terça-feira, 30 de julho de 2013

Costa Rica se livra de seus zoos, favorecendo a consciência ambiental natural

A Costa Rica dá um grande passo com a decisão de transformar seus zoos em jardins botânicos e libertar seus animais. Esperamos que outros governos progressistas sigam seu exemplo.  

The Costa Rica News (TCRN)
Publicado em 28 de Julho de 2013 

Onça pintada (Panthera onca), o maior felino das américas, em seu recinto em zoo da Costa Rica (TCRN).

Depois de quase 95 anos, o governo da Costa Rica decidiu colocar um fim à exibição de animais enjaulados em zoos.

O Zoológico Simon Bolivar foi criado por decreto em 1919 e abriu no coração da capital em 1921. Desde então, gerações de famílias visitaram a Costa Rica e seu zoo para ver animais selvagens locais, como onças ameaçadas de extinção e outras espécies, como leões.

Depois de décadas de operação e visitação extensiva, o Ministério do Meio Ambiente e Energia (MINAE) afirmou que a Costa Rica tem observado uma mudança na consciência ambiental e que a ideia de zoológicos com animais em jaulas expirou. 

“O MINAE tem a responsabilidade de responder ao crescimento da consciência ambiental dos costarriquenhos, que não querem mais ver animais em jaulas. É uma velha ideia, que não combina mais com os costarriquenhos”, afirmou o Ministro do Meio Ambiente, Rene Castro.

Cerca de 400 animais de 71 espécies de pássaros, peixes, anfíbios, répteis e mamíferos que habitam o Zoo Simon Bolivar serão levados a centros de resgate em maio do próximo ano, e os nativos serão soltos na natureza.

O zoo, que é administrado há 20 anos pela Fundação Fundazoo, será transformado em um parque botânico, que também terá, como objetivos, pesquisas científicas e educação.

O governo também está trabalhando junto à comunidade para determinar o que será criado no local do Centro de Conservação de Santa Ana, outro zoo operado pela mesma fundação e que tem 52 hectares (será mantida sua classificação de Parque Natural Urbano).

A Costa Rica, reconhecida internacionalmente por suas políticas de conservação ambiental, é um país pequeno, de 4,5 milhões de habitantes e lar de mais de 5% da biodiversidade do planeta. Suas florestas cobrem 52,3% de seu território, do qual 30% permanecem protegidos na forma de Parques Nacionais e Reservas.


Link para o texto original. 

Leia também: "Mente e Movimento: Indo ao Econtro dos Interesses dos Elefantes", de Joyce Poole e Petter Granli, e entenda os motivos pelos quais os zoológicos são lamentavelmente inadequados para abrigar elefantes.

Tradução, revisão e edição: João Paiva, Teca Franco, Junia Machado.







sábado, 20 de julho de 2013

ElephantVoices conscientiza visitantes do Museu Histórico Nacional (RJ) sobre o comércio de marfim e a atual matança dos elefantes

Antes de visitarem exposição de arte sacra que inclui grande acervo de imagens religiosas de marfim, visitantes são informados sobre como o crescente comércio de marfim está ameaçando a sobrevivência dos elefantes. Na próxima semana, a exposição receberá também o público da Jornada da Juventude.


A recepção do museu e os materiais da campanha “Cada Presa Custa uma Vida” 
(Foto: Maria Cristina Mullins)

Quando os visitantes chegam à recepção do Museu Histórico Nacional, no Rio de Janeiro, para visitar a exposição “A Arte a Serviço da Fé – Tesouros do Museu Histórico Nacional”, além de se depararem com o belo painel em tons de púrpura e dourado que anuncia a exposição de arte sacra, têm acesso a peças informativas da ElephantVoices sobre o comércio de marfim e como ele está colocando em risco a sobrevivência dos elefantes. 

São três banners: dois com texto informativo, em inglês e português, e um com a imagem “Valores de Família”, desenvolvida pela nova-iorquina Asher Jay e que faz parte da campanha mundial da ElephantVoices “Cada Presa Custa uma Vida”, lançada no início deste ano e dirigida a todas as pessoas que fazem parte da cadeia do marfim – desde os caçadores até os compradores finais, em diversos países.

A exposição, que estará em cartaz até meados de agosto, inclui um grande acervo de imagens religiosas de marfim de propriedade do museu, datadas do século XVIII. 

A ação da ElephantVoices Brasil foi aprovada pela Diretoria e pelo Setor de Comunicação do museu, que concordaram sobre a importância da conscientização do público da exposição quanto à atual ameaça do crescente comércio de marfim à sobrevivência das três espécies de elefantes. 

Desde os primeiros contatos da ElephantVoices Brasil com o Museu Histórico Nacional, através de sua diretora Vera Tostes, ficou clara a disposição do museu em aproveitar o momento para uma conscientização a respeito da preservação dos elefantes. Maria Cristina Mullins, da equipe da ElephantVoices Brasil do Rio de Janeiro, e Laudessi Torquato, da Assessoria de Comunicação do Museu Histórico Nacional, reuniram-se pela primeira vez em abril, por ocasião da abertura da exposição, para discutir o desenvolvimento de um trabalho educativo que não desmerecesse a importância da coleção do museu enquanto arte e registro histórico, e que, ao mesmo tempo, desse visibilidade à direta relação entre a atual produção e venda de imagens de marfim e o extermínio das espécies de elefantes. 

Banner com imagem criada pela artista nova-iorquina Asher Jay, exposto na entrada da exposição “A Arte a Serviço da Fé”, no Museu Histórico Nacional

Numa época em que o mundo todo volta sua atenção para o fato de que os elefantes africanos estão sendo rapidamente exterminados em quantidades jamais vistas, o Museu Histórico Nacional dá um passo importante ao esclarecer ao público que a exposição de imagens de marfim representa a arte do passado e que não pode servir de exemplo ou incentivo para que seus visitantes adquiram peças similares. 

Esperamos que essa atitude sirva de exemplo para outras entidades no Brasil e no mundo preocupadas com meio ambiente e conservação, estejam elas relacionadas diretamente ou não a objetos de marfim, pois a preservação dos elefantes pede ação urgente de cada um de nós. 

Banner produzido em duas versões – português e inglês –  exposto na entrada da exposição “A Arte a Serviço da Fé”, no Museu Histórico Nacional, que receberá participantes da Jornada da Juventude.

O gradual desaparecimento dos elefantes africanos.

Um mapa interativo da National Geographic sobre a caça predatória por marfim.

Matar elefantes por causa do seu marfim está devastando uma espécie que já está perdendo terreno para uma crescente população humana.

A população de elefantes e sua distribuição na África diminuíram drasticamente desde 1979, em grande parte devido à caça predatória por marfim. Em 1979, estima-se que havia 1,3 milhão de elefantes no continente, distribuídos amplamente por diversos países. Em 2007, seu número já havia sido reduzido para algo entre 472 mil e 690 mil. 

Acesse aqui o mapa interativo.
A caça predatória por marfim tem eliminado com rapidez populações inteiras de elefantes que, hoje, vivem fragmentadas pelo continente. Apenas em 2012, estima-se que tenham sido mortos mais de 40 mil elefantes no continente africano (ou seja, cerca de dez por cento ou mais das populações remanescentes), para abastecer o comércio de imagens religiosas e objetos de marfim no mundo todo. 

O jornalista Bryan Christy escreveu uma impactante reportagem para a National Geographic, “Culto ao Marfim”, em outubro de 2012, em que revelava como as presas dos elefantes africanos, ainda ensanguentadas, chegavam por contrabando aos portos asiáticos e se transformavam em valiosas peças de marfim, para suprir lojas não somente na Ásia, mas em muitos países. 

Hoje, estima-se que haja menos de 400 mil elefantes na África. 






sexta-feira, 19 de julho de 2013

Adriana Barra e os jardineiros das florestas da Ásia e da África

Estilista e designer brasileira engaja-se em campanha mundial pela conservação dos elefantes, os maiores horticultores de nosso planeta.


Elefantes emergem de uma paisagem tropical, ladeados por animais e plantas que parecem reverenciá-los. Nas estampas criadas por Adriana Barra, inspiradas na conservação dos jardineiros de nosso planeta, as espécies convivem em harmonia e a biodiversidade é generosa.

Nos diversos países da África e da Ásia habitados pelos maiores mamíferos terrestres de nosso planeta, porém, a realidade é outra. A disputa com os seres humanos por espaço e recursos naturais, o tráfico de filhotes de elefantes asiáticos para uso em atividades turísticas e a caça predatória para abastecer a crescente demanda por objetos de marfim estão ameaçando a sobrevivência das três espécies de elefantes e colocando em risco tanto a biodiversidade das florestas tropicais como a economia e a estabilidade dos  países onde vivem.

“Elefantes são seres extraordinários e muito importantes para a biodiversidade, mas, infelizmente, sua sobrevivência está ameaçada”, afirma Adriana Barra. “É preciso uma conscientização de todos os povos, para que o consumo de marfim acabe o quanto antes não somente na Ásia, mas no mundo todo. Não podemos permitir que o atual massacre de elefantes continue e que tanto suas populações, como as paisagens onde vivem, desapareçam”. 

Os elefantes têm propriedades ecológicas únicas e, por isso, são considerados os megajardineiros de nosso planeta. Ingerem grandes quantidades de sementes, de inúmeras espécies, e as dispersam através de longas distâncias, mantendo-as preservadas durante o processo de digestão e envolvendo-as em ricos nutrientes ao dispensá-las. As novas árvores mantêm a saúde da floresta e contribuem para um ar limpo, importante para todos os seres do planeta. Os elefantes abrem uma rede de trilhas que são usadas por outros animais e clareiras importantes e ricas em nutrientes, usadas para a alimentação de diversos animais, inclusive os gorilas. São insuperáveis nessas funções e vitais para as florestas tropicais, sendo, por isso, considerados os maiores horticultores de nosso planeta.


Assim, retratados como importantes e insubstituíveis jardineiros, é que os elefantes aparecem nas estampas de Adriana Barra. E as borboletas que os sobrevoam em profusão também são símbolo de um ecossistema saudável: a quantidade dessas pequenas criaturas, rápidas e sensíveis, num ecossistema é considerada pelos cientistas um indicador confiável da biodiversidade. 

“Conheci o trabalho da ElephantVoices no ano passado. Já tinha tido contato com elefantes e admirava bastante sua inteligência e sua essência carinhosa  e gentil. Foi inspirador saber mais sobre eles, conhecer os projetos que estão sendo desenvolvidos para sua conservação e também entender qual a sua importância na natureza. Decidi criar estampas em sua homenagem, e elas acabaram se tornando a base para o desenvolvimento de toda uma coleção, a United Kingdom of Tropicalia (lançada no verão 2012/2013). Agora, essas imagens poderão ser úteis para chamar a atenção do mundo todo sobre a importância de sua conservação”, afirma a estilista.

Das três espécies de elefantes, a mais frugívora (i.e., que se alimenta de frutas) é o elefante africano da floresta, cujo habitat são as florestas da África Central e Ocidental, seguida pelo elefante asiático e, depois, pelo elefante africano da savana. A mais ameaçada das três é, justamente, o elefante africano da floresta, por causa  de suas presas mais róseas, mais firmes e mais valorizadas pelos consumidores de marfim. Seu papel ecológico é crucial na vida das florestas onde vivem, locais de biodiversidade incrível e muito importantes para o planeta, por sua grande capacidade de absorção de carbono. Entretanto, essa espécie caminha rapidamente para a extinção: nos últimos anos, sua população declinou mais de 60%.

De acordo com Stephen Blake e Ahimsa Campos-Arceiz, coautores de um estudo sobre a distribuição de sementes pelos elefantes africanos e asiáticos, se eles  desaparecerem do ecossistema, podemos esperar mais do que a perda de espécies-chave da África, mas também uma grande perda da biodiversidade e uma simplificação da estrutura e da função das florestas. Em suma, seria como se os jardineiros abandonassem seus canteiros, deixando-os para uma monocultura de ervas daninhas em expansão.

O crescente consumo de objetos feitos com marfim a partir de presas contrabandeadas das duas espécies de elefantes africanos para a Ásia foi a causa do extermínio de 40 mil a 50 mil elefantes em 2012, segundo Petter Granli e Joyce Poole, diretores da ElephantVoices. Isso equivale a mais de 10% de sua população total na África. A situação exige medidas urgentes em toda a cadeia do comércio de marfim, desde a caça até o consumo do produto final, no mundo todo.  

Adriana Barra


O destino foi decisivo para que a designer Adriana Barra criasse seu Universo. Um mundo colorido, onde a liberdade prevalece. Seu talento, aliado ao estilo exclusivo de criação, a tornou uma das mais importantes designers do Brasil e referência de estilo, qualidade e bom gosto, com uma estamparia incomparável. Apaixonada por Pantones, suas criações combinam formas e desenhos a listras e xadrezes. Com um conceito muito pessoal, ela acredita na liberdade, e sua moda é atemporal, com criações que não vêm da inspiração, mas surgem pela transpiração. Com a proposta de trazer de volta a feminilidade e o glamour da mulher de tempos atrás, Adriana Barra desenvolve criações customizadas de acordo com a mistura dos desejos de cada mulher e de sua própria criatividade.

Saiba mais sobre a importância dos elefantes para as florestas tropicais.

quarta-feira, 17 de julho de 2013

Elefantes são extraordinários

Tolstoy. (©ElephantVoices)

- Elefantes têm vida muito longa e exibem um alto grau de complexidade social. Sua rede social é excepcionalmente grande, irradiando-se a partir de sua família de sangue e abrangendo grupos, clãs, machos adultos independentes e até mesmo estranhos, com os quais formam laços. As relações sociais cooperativas, próximas e duradouras, que funcionam entre indivíduos e famílias dentro dessa sociedade fluida e de muitas camadas são raras no reino animal.

- Elefantes têm cérebros muito grandes e complexos. Com uma média de 4,8kg, o cérebro do elefante é o maior entre os mamíferos terrestres vivos ou extintos. Elefantes têm o maior volume de córtex cerebral disponível para o processo cognitivo, entre todos os mamíferos terrestres. O neocórtex , que em humanos é o local da função cognitiva melhorada,  como memória ativa, planejamento, orientação espacial, fala e linguagem, é grande e muito torcido.

- Elefantes têm uma memória excepcionalmente boa. Eles acumulam e retêm conhecimentos ecológicos e sociais, lembrando-se dos cheiros e das vozes de muitos outros indivíduos e lugares por décadas.


- Elefantes são capazes de fazer discriminações sutis entre predadores, até mesmo entre diferentes grupos de pessoas, mostrando que eles compreendem os diferentes níveis de ameaça que cada um apresenta.

- O comportamento dos elefantes, tanto na natureza quanto em cativeiro, sugere que eles são capazes de usar suas memórias de longo prazo para “contar pontos” e extrair vingança por erros cometidos.




- Elefantes conseguem diferenciar as ossadas de elefantes das de outros animais e respondem às ossadas de elefantes com uma contemplação especial.

- Seu desenvolvimento inclui aprendizagem social e inovação comportamental, manifestadas no uso e na modificação de ferramentas rudimentares e no aprendizado vocal.

- O autorreconhecimento no espelho sugere que elefantes têm consciência própria, e numerosas observações de empatia e outros comportamentos sugerem que os elefantes têm uma rudimentar teoria da mente (habilidade de atribuir estados mentais – crenças, desejos, intenções, conhecimentos etc. – para si próprios e para os outros e entender que os outros têm crenças, desejos e intenções diferentes dos seus).

- Elefantes são renomados por sua memória, inteligência e sociabilidade, e, assim como nos humanos, esses traços os tornam particularmente vulneráveis ao estresse e ao trauma e a  consequências psicológicas de longo prazo.

- Elefantes produzem uma ampla variedade de vocalizações, muitas contendo frequências abaixo da audição humana. Elefantes utilizam alguns desses chamados de baixa frequência para se comunicarem com outros elefantes através de longas distâncias.



"Elefantes podem usar suas habilidades de aprendizagem para desenvolverem vocalizações similares às de membros do grupo," afirma Joyce Poole, líder do estudo do Projeto de Pesquisa dos Elefantes do Amboseli, no Quênia. Leia reportagem da BBC.
 
- Elefantes também conseguem detectar a vocalização de outros companheiros sismicamente. Quando um elefante vocaliza, uma réplica exata desse sinal se propaga separadamente no solo. Elefantes são capazes de discriminar entre essas vocalizações através de seus sensíveis pés. Eles podem detectar tremores terrestres, trovões e batidas dos pés de animais distantes, da mesma maneira.

- Elefantes têm um extraordinário olfato, que dizem ser mais discriminatório do que o de um cão de caça.

- Enquanto muitas outras espécies podem rivalizar com os elefantes em uma capacidade ou outra, há apenas algumas que se igualam ou superam os elefantes na totalidade de sua complexidade social e comportamental.

- Elefantes são espécies fundamentais – eles têm um papel central na estrutura de comunidades animais e vegetais, contribuindo para a biodiversidade através da dispersão de sementes e da criação de mosaicos de habitats (áreas com múltiplos tipos de habitats, muito importantes para a criação e a manutenção da biodiversidade). 


- Eles são espécies -símbolo – em outras palavras, sendo os elefantes “megavertebrados tão carismáticos”, isso faz deles o símbolo da necessidade da conservação da vida selvagem e da natureza.


Encontro de mentes, elefante - homem. (©ElephantVoices)
- Elefantes são colaboradores significativos da receita em turismo em muitos países da África e da Ásia. Eles são parte substancial da nossa herança cultural e histórica e nos dão prazer de contemplação.

- Elefantes são valiosos por seus próprios méritos!


 Acesse aqui o texto original em inglês.

Tradução, revisão e edição: Laura Loureiro, João Paiva, Teca Franco, Junia Machado.

segunda-feira, 15 de julho de 2013

A Comunicação Visual dos Elefantes

Farejando de modo direcionado. (©ElephantVoices)

Durante anos, naturalistas escreveram sobre o comportamento dos elefantes, sem perceber que estavam contribuindo para iniciar a fundamentação do conhecimento sobre suas demonstrações. Muitas dessas fazem parte da linguagem popular. Por exemplo, pessoas falam sobre um elefante bravo “atacando”, “sacudindo suas orelhas”, “chutando poeira” ou “sacudindo sua tromba”. No curso das pesquisas, os etologistas especializados em elefantes também escreveram sobre demonstrações específicas, usando expressões como “o andar no período de frenesi sexual”, “ficar de pé”, “atitude de permanecer de frente e a certa distância” ou “enrodilhar a tromba”, para nomear algumas. No entanto, até recentemente, ninguém havia tentado descrever sistematicamente essas demonstrações, sinais e gestos dos elefantes.

Tudo o que nós e os outros sabemos 

Em 1991, Phil Kahl e Billie Armstrong foram para o Zimbábue para fazer exatamente isso. Atualmente, estão pesquisando meticulosamente centenas de horas de gravações e milhares de fotografias para produzir um etograma detalhado do elefante africano. Quando for publicado, este etograma será a descrição mais compreensível dos sinais dos elefantes africanos.


Batendo as orelhas rapidamente. (©ElephantVoices)

Enquanto isso, juntamos tudo o que sabemos sobre as demonstrações e os gestos dos elefantes do trabalho acumulado durante o Projeto de Pesquisa  dos Elefantes do Amboseli. A esse conhecimento, acrescentamos demonstrações mencionadas em trabalhos publicados por outros cientistas. Durante esse processo, trocamos informações e interpretações com Phil e Billie. Publicamos esse conjunto de trabalhos, em 2003, como a Biblioteca de Sinais Táteis. Desde então, temos atualizado nosso trabalho para assinar um capítulo intitulado “Sinais, gestos e comportamentos dos elefantes africanos”, do livro “Os Elefantes do Amboseli: uma Perspectiva de Longo Termo sobre um Mamífero de Vida Longa” (The Amboseli Elephants: A Long-term Perspective on a Long-Lived Mammal), publicado em 2011. Nosso banco de dados atual inclui algumas mudanças baseadas nesse capítulo. 

Um número substancial de diferentes demonstrações 

Enquanto qualquer pessoa que tenha estudado o comportamento dos elefantes estará familiarizada com as demonstrações básicas, foi surpreendente, até mesmo para nós, a quantidade de gestos e demonstrações que os elefantes usam para se comunicarem uns com os outros. Dê uma olhada no Banco de Dados de Gestos da ElephantVoices, que contém dados, em sua maioria, acompanhados de imagens. Embora grande parte desses gestos e demonstrações sejam táteis (veja “Comunicação Tátil”), a maioria deles também envia uma mensagem visual. 

Então, como os elefantes mandam sinais visuais? A resposta, em sua forma mais simples, é: eles usam cabeça, olhos, boca, orelhas, tromba, presas, rabo, pés e até mesmo o corpo inteiro para sinalizar mensagens entre eles mesmos e para outras espécies. Por exemplo, uma elefanta ameaçadora ou dominante sinaliza seu estado parecendo maior, levantando a cabeça acima dos ombros e abrindo as orelhas, enquanto um elefante subordinado tem a cabeça baixa e as orelhas para trás. Uma elefanta assustada ou animada levanta o rabo e o queixo. Uma elefanta socialmente entusiasmada levanta e bate as orelhas rapidamente e arregala os olhos.


Abertura de orelhas. (©ElephantVoices)

Mas nós estaríamos prestando um desserviço no que diz respeito à complexidade da comunicação dos elefantes ao tentar resumir seus comportamentos visuais e gestos em alguns parágrafos. Recomendamos, em vez disso, que você tente pesquisar no banco de dados. Se você estiver interessado em comportamentos que envolvam as orelhas dos elefantes, por exemplo, é só pesquisar por “ears” (orelhas). Você irá encontrar quase uma dúzia de demonstrações listadas. Ou procure pela palavra “trunk” (tromba), e você também encontrará uma quantidade similar de resultados. Tente “sniff” (farejamento), “touch” (toque) ou “test” (experimento) e encontrará muitos outros. Ou, se você está interessado em como os elefantes demonstram agressividade, interesse sexual, interação brincalhona ou cuidado amigável, procure nos diferentes contextos.


Corrida desajeitada. (©ElephantVoices)

Visão 


Abertura de olhos de um elefante asiático. (©ElephantVoices)

Dizem que a visão dos elefantes é boa em luz suave, mas é consideravelmente reduzida na luz brilhante, quando alcança, no máximo, 46m. Por nossa experiência pessoal, no entanto, descobrimos que os elefantes são observadores muito seletivos, mostrando algumas vezes uma acuidade visual relativamente boa e, outras vezes, muito deficiente. Uma vez, quando Joyce estava observando um grupo de elefantes muito atentos, estacionou o veículo em uma estrada aberta, a dois quilômetros de onde eles estavam, e permitiu que andassem até ela. Eles se aproximaram menos de 15m, antes que pudessem vê-la e, então, fugiram assustados. 

Elefantes parecem enxergar silhuetas muito bem, mas não são tão bons em visualizar um objeto contra um fundo. No Amboseli, onde os elefantes estão habituados com os carros, mas ocasionalmente são mortos por pessoas a pé, eles ficam bastante alarmados quando avistam uma silhueta humana. No entanto, Joyce pode ficar a alguns metros de um grupo de elefantes, com o carro ao fundo, e, aparentemente,  eles não a veem. Isso não significa que eles não sabem que ela está fora do carro. Se nos deitarmos sob o carro, a posição das trombas dos elefantes, conforme eles passam pelo carro, indica claramente que eles sabem exatamente onde estamos! 


Abertura de olhos de um elefante africano. (©ElephantVoices)

Joyce também percebeu que os elefantes são sensíveis a movimentos e aparentam estar cientes sobre a maneira de as pessoas se moverem (e, presumivelmente, outros predadores). Andar em passo normal na frente de um grupo de elefantes irá atrair sua atenção imediatamente, e eles levantarão suas cabeças, alarmados. Mas Joyce pode passar por eles sem chamar a atenção, adotando uma postura abaixada e andando extremamente devagar, parando cada vez que seu movimento é percebido. 

Ao mesmo tempo em que parece que os elefantes não têm uma boa acuidade visual, eles enxergam claramente algumas coisas  que nós vemos com dificuldade! Por exemplo, quando um elefante ameaça outro seriamente, ele dobra para trás a parte de baixo de suas orelhas, criando o que se pode chamar de dobradura de orelha. Para os olhos humanos, essa postura é sutil e levou quase oito anos de observação no Amboseli para que a notássemos. Mas Joyce observou dois machos em frenesi sexual se encararem, com 50 metros entre eles. Cada vez que o macho dominante dobrava as orelhas, o macho subordinado olhava para baixo ou se afastava. O subordinado podia claramente ver o outro elefante dobrando as orelhas, enquanto Joyce teve dificuldade em ver a ameaça, da mesma distância, sem seus binóculos.


Link para o texto original.

Saiba mais sobre a comunicação dos elefantes acessando os seguintes links:

Tradução, revisão e edição: Carol Toledo, João Paiva, Teca Franco, Junia Machado.