão de circo, onde passam quase todo o seu tempo
(Foto: ©Four Paws/Fred Dott)

Na última sexta-feira, a Eslovênia deu um grande passo e estabeleceu um novo padrão para a proteção de animais no país. O Parlamento esloveno aprovou uma emenda à Lei de Bem-Estar Animal que proíbe o uso de animais selvagens em circos e em eventos similares e contempla também a proteção de animais ligados a outras atividades no país, como indústria de peles, laboratórios e frigoríficos, além de estabelecer um registro central para cães.

Além da Eslovênia, já proibiram o uso de animais em circos Holanda, Áustria, Bolívia, Bósnia-Herzegovina, Costa Rica, Croácia, Grécia, Israel, Paraguai, Peru e Cingapura. Na Alemanha, há forte pressão sobre o Ministério da Agricultura para que aprove uma lei similar. No Brasil, o Projeto de Lei 7.291, de 2006, aguarda votação no Plenário da Câmara dos Deputados. Leia mais sobre isso em "Holanda anuncia a proibição do uso de animais silvestres em circos".

Em circos, os elefantes, seres altamente sociáveis e inteligentes cuja saúde física e mental depende essencialmente da constante movimentação de seus grandes corpos e de desafios intelectuais, vivem confinados e acorrentados, durante toda a vida, e são forçados a realizar truques tolos e inadequados a seus organismos.

O uso de animais em circos tem sido objeto de críticas no mundo todo. Já foram amplamente documentados maus-tratos brutais aos animais, incluindo  confinamento perpétuo em jaulas apertadas, transporte inadequado por longas distâncias, sofrimento contínuo, surras. É comum que os animais sofram surtos e firam ou matem seus tratadores, colocando também em risco o próprio público dos espetáculos. 

Elefantes são seres extremamente adaptáveis e, quando resgatados e enviados a santuários de vida selvagem, onde podem viver na natureza e na companhia de outros elefantes, sua recuperação é extraordinária. Saiba mais em  "A nova vida de Lucky".

Lucky, resgatada de um circo, em sua nova vida no santuário ENP,
na Tailândia (Foto: © Lek Chailert) 
 

Leia o estudo da ElephantVoices sobre elefantes em cativeiro e na natureza "Mente e Movimento - Indo ao Encontro dos Interesses dos Elefantes", escrito por Joyce Poole e Petter Granli, da ElephantVoices.

domingo, 10 de março de 2013

Little Fellow, o pequeno companheiro que nada sabia sobre a CITES

A conexão entre o que aconteceu com Little Fellow no Maasai Mara e decisões tomadas na CoP 16 da CITES, ocorrendo agora em Bangcoc, DEVERIA estar clara. Essa conexão é o tema do texto publicado por Joyce Poole e Petter Granli no blog da National Geographic, "Uma Voz para os Elefantes", que reproduzimos abaixo. A economia do Quênia (através do turismo) e sua estabilidade estão intimamente ligadas ao comércio de marfim e ao futuro dos elefantes. Todos queremos e precisamos da paz: os elefantes e suas famílias também, desesperadamente. 


Little Fellow (Pequeno Companheiro) era um lindo e jovem macho. (Foto: Joyce Poole/ElephantVoices)
 
Em 22 de fevereiro, passamos algumas horas com um elefante adolescente chamado Little Fellow (Pequeno Companheiro), em uma reserva fora da Reserva Nacional de Maasai Mara, no Quênia.


Little Fellow era um macho jovem muito bonito, com presas oblíquas e lóbulos de orelha que se curvavam para fora. Estimamos que ele tivesse seus 16 anos de vida, tendo acabado de atingir a puberdade.


Mas Little Fellow não viveria muito para poder passar seus genes para a próxima geração. 


Por um período de seis semanas, foi tratado diversas vezes por um veterinário do Kenya Wildlife Service por causa de uma ferida ocasionada por uma lança. Os “bips” do detector de metais indicaram que parte da ponta de metal da lança ainda estava acomodada em sua perna da frente. 


Sua perna machucada tinha o dobro do tamanho que deveria ter. Apenas de olhar para ela, sabíamos que ele não conseguiria se recuperar, a despeito dos esforços do heroico veterinário e da vigília daqueles que vieram confortá-lo, tanto humanos quanto elefantes.
O pus transbordava pela ferida aberta. A septicemia havia se estabelecido, e a infecção se espalhava por seu corpo.


Exausto, Little Fellow descansava sua cabeça na forquilha de uma árvore para poder aliviar um pouco do peso de seu corpo, especialmente sobre sua perna frontal direita. Sua perna infeccionada estava inchando em proporções gigantescas.



Exausto, Little Fellow descansava sua cabeça na forquilha de uma árvore para poder aliviar um pouco do peso de seu corpo, especialmente sobre sua perna frontal direita. (Foto: Petter Granli/ElephantVoices).
Sua perna infeccionada estava inchando em proporções gigantescas. (Foto: Petter Granli/ElephantVoices)
Little Fellow já não podia andar. Com um esforço tremendo, podia juntar forças para dar um tipo de pulo, arrastando sua enorme perna com ele. Descansava com frequência, com sua tromba enrolada numa árvore, buscando alívio momentâneo para seu sofrimento.

Ele sabia que não poderia se deitar novamente — ele havia entendido isso quando, durante seu tratamento, precisou da ajuda de um veículo com cordas para se levantar. 


A despeito da exaustão e da agonia, Little Fellow estava lutando por sua vida com dignidade e propósito, mantendo-se próximo da água e de um bom pasto, numa área sombreada, a apenas alguns metros de distância da residência do gerente da Reserva. 


Ele não era o primeiro macho que vinha até ali para morrer, já sabíamos disso. Lekuta, um elefante maduro atingido duas vezes por flechas e tratado diversas vezes por causa de suas feridas, também tinha vindo morrer ali, pertinho da casa do gerente. Seus ossos estavam espalhados ali perto, e os excrementos de elefantes à sua volta indicavam que não havia sido esquecido. 


Na segunda-feira, 25 de Fevereiro, Little Fellow faleceu. Como Lekuta, não será esquecido pelas pessoas e pelos elefantes que cuidaram dele.



Assista: Little Fellow, jovem elefante de Maasai Mara morto por flechadas de caçadores em Fevereiro de 2013. 

A Urgência é Real

Nascido no final da década de 1990, Little Fellow entrou em um mundo que era bastante seguro para os elefantes. Mas, hoje, certamente não é. A matança corrente está ameaçando a sobrevivência da espécie e do turismo, as economias e a estabilidade em diversos países africanos.


Little Fellow nada sabia sobre a CoP 16 da CITES, o encontro que está ocorrendo agora em Bangcoc, na Tailândia. Nada sabia também sobre os muitos documentos, argumentos e palavras que os participantes e especialistas da CITES haviam dedicado aos elefantes.


CITES é a organização cuja função é assegurar que as espécies não sejam ameaçadas pelo comércio internacional. É o único instrumento que o mundo tem para estabelecer limites à exploração de espécies e decidir, com base em ações globais, quando uma delas está sob cerco cerrado.


As delegações da CITES nada sabem sobre Little Fellow. Mas sabem sobre os chocantes números de, no mínimo, 25 mil elefantes mortos anualmente, no decorrer dos últimos anos, por causa de suas presas.


Com base no que sabemos e no que escutamos, os números atuais podem ser tão elevados como 50 mil. Isso é cerca de dez por cento de todos os elefantes remanescentes na África — uma terrível e aterrorizante redução em apenas um único ano.
Acreditamos que as vendas isoladas de marfim aprovadas pela CITES para a China e o Japão contribuíram para a atual matança de elefantes, estimulando um brutal aumento da demanda por marfim. 


Podemos apenas esperar que Little Fellow não tenha morrido em vão e que, desta vez, a CITES e os países que dela fazem parte coloquem os elefantes acima do comércio e do lucro, para que seja possível reduzir essa matança.


Não estamos em Bangcoc. Mas do Quênia, estamos acompanhando de perto os confrontos da CITES nessa crise em curso. A Primeira-Ministra da Tailândia, Yingluck Shinawatra, deu o tom certo na abertura da CoP16 no domingo, 3 de Março, ao prometer proibir o comércio interno de marfim no país. Esperamos que tenha inspirado líderes de outros países também. Se uma ação similar for tomada pela China, a vida de milhares de elefantes pode ser salva.


Desejamos a todas as delegações uma conferência de sucesso, e pedimos que seja permitido que a prevaleça a ciência, e não a política, ou o comércio.

NOTÍCIAS direto da CoP16 da CITES, Bangcoc

No dia 7 de Março/2013, soubemos, através do jornalista Bryan Christy, autor da reportagem “Culto ao Marfim”, publicada na National Geographic de Out/2012, que um documento importante está circulando na convenção. 


Nele, o Presidente anterior do Comitê Permanente da CITES declara abertamente que a “experiência” de vendas isoladas de estoques de marfim apreendido “obviamente falhou” e que o comércio de marfim, incluindo todos os mercados domésticos, tem que ser proibido com urgência. Isto é exatamente o que temos argumentado junto à CITES por muitos anos. Agradecemos a Robert Hepworth pela coragem de apresentar essa honesta carta. Será que finalmente a CITES irá agir de modo conjunto e fazer seu trabalho?

Documento em circulação na CITES declara abertamente que a “experiência” de vendas isoladas de estoques de marfim apreendido “obviamente falhou” e que o comércio de marfim, incluindo todos os mercados domésticos, tem que ser proibido com urgência. (Foto: Bryan Christy)

Saiba mais: leia, no Blog do Planeta, da Revista Época, "O novo ouro branco e a extinção dos elefantes africanos", um artigo da ElephantVoices Brasil.


"O novo ouro branco e a extinção dos elefantes africanos", um artigo da ElephantVoices Brasil.
Leia o texto original da ElephantVoices no Blog da National Geographic, "Uma Voz para os Elefantes".

Junte-se à nossa campanha pelo fim do comércio de marfim, Cada Presa Custa uma Vida,  neste link.



terça-feira, 5 de março de 2013

Atualização sobre Shankar – O pobre e solitário Elefante Africano no zoológico de Nova Délhi


A situação de Shankar, o solitário Elefante Africano do Zimbábue no zoo de Nova Délhi, continua deixando os apaixonados pela vida selvagem e os ativistas pelos direitos e bem-estar dos animais perplexos e aturdidos nacional e internacionalmente. Três anos depois de destacarmos sua situação precária na página da ElephantVoices, Shankar ainda está acorrentado, apanha e não tem nenhuma companhia de outro membro da própria espécie. A melhor opção seria o governo indiano enviar Shankar a um refúgio de animais selvagens na África, de preferência no Quênia, onde ele poderia viver com membros da mesma espécie. Para conseguirmos isso, deve haver um modo de superar a glória ligada a seu status, por ter sido um presente diplomático. 


No zoo de Nova Délhi, Shankar passa a maior parte de sua vida acorrentado e apanha com frequência (notem sua grande cicatriz na testa). Shankar foi dado em 1998 pelo Zimbábue ao Governo na Índia, com seu par. Hoje, ele tem aproximadamente 14 anos de idade; sua companheira morreu poucos anos depois do embarque. Foto: cortesia de Nina Kanderian, da Wildlife Conservation Society Afghanistan.

A situação de Shankar demonstra o estado sórdido dos Elefantes Africanos que estão em cativeiro na Índia, com mais dois animais em condições deploráveis no Zoo de Mysore, além de outros exemplos repugnantes, declara Shubhobroto Ghosh, autor do The Indian Zoo Inquiry. Numa sinopse, Ghosh descreve a sina dos Elefantes Africanos nos zoos indianos e, em particular, de um par do Zimbábue que foi dado como presente diplomático, em 1998, ao presidente da Índia. Pedimos a todos os amigos do Zimbábue que façam o que for possível para convencer o Governo de que o que estão fazendo é um desserviço também para seu setor de turismo e seu povo.

Na sinopse, Ghosh pede a todos os países que têm elefantes Africanos e Asiáticos que os mantenham no lugar a que pertencem - a natureza. No final de 2009, a Índia deu um passo brilhante ao proibir elefantes Asiáticos em zoos - e foi aplaudida pelo mundo todo.

Elefantes de zoos são privados de suas necessidades básicas

O Dr. Sunil Srivastava, médico veterinário com 25 anos de experiência e representante de Nova Délhi na organização internacional de direitos dos animais Animal Equality, afirma: “Na natureza, os elefantes têm suas regras e tarefas para preencherem suas vidas. O comportamento natural exercido por eles provê a necessária estimulação física e mental.  No entanto, os elefantes dos zoos são privados de suas necessidades básicas, e Shankar não é uma exceção. Quando estava no início de minha carreira e trabalhei como voluntário no zoo de Nova Délhi, notei ferimentos profundos nos tornozelos dos elefantes, como um resultado de seu esforço para se livrar das correntes. Um dos tratadores do zoo de Nova Délhi acredita que os elefantes devem ser acorrentados no perído de seu frenesi sexual”. 

Amruta Ubale, da Animal Equality, acrescenta: “Numa atividade informal no zoo, perguntamos a visitantes leigos sobre comportamentos esteriotipados em elefantes, como o sacudir ou o balançar da cabeça etc. A resposta comum que recebemos foi que os elefantes parecem felizes e que estão dançando”. 

Elefantes Asiático e Africano no zoo de Nova Délhi. Apesar da proibição (de 2009) da manutenção de Elefantes Asiáticos em zoos na Índia, apenas alguns Elefantes Asiáticos tiveram a sorte de já terem sido enviados a parques nacionais; muitos ainda aguardam nos zoos. Mas Shankar e os outros Elefantes Africanos na Índia não são considerados por essa lei e continuam numa situação deplorável. Foto por Basav Bhattacharya, 
tirada em 10 de Novembro de 2012.

A horrível prática de exportar bebês elefantes

Enquanto isso, o Zimbábue continua nas manchetes dos jornais, pelas razões erradas. Seu recente envio de quatro bebês elefantes à China mostra que o bem-estar dos elefantes não está em sua pauta. Um deles já morreu. Está previsto o embarque de mais quatorze elefantes, dependentes de leite materno, para breve. Assim como em 2010, o Zimbábue mostra pouca preocupação com as trágicas consequências dessa horrorosa prática. Muitos países aparentemente expressaram interesse na importação de mais elefantes do Zimbábue. Podemos esperar apenas que sólidos argumentos, compaixão e decência prevaleçam, mas não estamos tão otimistas.

Os documentos de autoria de Shubhobroto Ghosh mencionados neste artigo estão disponíveis aqui para download:  The Indian Zoo Inquiry(1.14 MB) e a Sinopse (1.36 MB).

Leia mais sobre elefantes em cativeiro e na natureza em "Mente e Movimento - Indo ao Encontro dos Interesses dos Elefantes", escrito por Joyce Poole e Petter Granli, da ElephantVoices.